segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Nada de inércia - Henrique Amoedo (entrevista)

A entrevista d ehoje é com o Diretor Artístico do Grupo Dançando com a Diferença, Henrique Amoedo. Um brasileiro que desenvolve há muitos anos um trabalho maravilhoso na Ilha da Madeira, lá em Portugal. Na verdade Henrique levou para lá o que já fazia aqui no Brasil em suas pesquisas sobre a Dança e as pessoas com deficiência. É ele o criador da nomenclatura Dança Inclusiva quando sentiu necessidade de dar nome a dança feita por estas pessoas apenas para situar a sua pesquisa. O nome pegou e é difícil nos desvencilharmos dele quando pensamos sobre o assunto.

Uma honra ter no blog uma pessoa, um profissional da magnitude de Henrique, a quem conheço desde 2000, se não me engano, quando eu ainda dançava no Grupo Sobre Rodas...? Foi com ele que fiz a minha primeira viagem fora da Bahia, num Encontro promovido em Diadema. Ele também proporcionou a minha primeira viagem internacional quando em 2004 fui a Madeira dançar e de lá para cá nunca mais parei.



Imaginem a felicidade que tive ao encontrá-lo em Londres e poder fazer esta entrevista, ainda mais porque ele confessou ser visistannte assíduo do blog e manifestou o desejo de levar O Corpo ainda este ano a Portugal. Vamos torcer!

Deleitem-se com Henrique Amoedo.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Afinal quem são os devotees?

Recebi este artigo por email e achei bom postar aqui no blog.
 
"Devoteísmo é um assunto complexo e controverso, no entanto o debate é necessário. É um tema pouco discutido e pesquisado, talvez por tratar-se de um assunto em que uma discussão poderia cair em uma areia movediça, pois é um tema cheio de incertezas.

Acredito que muitas pessoas nunca ouviram falar desse termo.

Devotee ou devoto, segundo dicionário americano, significa aquele ardentemente devotado a algo ou um defensor entusiasta. No dicionário brasileiro significa aquele que denota devoção ou um admirador. Dessa forma, penso que no campo da deficiência significa indivíduo ardentemente devotado ou defensor de pessoas com deficiência. Partindo dessa premissa, enquanto pessoa com deficiência entendo que meus pais, irmãos, familiares e amigos são devotees. Se essas pessoas devotam um amor tão grande por mim e são defensores desse segmento da sociedade, logo são devotees.

Assim como devotees sentem amor paternal, maternal ou fraternal pela pessoa com deficiência, certamente eles também sentirão atração física ou paixão por essas mesmas pessoas. Então entendo que meus ex-namorados sem deficiência são devotees. A partir dessa linha de pensamento concluo que felizmente há milhares de devotees no mundo, que há milhares de pessoas que sentem prazer em se relacionar ou conviver com as diferenças individuais, que há diversas pessoas que apreciam a diversidade humana e as singularidades de cada corpo.

A meu ver devotees sentem atração e desejo como qualquer outra pessoa sente por alguém que esteja fora do padrão de beleza idealizado pela sociedade ou até mesmo por uma questão de dizer não ao conservadorismo. Assim como há homens ou mulheres que sentem atração por pessoas muito altas ou muito baixas, muito gordas ou muito magras ou sentem atração pela pessoa do mesmo sexo, há os devotees que sentem atração por pessoas com deficiência. Acredito que cada pessoa é livre para fazer sua escolha.

Como há devotees interessados na pessoa com deficiência, com a intenção de um relacionamento efêmero ou duradouro, há também devotees interessados somente em satisfazer seus prazeres, seus fetiches, suas obsessões... Esses indivíduos estão interessados mais na deficiência do que na pessoa, certamente são casos patológicos e precisam ser tratados. Nesse caso a própria pessoa com deficiência deve ser cautelosa, a fim de evitar o envolvimento com essa pessoa. Se a pessoa com deficiência gosta de si mesma e se valoriza, certamente ela avaliará cuidadosamente a pessoa com quem pretende se envolver. Isso é muito importante. Quero ressaltar que assim como há devotees obsessivos e compulsivos, há também homens ou mulheres que não são devotees e têm a mesma doença.

Como disse no início do texto, há pouquíssima pesquisa sobre esse tema no Brasil. Entre os que conheço há o estudo da jornalista Lia Crespo. Seria muito interessante se houvesse mais pesquisadores interessados nesse assunto tão pertinente.

