segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O Adeus - microconto de Luli Facciolla

E lá estava ela, largada ao sofá, rosto lavado em lágrimas, peito dilacerado em dor.

Havia pensado em tudo: lingerie vermelha sob um vestido curto que permitia mostrar as pernas, comida pronta e levemente picante, vinho seco e gelado na medida e a meia luz dando o toque final àquele encontro romântico de despedida. Seria a última vez.

Ele entrara com um chute de arrebentar a porta. Sem palavras tomara do vinho aos goles ainda no gargalo, cuspira na comida e jogara, puxando a toalha, tudo ao chão.

A empurra pelas costas fazendo com que debruce sobre a mesa, arranca-lhe a calcinha com brutalidade. Come-lhe o cu e sai ainda ajeitando o membro, agora flácido, nas calças.

Havia pensado em tudo, mas não tinha braços e, portanto, não haveria de ter um último gesto, o gesto de adeus.
 
Luli é uma amiga que ganhei de presente do Monólogos na Madrugada. Temos tanta coisa em comum que as vezes escrevemos, no mesmo dia, coisas semelhantes em nossos blogs. Se já era uma delícia ter a companhia de Luli nas minhas madrugadas virtuais, foi melhor ainda conhecê-la pessoalmente, primeiro nas minhas apresentações depois numa farrinha boa que fizemos. Ela me prestigia desde Tempête e conheceu Odete e Judite. E me escreve coisas lindas. E agora está aqui me presenteando com este microconto surpreendente.
 
Visitem seu blog que tem coisas lindas: http://aindaconto.blogspot.com/

domingo, 29 de agosto de 2010

Entrevista com Dourival Junior



Pensando numa segunda-feira de muito trabalho, trânsito infernal em todos os horários, publico a entrevista de Junior que fala da intolerância, irritabilidade e estupidez daqueles que usam seus automóveis como armas.

Junior é uma das pessoas mais gentis que eu conheço, entrou para a nossa família, nos deu o maior presente de todos e foi um dos primeiros entrevistados para o projeto.

Ai Nego, tomara que seu pedido de tolerância seja ouvido por todos!

sábado, 28 de agosto de 2010

Minhas tuas cascas

não é o meu corpo apenas a casca (?) minhas cascas... uma banana! meu sorriso minha visão de mundo meus medos meus invólucros segunda pele um calo uma casca uma cápsula protetora* meus automóveis minhas janelas a porta do meu quarto meu lençol meus copos de caipirinha minha cadeira meu computador as televisões meus ídolos meus amigos minha arrogância minha estupidez meu café com leite as caspas meu suor meus óculos escuros cascas para os olhos as cuecas as calcinhas a camisinha a vagina o cu a boca as mãos em conchas as conchas o caracol a barata o caranguejo o jabuti os livros cascas das palavras os cabelos os revólveres minhas roupas meu guarda-roupa o guarda-chuva protetor solar meu all star minha bolsa carteira casca para o dinheiro o dinheiro a terra casca da raiz a mangatangerinalimãotamarindo....... meus cachorros bichos de estimação cascas da solidão minhas lágrimas meus gritos meus tapas meus abraços os beijos o amor casca

* trecho da música Esquadros de Adriana Calcanhoto
** Me interessa saber quais as suas cascas

Programação 1º Encontro de Dança Inclusiva. O que é isso?


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Escoliose - Minha coluna em S




As curvas da minha coluna sempre foram motivo de curiosidade e interesse para mim. Logo quando pensei no projeto O Corpo Perturbador, desejei utilizar minha coluna, aliás, lembro que desde Judite eu tive vontade de utilizar os movimentos das costas tortas e por isso usei a cadeira de rodas sem encosto, mas depois as coisas tomaram seu rumo e acabei não usando essa idéia. Tempos depois ela voltou inserida na proposta do Corpo e acho que será melhor explorada. Tudo no seu tempo de maturação.

Sempre leio o blog de Wagner Schwartz e em 2008 encontrei esse texto que me despertou a atenção:

Hubert Godard, comenta ter verificado em seu trabalho o quanto a torção das costas em pessoas que sofrem de escoliose, por exemplo, freqüentemente acontece antes em seu modo de perceber o espaço: é como se o corpo não pudesse projetar-se para um dos lados do mesmo. É isto que acaba provocando uma torção da própria coluna vertebral e de toda a musculatura dorsal que a envolve. (suely rolnik em "uma terapeutica para tempos desprovidos de poesia").


Organizamos o primeiro Papo Perturbador, no último dia 13, falando sobre a escoliose, tendo como convidada a fisioterapeuta Raynice Pereira que deu uma grande contribuição a pesquisa. Essas fotos de abertura do post foram selecionadas por ela.
 
Aqui, transcrevo algumas partes de sua palestra:
 
A escoliose é uma deformação morfológica da coluna vertebral nos três planos do espaço (Souchard e Ollier, 2001). Assim, a coluna realmente se torce, não somente para os lados, mas para frente e para trás e em volta do seu próprio eixo. Essa torção em maiores graus determina a gravidade da escoliose e a forma de ser tratada.
 
Classificação da escoliose quanto a forma da curva: curva simples, sendo esta à direita ou à esquerda (escoliose em C); Curva dupla (escoliose em S). Lembrando que a direção da curva é sempre identificada ela convexidade da coluna.
 