Para finalizar, no meu entendimento, não podemos afirmar que todo devotee que sente atração física por uma pessoa com deficiência é um predador, insensível e perverso. Como também acredito que a palavra “devotee” não pode ser rotulada como algo pernicioso. Tudo deve ser devidamente ponderado. Como tudo na vida, precisamos separar o joio do trigo.

E você, caro leitor, o que pensa a respeito disso tudo?"

Vera Garcia (Deficiente Ciente)
Leia mais: http://www.deficienteciente.com.br/2011/02/afinal-quem-sao-os-devotees.html#ixzz1EzbVJbFQ

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pequena Flor - entrevista Talita Avelino

Talita Avelino é uma amiga/amada que São Paulo me presenteou. Talis (como a chamo) é uma artista daquelas que sabemos o que será daqui a pouco. Com pesquisa em cultura popular, busca o saber de forma madura, estudou na Escola Brincante de Antônio Nóbrega e tem uma musicalidade rica com influência de côco, samba, cavalo marinho, frevo, entre outros.

Neste domingo ela irá nos presentear com seu show Pequena Flor, no Ciranda Café (Rua da Fonte do Boi/Rio Vermelho). Cheio de alegria em recebê-la e poder brindar a sua música.

O video tem a entrevista dela para o blog e no final canta a música Flor que não se cheira, que é de uma beleeeezaaaaaa! Amo esta música que as vezes eu cantarolo em Judite. Vale a pena ouvir essa pequena grande flor.



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O show de Truman do SBT

Truman Burbank é um homem comum da cidade de Seahaven, que vive com sua esposa Meryl numa casa no subúrbio, e ganha a vida vendendo seguros. Possui uma mãe ainda viva (seu pai havia morrido numa tempestade), amigos e uma vida aparentemente normal. Truman entretanto não sabe que toda a sua vida se trata de um reality show criado e comandado por Christof, produzido em um gigantesco estúdio que até pode ser visto do Espaço.

De certa forma os blogs e sites de redes sociais acabam se tornando um reality show produzidos por nós mesmos que os alimentamos com informações sobre nossas vidas, sentimentos, cotidianos, famílias, viagens... Para quem trabalha com arte esses funcionam também como meio eficiente de divulgação de seus projetos.

Quando ainda morava em Sto Amaro e só tinha acesso à televisão, vivia grudado na programação sempre que estava em casa. Adorava os programas e artistas e me imaginava como eles. Cresci, vim para Salvador fazer Belas Artes e encontrei a turma de teatro e dança onde fixei abrigo. Ainda lá, mais novo, sem acesso a outras coisas (tinha literatura também), antes de Big Brther, antes de A Fazenda ou Casa dos Artistas, eu fantasiava se minha vida fosse uma novela. Até brincava com isso, criando falas para os personagens reais que viviam comigo. Inventando situações para num dia morno qualquer ter mais emoções e manter o ibope.

Minha vida desde sempre foi bastante agitada, com emoções fortes, pessoais interessantes que entram e saem de cena, lugares lindos, dores, choros, risos, uma trilha sonora das mais belas, amores, abandonos, encontros... Acho que se fosse uma novela daria um belo ibope, sim.

Cheguei ontem de viagem pensando nisso fixamente, procurando camêras escondidas e cenários fakes para comprovar que eu não sou um Truman tupiniquim contratado sem saber pelo SBT. Porque não é possível que tanta coisa aconteça assim em ritmo tão vertiginoso se não for por justificativa de uma mão ardilosa de um autor inteligente que a cada final de capítulo consegue prender o espectador até o doutro dia querendo saber o que acontecerá com aquele personagem.

Depois de uma viagem exaustiva onde me aconteceram coisas mais variadas e inusitadas, trabalho cansativo e prazeroso, pessoas lindas, amorosas, carinho muito, solidão final de noite, internet, perder vôo, adiar chegada, comer mal, sentir dor, estresse de frio... enfim, quando pensava que tudo estava tranquilo e que só me restava chegar em casa, tomar um banho gostoso no quentinho de Salvador, matar saudade de mainha e do meu amor, do meu menino e minha irmã, escrever aos amigos que cheguei bem, recebo minha cadeira de rodas quebrada no vôo da TAP.

Aí o que seria um capítulo calmo, quase último capítulo dessa fase da série, vem uma reviravolta para não diver revolta e muda os planos. O ibope só pode estar nas alturas e a emissora pediu pro autor adiar o final. Daí quem me conhece sabe o sucesso que foi com os funcionários da TAP, as reclamações, as discussões, os choros, o estresse em altíssima voltagem.