As causas da escoliose podem ser:
- Idiopática: causa desconhecida (70% dos casos)
- Neuromuscular: sequela de doenças neurológicas, como por exemplo poliomielite (meu caso), paralisia cerebral.
- Congênita: oriunda de uma má-formação
- Pós-traumática
 
O tratamento das escolioses baseia-se, dentre outros fatores, na idade, na flexibilidade, na gravidade da curva e na sua etiologia, compreendendo a correção das deformidades com tratamento conservador, que inclui fisioterapia e utilização de coletes, adaptação de palmilhas posturais que incrementam a eficácia e o tempo do tratamento (Podoposturologia) ou o tratamento cirúrgico (Tribastone, 2001).
 
 
 
Foto de Débora Motta
 
 

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Movimentocontrapartida

Terça-feira, 24 de Agosto de 2010


Queridos amigos,

Nesse último mês, recusei a pré-estreia de minha última criação, “Piranha”, no Fórum Internacional de Dança FID (Belo Horizonte) e Panorama Festival (Rio de Janeiro). Esses dois festivais fazem parte do Circuito Brasileiro de Festivais Internacionais de Dança (FID, Panorama Festival, Bienal do Ceará e Festival do Recife).

A ideia de recusar o convite foi devido ao cachê que ambos estavam oferecendo: R$ 2.500,00, por apresentação. Levantei a proposta de R$ 5.000,00, por apresentação. Aleguei que, se eu aceitasse as condições de trabalho oferecidas pelos festivais, elas iriam afetar, de forma depreciativa, as mesmas condições que não cabem no meu discurso enquanto artista. E acrescentei que não iria vender minha apresentação por um cachê que representa a insatisfação de muitos.

Como sou um dos contemplados com a bolsa Rumos Itaú Cultural Dança 2010, quem iria financiar a minha ida aos festivais seria o instituto. Nesse caso, eu poderia ter, ainda, um desconto de 26% sobre o valor indicado acima, ou caso eu conseguisse ser representado pelo Núcleo Corpo Rastreado (com o qual eu trabalho), o desconto na nota fiscal poderia chegar à 10%. Então, ou eu receberia um cachê em torno de R$ 1.850,00 ou, no mais possível, R$ 2.250,00 pela estreia/apresentação de meu trabalho. Quando questionei o porquê desse valor, foi me dada a resposta que ele foi determinado por uma "política de cachês do circuito", que essas seriam as "condições oferecidas pelos festivais" e que "5.000 reais por uma apresentação de solo no Brasil não existe".

Levado por uma vontade de problematizar esta situação, resolvi escrever para vocês uma outra história:

No início deste mês, em São Paulo, o Panorama SESI de Dança, com a curadoria de Christine Greiner e Gabi Gonçalves deu vida a uma proposta de pensamento de festivais um pouco diferenciada. Ao invés de levar em consideração as condições de funcionamento de um festival, ele optou por considerar as condições de trabalho e necessidades ideológicas dos artistas. O festival optou pela apresentação de repertórios e não somente por estreias (aumentando a durabilidade do pensamento artístico) e o cachê foi adequado e discutido em conjunto: O mínimo (para um solo) era R$ 5.000,00 (líquido). O festival contava com R$ 265.000,00 para sua produção.

Além das questões de utilização de materiais importantes como a discussão de curadoria em conjunto, Christine criou uma resenha para cada um dos trabalhos apresentados, através de entrevista com os artistas (repensando o lugar do ‘release’). As propostas de funcionamento do Panorama SESI de Dança se chocaram com esse local da institucionalização do pensamento artístico e se colocaram em um ambiente de observação: será que não seria esse o lugar possível de se executar uma experiência artística?

Dentro desses modelos existentes, vejo que cada qual opera do seu jeito, mas qual seria o modelo com o qual nós nos identificamos? E, se há alguma coisa para mudar nessa história, acredito que seja a nossa própria atitude. Pelo jeito, as coisas possíveis estão ao nosso alcance e precisamos entender que estamos ora nos vitimizando pela impotência e medo, ora nos deixando levar pela ideia de que algo possa mudar sem ação em conjunto.

Na realidade, o que gostaria com essa carta, é convidá-los a pensar em nossa política de cachês, em nossa forma de se fazer visível. Se existe uma possibilidade de transformação, ela não virá do que já se construiu enquanto potência, mas terá que ser objeto de um pensamento menos global e mais localizado, ou seja, feito por nós.

Prá isso, estou criando juntamente com Eduardo Bernardt e Maurício Leonard um site/blog http://www.movimentocontrapartida.com/ para aqueles que se sintam interessados por essa ação. Caso você queira participar, basta enviar uma mensagem para movimentocontrapartida@gmail.com que você se tornará colaborador do movimento. Desta forma, estaremos discutindo o que nos preocupa de forma que qualquer pessoa poderá ler e participar.

Relembrando que não é um desejo que nos debrucemos sobre o que já existe: os festivais e suas leis, mas que reavaliemos os sistemas de convívio que nós mesmo construímos. Se existe uma economia da dança, ela pode começar por aqui.

Com carinho,

Wagner Schwartz

sábado, 21 de agosto de 2010

O pé da Cinderela - Microconto devotee


Era final de balada n'A Loca da paulicéia desvairada. Corri pro Vegas com uma turma, mas acabei sozinho na boate porque estava com planos para a minha vida: um rapaz lindo, com seus olhos azuis e boca vermelha e carnuda. Roubou meu chapéu alemão sem se despedir de mim. Fui ao bar pegar a oitava Cuba e caçar outra boca para a minha insaciável. Avistei num sofazinho do canto um outro olhar fixo em mim e um sorriso que fingia timidez e conquista. Me aproximei também com meu sorriso de conquista. Ofereci a bebida e ele me bebeu.