Agora é esperar as cenas dos próximos capítulos para ver o que virá! Espero agora a pitoquinha da HEBE e Silvio Santos me convidar para ganhar o troféu imprensa de melhor programa do ano.

E o Edu lá lá lá lá lá lá. Pedro de Lara lá lá lá lá lá lá. Lá vem a Flor lá lá lá lá lá lá. A Sonia Lima lá lá lá lá lá lá. Araci de Almeida lá lá lá lá lá lá.

Agora é hora de alegria, vamos sorrir e cantar, da vida não se leva nada, vamos sorrir e cantar

Quem quer dinheiro!!!!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A onda

A hora do encontro é também despedida. Palavra que para mim é sinônimo de saudade e eu nunca soube lidar com esta, nem com aquela. Está chegando ao fim essas duas semanas corridas em Londres, mas cheias de experiências, sentimentos, sensações, emoções e encontros lindos e frutíferos.

Tive que falar sobre isso aqui porque este blog é para falar sobre as perturbações. Nada me perturba mais do que a saudade.

E a saudade de quem está lá no Brasil me corroe de uma forma que mesmo querendo viver tudo que tenho para viver, mesmo querendo correr mundos, fico preso e saudoso desde o primeiro minuto que saio. O bom é ter a certeza da volta, do café quente com bolo, beiju, pão de Dona Dega, pastelzinho, o abraço choroso de mainha, o riso nervoso de B, a euforia de Rudá, a tranquila alegria de Pá. Bom é sentir o cherio ardido de maresia e a brisa quente que vem ali do Cristo.

Estou chegando já com promessas de partidas. E é assim é onda avassaladora que se chama vida.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Dor de cotovelo

Não é que me aconteceu de ter dor de cotovelo? Daquelas finas, latejantes. O frio eu suportei com bravura, a falta de comida boa também, mas esta dor me derrubou. Não estou com inveja de ninguém não, o meu problema é a Epicondilite Lateral do Cotovelo proveniente de muito esforço no local. Agora to aqui passando por invejoso. Antes fosse.

Vários autores acreditam haver dois grupos distintos de pacientes com a patologia.

Um grupo formado por pacientes jovens, atletas e que praticam intensamente atividades como tênis, squash, paddle e golfe, no qual o sobreuso é o fator preponderante. Este grupo corresponde a cerca de 5% dos pacientes. Destes, entre 10% a 50% apresentarão, em algum momento, um quadro de epicondilite.


O outro grupo corresponde a 95% dos pacientes e é representado por pessoas entre 35 e 55 anos, nas quais o início dos sintomas é relativamente incidioso. Geralmente são pessoas que exercem atividades de repetição ou esforços intensos isolados, no trabalho ou em casa.


Devo estar nos dois grupos, ne?

Fonte: http://fisioterapiaquintana.blogspot.com/2010/01/dor-no-cotovelo-epicondilite-lateral-do.html

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O palhaço do Flávio Souza - entrevista

Esta entrevista de Flávio Souza é uma riqueza! Nos faz pensar em tantas coisas, refletir sobre assuntos muito importantes.

Sei que ele não fala dessa comunicação que irei comentar, mas lembrei disso e o blog é meu escrevo o que quiser. hahahahahahha (brincadeira) Eu não falo inglês, sou uma negação, fico com cara de idiota balançando a cabeça, mas vocês acreditam que conigo me comunicar perfeitamente com o pessoal aqui em Londres? além de tudo tem a comunicação corporal, ne? Fazendo uma ligação com o que Flávio traz, seria tão mais fácil se estivéssemos abertos ao outro, a compreender o outro. Acho que isso é fundamental para uma comunicação eficiente e também para amenizar o que ele traz depois, a violência.

Bem, se deliciem com ele que é uma deli! Ator, contador de história e palhaço. Olhem que maravilha!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A hora certa

Adoro as surpresas que a vida me dá. Posso dizer que sou um felizardo porque alcancei tudo que quis. Todas as coisas que desejei eu conquistei. Nada com facilidade, muitas não vieram no tempo que o desejo exigia e para isso tive que esperar o tempo de maturação. Percebo que aquilo de "vem na hora certa" parece piegas, coisa de conformado, mas no fundo é assim. A hora certa nada mais é do que o momento que estamos realmente preparados para aquilo, não tempo que achamos que estamos prontos.