Segurava com prazer as minhas pernas e tirou o meu sapato para sentir os meus pés pequenos em suas mãos. Já estávamos agora no quarto do hotel onde ele estava hospedado. Esfregava com volúpia meus pés no seu pau, seu peito, sua boca. Sentou-se na minha cadeira de rodas e me sentou no seu colo.

A noite acabou num dia lindo, ensolarado e eu com sorriso dourado olhando aquele povo que saía para o trabalho não me dei conta que estava apenas com o pé esquerdo do sapato. Uma cinderela sem saber sequer o nome dos príncipes ladrões.

* Resolvi escrever também um microconto devotee. Este é uma homenagem a São Paulo, a boate A Louca, Vegas e a tanta gente que passou por mim nesses lugares.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Microconto devotee II - Cleyton Cabral

Seus braços chegavam até depois dos cotovelos. Já seus abraços, percorriam o infinito pleno do meu ser. Eu gosto dos seus abraços. Gosto da suave música do teu corpo no meu. Dentro. Aqui dentro do meu coração. Nem parece que você é diferente. Você é tão igual. Você é tão meu. Você é tão. Você.


Esse é o segundo microconto escrito por Cleyton Cabral, amigo pernambucano, para alimentar minha pesquisa. Eu adoro e agradeço sempre. Foi por causa dele que pensei em pedir para outros amigos escreverem contos devotees.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Dona Detinha e Dona Maria Alice do Samba de Lata de Tijuaçu - entrevista O Corpo Perturbador



"Samba de lata, uma manifestação que virou patrimônio cultural e nasceu da labuta diária misturada com a alegria das mulheres negras. Uma lata basta para levar a muitas gerações a dança das matriarcas.

À sombra da barriguda, uma árvore nativa do sertão baiano, mulheres e crianças varrem o chão, molham a terra, num ritual que prepara a festa. O único instrumento: uma lata. O figurino caprichado e os adereços completam o visual das sambistas. Com pés no chão batido, apenas dois homens fazem parte do grupo e a música sai da palma da mão. Valdelice puxa o samba, acompanhando as batidas da lata. Essa é a mais forte expressão cultural de Tijuaçú, comunidade quilombola de senhor do Bonfim, no norte da Bahia, fundada em 1750.

Buscar água de lata na cabeça, a pé, percorrendo todos os dias 18 quilômetros. a rotina de crianças, mulheres e homens negros de Tijuaçú. para transformar o sacrifício da falta d´água em diversão, nasceu o samba de lata.

O samba de lata de Tijuaçú, único no Brasil, é patrimônio cultural reconhecido e multiplicado nessa comunidade de raízes negras. Valdelice puxa o samba. repete os versos que aprendeu com os avós. O resto do grupo se reveza no centro da roda. Para que as crianças aprendam cedo o valor da cultura negra, foi criado o 'latinha da mamãe', reproduzindo um movimento antigo, que também nasceu no quilombo.

Uma magia que atravessa gerações. Dona Julieta, ou melhor, Dona Menininha, como é chamada, aos oitenta e um anos, começou no samba aos dez, não consegue viver longe da roda.

Em Lage dos Negros, velhos costumes sobrevivem à evolução dos tempos e as parteiras ainda são autoridade no velho quilombo.

Fé e devoção aos orixás. A religião que veio da África é preservada pelos descendentes. Dos festejos das senzalas vêm a cantoria e as danças que atravessaram os séculos".

Fonte: http://ibahia.globo.com/redebahiarevista/materia.asp?modulo=2300&codigo=161524




Video de apresentação do Samba de Lata

domingo, 15 de agosto de 2010

Apoio para o 1º Encontro de Dança Inclusiva. O que é isso?



Peço a atenção de vocês para falar um pouco sobre um evento de grande importância na área da Dança e principalmente da Dança Inclusiva que estou organizando junto ao Grupo X de Improvisação em Dança, o 1º Encontro de Dança Inclusiva. O que é isso? e acontecerá de 08 a 12 de Setembro, no Espaço Xisto Bahia e em outros ambientes da Biblioteca Pública Central dos Barris. Quem tiver interesse em ler até o final deste post saberá que o evento conta com uma vasta programação e inúmeros convidados da Bahia e também de outros estados brasileiros. Conseguimos dois apoios significativos da FUNCEB através do Espaço Xisto Bahia e do Calendário de Apoio e outro da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos através da CORDEF, mas estes apoios não são suficientes para suprir todas as nossas necessidades e o empresariado baiano não se mostra disponível a nos ouvir quanto mais a apoiar. Peço a essa rede de e-amigos que conquistei ao longo desse tempo que me ajude a encontrar alguma saída ou me colocar em contato com algum possível parceiro para que possamos finalizar a parte de captação para alimentação, tradução em audiodescrição e LIBRAS, translado e se possível pagamento do pessoal que está trabalhando voluntariamente (porque não tem jeito).

O Encontro é uma reunião de artistas com e sem deficiência, pesquisadores em dança, profissionais na área de comunicação, educação, psicologia e produção para promover um debate interdisciplinar sobre a participação efetiva das pessoas com deficiência no processo de inclusão social tão divulgada e difundida nos últimos tempos, sobretudo no campo artístico da dança. As discussões giram em torno de acessibilidade, profissionalização e inserção no mercado de trabalho de artistas/dançarinos com deficiência que não tiveram acesso a informação e formação em dança seja nos ambientes acadêmicos e espaços formais de ensino de dança.

A pergunta "A dança é da deficiência ou do deficiente?" estará mediando as reflexões para analisar, no contexto contemporâneo, que estratégias de sobrevivência são engendradas por grupos e/ou dançarinos com deficiência, para acesso ao mercado de trabalho e ao campo artístico.

A programação conta com oficinas, debates, cirandões, performances, espetáculos, exposição de fotos de Alessandra Nohvais, banner, relatos de experiência, publicação de artigos na Revista da FACED e projeção de videos na Sala Alexandre Robato.

O evento promoverá três mesas de debates com os seguintes temas:
Mesa 01: A mídia, as políticas públicas e a produção inclusiva.
Mesa 02- A formação do artista com deficiência.
Mesa 03: Dança Inclusiva. O que é isso?

Teremos palestrantes da maior importância no cenário brasileiro: Carolina Teixeira, Helena Katz, Angel Vianna, Paulo Braz, Lucia Matos, Neca Zarvos, Cia Gira Dança, Pulsar Cia de Dança, Lenira Rengel, Fafa Daltro, Eleonora Santos, Alexandre Molina, Alexandre Baroni, Joceval Santana, Terezinha Miranda, Carla Leite, Norberto Peña.

Para nossa felicidade tivemos a imensa felicidade em saber que Angel Vianna fará participação no espetáculo da Cia Pulsa de Dança. Angel é um dos maiores ícones da Dança brasileira e nos presenteará com sua arte nos palcos baianos.

Os cirandões são fóruns de debate com o público participante e realização de atividades de criação artística e mostra aberta de performances de dança. Ocorrerão em dois dias de atividades com artistas e pesquisadores convidados e também aberto aos participantes do Encontro para mostrarem suas pesquisas teóricas e/ou práticas, com relatos de experiência de até 15 min cada, enviando previamente a pesquisa para seleção da comissão acadêmica, assim como apresentar vídeo e banner dos trabalhos.

Serão oferecidas oficinas ministradas por alguns dos palestrantes convidados e curso de audiodescrição com a Profº Dra Eliana Franco do grupo TRAMAD.

Haverá apresentações de três espetáculos no palco principal: Judite quer chorar, mas não consegue! de Edu O. (Salvador) e trabalhos especialmente criados para nosso evento da Cia Gira Dança (Natal) e Pulsar Cia de Dança (Rio de Janeiro).

Serão apresentadas diversas performances de dança no foyer ao longo do evento: Vestido curto na alma de dentro (Grupo X de Improvisação em Dança), Odete, traga meus mortos (EduO. e Lucas Valentim), Grupo Opaxorô, Estudo para carne, água e osso (His Contemporâneo de Dança) e Braile (Liria Morays).

Conto com a colaboração de vocês na divulgação do evento.

Maiores informações e Inscrições pelo blog: http://encontrodedancainclusiva.blogspot.com/

Doações:
Agencia 3457-6
C/C - 803641-1
Banco de Brasil
Fatima Daltro
(coordenadora do Encontro e Diretora do Grupo X de Improvisação em Dança)

Obrigado

O descanso (merecido ou não)

Hoje é domingo no pé do cachimbo toca gaita repica o sino o cachimbo é de ouro que dá no besouro o besouro é valente que dá no tenente o tenente é mofino que dá no menino o menino é chorão que dá........

Todo corpo precisa de um descanso e hoje o dia foi feito para isso. Até ELe descansou num domingo, né? Por que eu vou me acabar? Nananinanão...

Até amanhã, viu meu povo? Quem quiser pode completar a rima lá de cima do menino chorão.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Registro do primeiro Papo Perturbador


Para mim foi uma surpresa ver a sala de Pós-Graduação da Escola de Dança da UFBA cheia, com todo mundo curioso, atento, dialogando, debatendo, contribuindo. Foi um grande primeiro passo d'O Corpo Perturbador. Obrigado a todos.

Gratidão eterna a Fafá que pega uma idéia e transforma num evento. Que pega o mundo e transforma em arte. Arrasa! Oh minha preta, muito obrigado por tudo!!!!!

Gratidão também a tia Lila, ops, a Dra. Raynice Pereira que arrasou no bate-papo com direito a performance e tudo.








e professora Lenira Rengel sempre tão pronta, acolhedora. Maravilhosa! Obrigado

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Destaque para o Papo Perturbador


Site da UFBA


Site da Tribuna da Bahia


blog Acessibilidade em Trânsito Poético

Soltar o sabiá

Hoje estou um pouco descompensado, precisando sentir um silêncio de mergulho, parar de respirar um segundinho, deixar o corpo flutuar, parar de querer ter controle. É isso, preciso de descontrole. Quando assumimos muitas responsabilidades corremos o risco de enrigecer, engessar o pesamento, colocando as coisas em seus quadrados, vivendo para arrumar as gavetas...

Quero desengavetar meus horários, meus quereres, meus sentimentos. Abrir e soltar o sabiá!

Amanhã soltaremos nossos sabiás na Escola de Dança. Primeiro encontro para O Corpo Perturbador e isso me perturba. Abrir e deixar o filho no mundo. Ele já está, sem dúvida, alcançando espaços distantes, inimagináveis. A internet nos faz invadir lugares secretos, cantinhos desconhecidos... Vejo os lugares por onde estamos tendo acesso no blog e fico incrédulo. Como alguém ali parou aqui? Até na Rússia já viram esse blog. EUA, França, Valinhos, Curitiba, Ponta Grossa.... tantos lugares!

Bem, amanhã teremos o primeiro Papo Perturbador. Espero que os sabiás cantem para nós.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

UDEREREEEEEEE - entrevista O Corpo Perturbador


Marcela para mim nunca deixará de ser UDEREREEEEE. Uma amiga especial que vem desenvolvendo um trabalho que adoro. Tem um cd lindo "Será que Caetano vai gostar?", sua cara, com a marca de sua personalidade única. O que mais sinto falta nessas distâncias que a vida nos obriga édos passeios que fazíamos ao Farol da Barra e esperar o tempo passar e as tristezas amenizarem, olhando o mar e o sol. Talvez seja porque estamos felizes agora e não precisamos desse refúgio... ou sei lá.

O caso é que Marcela Bellas existe em minha vida e sempre existirá. Me concedeu esta entrevista, umas das primeiras para O Corpo Perturbador, numa véspera de carnaval, num dia em que relembramos um pouco aqueles velhos passeios.

Ahh tem a participação especial, maravilhosa! Assistam!




Abaixo a gravação de um show de Cela com Arnaldo Antunes, cantando a música que fica no repeat aqui em casa "Por outro lado" e que me aquecia na temporada de Judite em Sampa.
Aliás, Marcela canta na trilha de Ju. A trilha que todo mundo queria ter em casa.

domingo, 8 de agosto de 2010

O MICROCONTO DEVOTEE de Chorik

Chorik é um desses caras que a gente tem vontade de conhecer e ficar conversando horas a fio. Nos conhecemos através da rede de blogs e nos comunicamos pelos comentários nosposts. Para mim é crise de abstinência se fico muito tmpo sem visitá-lo. Sua escrita é muito humorada e seu olhar sobre a vida nos enriquece. Lógico que pedi a ele para escrever um MICROCONTO DEVOTEE e ele relutou no primeiro momento, disse que não conseguia escrever.

Esta semana recebi um comentário aqui no Corpo e recebi esta surpresa maravilhosa. Ele escreveu:

Edu, saiu uma coisa esquisita inspirada por essa sua loucura...rs

Veja se tem a ver. Se não tiver, simplesmente delete. Abraços.

"Lá fora a chuva caía de forma intermitente. No silêncio do meu quarto eu contemplava mais uma vez aquele corpo nu. Via no rosto a expressão de uma vida inteira roubada pela pólio. Naquelas pernas definhadas pelo esquecimento a inércia convidava ao toque macio das mãos. Os braços estendidos pareciam sussurrar “entra no meu mundo, carrega-me para sempre”. Mas, do lado de cá do espelho, a cadeira de rodas era real demais e eu jamais consumei aquele amor-(im)próprio."

sábado, 7 de agosto de 2010

Insones

Camaleão

Se este blog existe. Se eu danço. Se essa loucura toda teve início, o culpado é Clênio Magalhães. Vivo a repetir e não me canso. Foi Clênio o primerrio a dizer que eu poderia dançar. Eu acrditei nele e aqui estou.

Desde o início, aliás, antes do início ele estava ali comigo. Me chamou para criar a arte e ajudar no cenário do seu maravilhoso Amor, eu sempre Caio, performatizamos juntos em Furtacor 2, Euphoricamos pela França, Brasil, dançamos em boates, tomamos café de madrugada na cozinha de mainha, choramos e fumamos vendo o mar na balaustrada da Barra, fui fazer um Contato Sutil em Valadares e ele estava aqui na estréia de Judite e continua falando dela enquanto eu giro na cadeira.

Já beijamos as mesmas bocas, já sorrimos, já gargalhamos. E temos insônia. Somos os dois notívagos a vagar na noite cavalgando tigres e sonhando acordados.




Furtacor 2 (com Clênio, Edu, Catarina Gramacho e Igor Soares)

"Chovia sempre e eu custei para conseguir me levantar daquela poça de lama, chegava num ponto, eu voltava ao ponto, em que era necessário um esforço muito grande, era preciso um esforço muito grande, era preciso um esforço tão terrível que precisei sorri mais sozinho e inventar mais um pouco, aquecendo meu segredo, e dei alguns passos, mas como se faz? me perguntei, como se faz isso de colocar um pé após o outro, equilibrando a cabeça sobre os ombros, mantendo ereta a coluna vertebral, desaprendia, não era quase nada, eu mantido apenas por aquele fio invisível ligado à minha cabeça, agora tão próximo que se quisesse eu poderia imaginar alguma coisa como um zumbido eletrônico saindo da cabeça dele até chegar na minha, mas como se faz? eu reaprendia e inventava sempre, sempre em direção a ele, para chegar inteiro, os pedaços de mim todos misturados que ele disporia sem pressa, como quem brinca com um quebra-cabeça para formar que castelo, que bosque, que verme ou deus, eu não sabia, mas ia indo pela chuva porque esse era meu único sentido, meu único destino: bater naquela porta escura onde eu batia agora."

trecho de Além do Ponto (Caio Fernando Abreu)
Texto utilizado no espetáculo Amor, eu sempre Caio.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

É fogo!

Não basta não queimar os homens: é possível queimá-los com a caneta e esse fogo é ainda mais cruel na medida em que seu efeito permanece até as gerações futuras.
Carta a Voltaire, enviada por judeus portugueses e alemães

I Papo Perturbador


O projeto O Corpo Perturbador promove o primeiro fórum de discussão intitulado Papo Perturbador, dia 13/08, as 16h, na Sala 04 da Escola de Dança da UFBA, com a participação da fisioterapeuta Raynice Pereira e a coreógrafa Fafá Daltro. Neste primeiro encontro o tema será

“A escoliose e as possibilidades de movimento em Dança”


Durante todo o processo de criação do espetáculo serão organizados encontros com profissionais de diversas áreas: psicólogos, sexólogos, fisioterapeutas, coreógrafos e pesquisadores em dança, a fim de promover discussões acerca da sexualidade do corpo com deficiência e suas implicações na relação e interação deste com o mundo, nas relações afetivas, sociais, políticas, culturais e religiosas que envolvem as pessoas com deficiência.

Os fóruns de discussão servirão como pontos de encontro para reflexão sobre o trabalho, além de aprofundamento dos temas abordados na pesquisa.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Microconto #252 - Tiago Moralles (MICROCONTO DEVOTEE)

Microconto #252

- Amo sua perna.
- Você fala isso porque não tem escolha.
- Magina, mesmo se você tivesse as duas eu ia gostar mais dessa.

Coisa boa é essa rede louca que vamos construindo com desconhecidos, distantes e abstratos. Depois de um tempo, mesmo sem conhecer, nos tornamos íntimos, cúmplices. Compartilhamentos formados, trocas, diálogos.

Tiago Meirelles me presenteou com este microconto maravilhoso, postado em seu blog, quase uma piada. Com humor, do jeito que esse nego aqui gosta.

Foto Alessandra Nohvais

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A beleza de Anailson - entrevista O Corpo Perturbador

Anailson trabalha aqui no prédio, um dos melhores profissionais, muito gentil, educado e alegre. Sempre admirei a forma como ele fala das pessoas. Seu depoimento toca num ponto importantíssimo para esta pesquisa. Vale a pena conferir.

Casa de Massagem III - Marcus Gusmão (MICROCONTO DEVOTEE)

O que mais gostei dessa brincadeira do concurso de Microcontos Devotees foram as trocas e colaborações dos amigos que embarcaram comigo nisso. Hoje publico o microconto escrito por Marcus Gusmão, um e-amigo que meu outro blog, Monólogos na Madrugada, me deu. Adoro visitar seu Licuri, a forma de sua escrita, o conteúdo, a sensibilidade. Fico muito grato e honrado com mais este presente.

Por email, ele me explicou sua inspiração:

"Edu,
Fiz um microconto sequência dos dois de Herculano. Um terceiro ponto de vista do mesmo conto, exatamente do mesmo tamanho dos outros dois. Veja com ele se ele aprova, veja se você aprova. Caso aprovem, podem publicar". Marcus Gusmão

Encaminhei a Herculano Neto, autor dos microcontos Casa de Massagem I e II e tive esta resposta:

"Edu,
Muito bacana esses diálogos entre microcontos.
Percebi que parte do público desconhecia do que se tratava, mas recebeu super bem os textos. E no que depender de mim está mais do que aprovado, e que venham outros.
Hneto"

Segue então o conto:

Casa de Massagem III
Marcus Gusmão (terceiro ponto de vista sobre o conto de Herculano Neto)

Enxuguei as mãos, joguei o avental na pia e fui para o depósito. Cheguei a tempo ao meu posto de observação, uma fresta na junção das madeiras da janela do quarto dos fundos. As garotas sabiam quando eu estava ali, mas desta vez não teve a piscadela de sempre. Ela se concentrou em tirar a roupa do cara. Muitas vezes fazia isso com aqueles que achavam estar o serviço incluído no preço. Neste caso era necessidade.

Moro em Alagoinhas e para mulher e filhos justifico Salvador todo fim de semana com uma pós-graduação. De fato, faço o curso, já é o terceiro. Mas à noite trabalho quase de graça numa casa de massagem, como barman.

De repente só havia o corpo dela de costas para mim, agachada de quatro, com os cotovelos apoiados no colchão. Aquela posição era a melhor, dava pra ver todos os movimentos. Mas desta vez não havia outras pernas nem outras mãos. Do cara eu só via a cabeça apoiada sobre o travesseiro. E os olhos. Toda a energia daquele corpo se concentrava nos olhos e na pélvis totalmente envolvida, calçada por outro travesseiro. Parecia um gato comendo um passarinho.

Estava acostumado a olhar. Muitas vezes era só um olhar um pouco febril. Mas desta vez senti a febre mais alta, da nuca para a cabeça. Respirava no ritmo daqueles dois, ritmo intenso, cadenciado, seguido também por minha mão direita. Lá pelas tantas ela virou o pescoço e finalmente me saudou. Notei um sorriso diferente no seu rosto. Gozamos os três quase ao mesmo tempo.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Para juntar o bando

Esta carta de Maíra Spanghero me comove de uma maneira que eu não sei explicar. Por isso ela está aqui no blog, neste trabalho que tem juntado um bando muito bonito. O funk une as pessoas... é verdade! Porque tudo que me perturba, tudo que me faz refletir eu quero aqui, inclusive quem pensa o contrário.

Eu, do lado de cá, estou dentro de uma missão coletiva e muito séria.



São Paulo, 23 de abril de 2006.


Querido amigo,

Cartas podem parecer coisas em desuso, ainda mais em tempos de email e celulares, mas eu não resisti, ao imaginar que você pegaria esse papel em suas mãos e passaria seus olhos sobre ele. São tantos cruzamentos sobre os quais falar, que nem sei por onde começar. Afinal onde é o fim/inicio da rede? Sem falar que ela não tem centro: tem nós.

Você me segredou muitas preciosidades nas ultimas missivas. Teríamos metros de papo e ainda assim eu estaria atrasada com as respostas. O artista em crise, deslocamentos, novos acordos, configurações atualizadas. Óbvio que me preocupo com você e arrisco que só os corajosos vivem plenamente, tanto perto do perigo, quanto perto da alegria da descoberta de novos universos. Ele é tocado e atravessado pelo mundo com suas pessoas, coisas (seres os mais diversos), sonhos e encantamentos. Tudinho em tempo real. Inventa critérios e fica brincolando texturas e entendimentos. Não só o artista, o brasileiro parece muito assim.

Eu, do lado de cá, estou dentro de uma missão coletiva e muito séria (e para mim, encantadora, já que sempre quis ser filósofa) de construir argumentos, critérios e textos para responder porque a dança é uma área de conhecimento – com epistemologia própria e objetos singulares. Quer dizer, será que toda dança é uma forma de conhecimento? Que tipo de conhecimento tem na dança? Existem regras/princípios/características universais entre as produções desse conhecimento ou não? Será que toda dança produz conhecimento?

Durante a festa, o que mais aconteceu foram corpos chacoalhando nas mais diversas direções, planos e velocidades. Não teve um que não tenha dançado, posso lhe assegurar. Como disse uma amiga, “o funk une as pessoas”, coisa que concordei imediatamente ao ver todas (e todos) “descontrolados” na pista improvisada. Foi radiante!

O paper que mandei para o congresso de Space Art foi aprovado e eu fiquei nas nuvens. (hehehehe) Como tem sido de praxe, não poderei ir pq 1) as agências de financiamento de pesquisa exigem que o pedido seja feito no mínimo 90 dias antes (como se na vida real as coisas fosse resolvidas com essa antecedência...); 2) ministério da cultura com edital de concessão de passagens fechado (além de não responderem email); 3) crise política, crise econômica, instabilidade financeira, sujerada desvelada pra todo lado..

Vou estender a roupa. Está um domingo ensolarado e eu preciso aproveitar. [...] Também descasquei cebola, abobrinha italiana e uma cenourinha básica. Sabe que a gente vive com a eterna sensação de fim de mês, economizando, sendo criativo, inventando moda, enfim. Vou fazer um risoto a la Lovelace, como chamei, com bastante curry, arroz semi-integral, vegetais (não os dos governos de cultura e editais), temperos e outros encantamentos/condimentos secretos. Lamento não poder jogar meu feitiço adiante, não tenho convidados para o almoço, o que pode acabar fazendo com eu coma de mais ou de menos.

Ta ficando menos ensolarado a ponto de, talvez, eu ter que usar a expressão levemente nublado.

Logo termino de lavar a panela que esta de molho, para fazer o arroz. Escuto o interfone do prédio ao lado disparado. O mundo anda muito barulhento, meu querido, pelo menos aqui perto de casa. É o ruído do portão da garagem do vizinho, o taxista que fala gritado, buzinas, carros, ônibus, caminhões, o pagode do apartamento ao lado no volume máximo, e assim sucessivamente.

Além disso, tambémb tenho me sentido meio defasada tecnologicamente (embora eu adore um brechozinho, um crochezinho e uns espartilhos) estou sentindo falta de um computador mais potente (meu teclado e mouse foram pro pau), um aparelho de som(pq o meu “dinossaurico” só ta funcionando o rádio e umas fitinhas cassetes), uma televisão que tenha entrada para DVD, uma tábua de passar roupa, um robô-aspirador em forma de tamanduá bandeira...

Há muito o que fazer e o sol voltou a brilhar!

Adoro quando diz “faça seu conto”. E você, mesmo quando afirma que não tem palavras, apenas paralelepípedos no peito, ainda assim, fala tão bonito. Tão cheio de letra. Com tanta vogal. Uma coisa poeta-meio-flor-escapanado-do-arame-farpado-porque-saiu-voando-noo-bico-do-beija-flor, sabicumé? Quase lamento, quem foi que me disse que a borboleta pode machucar a asa quando ta saindo do casulo? Não veio de você que “quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento”?

(a Nina espreguiça, se enrosca e parece o bicho mais feliz que existe dentro de sua própria pele na face da Terra.)

Concordo, nada de moedas. Nosso bando precisa voltar a andar junto. O sol firmou, quem podia esperar?
Vou torcer outra máquina, que é para gringo nenhum entender. Tenho pilhas de papel e o arroz por fazer.

Olha o meu angu: cebolinha e alho frito na manteiga, arroz marronzinho, kinua, uma cenoura quase inteira, uma abobrinha inteirinha, semente de linhaça, água fervida, sal, curry, pitadas de pimenta branca moída, entre mexidas misteriosas. Ta tudo lá na panela, cozinhando, cozinhando, cozinhando no ritmo do “café com pão”. Senti uma falta danada de um copo de vinho. Ta quase pronto, o arroz criando rapinha. Acabei comprando duas cervejinhas, devo terminar o dia sem sair de casa. Tem hora que a melhor coisa a fazer é comer uma maçã de sobremesa e sossegar o facho. Quantos planos a fazer? E o arroz criando rapinha. Mais goles de cerveja. E o arroz criando rapinha. Vou desligar o fogo senão queima.

Se eu pudesse, te daria o pôr-do-sol que tem aqui. Por mais incrível que possa parecer, esse solzinho de fim de tarde é de uma luz sensacional. Dá uma coisa boa no corpo, no olho, no pensamento. Dá vontade de namorar, fica romântico. Boas idéias pipocam. Se eu pudesse te daria esse presente, esse estado, essa iluminação. Uma fresta atinge os dedos no teclado. Nesse meio-tempo, quase esvazio o copo. Mandarei uma encomenda para você pelos que estão indo.

Ando quilos mais magra, virando yogue. Meu corpo, com costas-destravando, está soltando chacras adiante. Respiro, respiro, respiro. A melhor aeróbica. Sinto dor por tudo que é músculo mas ela é alegre e viva. Supero limites, viro deponta cabeça, respiro pelas narinas, entôo om. Agora agarrei meu muiraquitã e não tiro o patuá da carteira nem que a vaca tussa! Para tempos de solidão-solitária, solidão a dois, solidão em família... O fato de estar sozinha-povoada num almoço de domingo mais ou menos ensolarado/nublado vai cair muito bem. Não podemos nos esquecer que, muito pelo contrário, estou absolutamente bem acompanhada. Porque afinal de contas nada disso aqui estaria acontecendo se você não estivesse aí me ouvindo com teus olhos-garras.

No vale tudo da vida, não esqueço o protetor solar. E faço minhas preces para estar mais perto de quem amo.

Saudades oceânicas nos aproximam.

Antes que o sol se vá, receba meu abraço,
muitas de mim, com a boa e velha ginga.

Maíra Spanghero

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Aquário - Ediney Santana (MICROCONTO DEVOTEE)

Penso que nunca é demais externar alegria e gratidão. Tenho vivido em estado de alegria com este projeto O Corpo Perturbador pelo movimento que ele tem desde a sua concepção e agora no blog, com tantas colaborações e tantos amigos abertos a embarcarem nas minhas propostas, loucuras.

Recebi de presente, de Edney Santana, este belíssimo Microconto Devotee. Esta brincadeira começou a partir da idéia de outro amigo Cleyton Cabral, virou coisa séria com todos esses textos inspiradíssimos e inspiradores desses autores de primeira linha. Só tenho a agradecer.

Eis o MICROCONTO de Edney.

Aquário


Aqui dentro: tesão, verrugas cristalizadas por uma mágoa eco do que há lá fora. Todos são assim (aquários ou seres da terra, somos assim): há as flores e as verrugas, há também ácidas lágrimas quando vejo paixões que até ontem era fogo caírem como folhas secas no vazio das praças em domingos sem carnaval.

Você me olha e não nota o quanto existo, não me trate como criança, daqui de dentro posso te matar, mas antes sugo gota a gota toda tua sedução, para que não machuques mais ninguém.

Quem disse que vivo no não corpo? Vivo dentro do que sou e o que sou só os delicados anjos do calçadão é quem podem sentir, sentir é melhor que ver. Os anjos do calçadão não vivem em um aquário, vivem em uma vitrine, somos iguais em invisibilidade, mas cheios de prazeres nem sempre silenciosos.

Borbulho por amores, qualquer amor, na minha cama sou homem e mulher, a febre das palacianas e a alegria dos mendigos, borbulho em febre, meu aquário é meu corpo e se você pensa que sou frágil posso te afogar no cuspe da minha indiferença.

Ediney Santana escreve regularmente no blog http://cartasmentirosas.blogspot.com/
Nasceu na cidade de Mundo Novo-Ba e vive em Santo Amaro-Ba desde sua infância.

domingo, 1 de agosto de 2010

A mirada de Marta Larralde - entrevista internacional

Marta Larralde é atriz espanhola, entre os filmes em que atuou está Mar Adentro, de Alejandro Amenábar e vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro. Marta esteve no Brasil para filmar uma participação no filme Onde está a felicidade? com roteiro de Bruna Lombardi e direção de Carlos Alberto Riccelli.

Nos encontramos no Cafofo de Caras*, na ocasião de minha despedida quando estive na capital paulista, em Março, para apresentar Judite na 3º Mostra Lugar Nômade.

Foi uma noite interessantísisma e divertida e tive a honra de ter este depoimento delicioso de Marta Larralde. Escolhi esta entrevista para publicar num domingo porque a atriz fala coisas perturbadoras como olhares, beijos, toques, corpos... Nada melhor do que acabar um fim de semana com prazeres, não é?



* Cafofo de Caras é como chamamos o apartamento de Cléa em São Paulo, mais novo point da boemia paulista quando se encontra com a boemia baiana. Quase o cruzamento da Ipiranga com a São João. "Alguma coisa acontece no meu coração"

com a licença dos amiguinhos, tive que provar o que falei