Foi assim com o amor, está sendo assim no trabalho com o Candoco (aqui em Londres), é assim em tudo que me deparo conquistando. Como eu perderia coisas importantes se tivessem acontecido quando eu mais queria! Na verdade já conquistei naquele tempo, quando eu fiz um movimento para ter e o querer veio forte, mas só se materializou tempos depois. Aí também percebemos como o tempo é tão relativo.

Aiiii, filosofia barata! Mas é só para dizer que esta semana estou muito feliz. Comemorando 5 anos de amor e iniciando o trabalho que mais desejei na vida.

O Corpo Perturbador recebendo convites ótimos. Daqui a pouco teremos surpresas por aqui! Esperem!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O vídeo do espetáculo

Este video produzido por Drica Rocha está incrível! Trabalho maravilhoso de captação e edição das imagens do espetáculo. Parada obrigatória para assistir.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A cicatriz

Um conto erótico escrito por Henrique Wagner
Não sabe exatamente quanto tempo precisou para fazer-se homem. Sabe, no entanto, com certeza cristalina, onde fica a cicatriz, esse umbigo que o acompanhará para todo o sempre, até que, tomado pela coragem de um samurai, cometa o haraquiri, e dê por encerrada a herança da humanidade, de barriga a barriga, de hausto em hausto. A violência que o toma, no entanto, é a da vida, não a da morte; é a violência da lubricidade, não a da inércia. E talvez por isso sente-se pior que solitário, sente-se aleijado, como que sem uma parte, a mais importante, de sua pessoa ou existência. Uma parte conhecida, o que acaba por definir a saudade. Sente-se infindo, justamente quando inteiro, sendo homem. Homem feito. Aquela manhã canicular talvez tenha lhe dado a sensação de que todo corpo é deficiente. E de que toda escultura é uma cicatriz, o cautério sobre o buraco insuportável da inexistência de algo, o invisível, o olho do dia.
Levanta-se e fica de pé, diante do espelho. Percebe como cresceu e como criou corpo, em seus dezenove anos feitos ontem, sem festa, além dos amigos de bushidô em sua casa. Despe-se inteiramente e fica, sem o perceber, maior, como se só agora usasse um sobretudo feito de pele humana, grossa. Tem o tórax aberto, largo, com peitos bem desenhados e de mamilos com auréolas grandes, de cor escura. Os trapézios são altos, os braços são bem fornidos, grossos e íngremes, e o abdome tem a beleza que toda cimitarra gostaria de refletir. As pernas são grossas e levemente arqueadas, peludas, os pelos escuros e lisos, quase escondendo a brancura azeitonada de sua pele. Enfim, encontra-se o homem feito. Mas feito o quê, ele se pergunta, se ainda sente como se faltasse algo para ser?
Inteiramente nu, observa os pelos escuros que sobem do púbis e, feito uma fileira de formigas trabalhando, dividem, numa linha negra, o tronco em duas bandas. Sem se dar conta, senão internamente, percebe no espelho que seu membro, incomumente grosso e de todo coberto, ainda, pela bolsa de pele, até a glande, começa a crescer e apontar para si mesmo. Chega a parecer um charuto com a ponta desabrochada, franzida, mostrando uma lua árabe ou muçulmana mesmo, em seu interior.
Sente os mamilos eriçados, os punhos quadrados parecem ter desejo, e as coxas, escarpadas, cheias de gradações musculares, entregam-se a certo nervosismo ou temor, como se fossem habitantes de Pompéia diante da ameaça do Vesúvio. Confuso por não saber o que pensar, e se deseja pensar, e se precisa pensar, estando ali, diante de si mesmo, leva a mão ao membro duro, já inteiramente desenvolvido e pendido feito um galho que carrega uma fruta madura, grande e pesada.
Ergue o pênis, de modo a tocá-lo no umbigo. Sim, ele alcança o umbigo e até o ultrapassa. Trata-se de uma genitália bem fornida, bela e grande, adulta, maior do que pode imaginar o tamanho do pênis do pai, aquele que penetrou sua mãe pela ferida aberta, jamais cicatrizada.
Observa a linha, cujo tom mais escuro que o da pele, desenha facilmente seu caminho, num decalque; observa que essa linha perfaz o itinerário que vai do escroto à ponta do “charuto” – ele pensa com as aspas, agora. Sente o frêmito do amor viril, da paixão pelo corpo, e não consegue ver as curvas da mulher com quem foi para cama ainda ontem, em meio a risos e gargalhadas de amigos e pretendentes.
Sua mente anda escura, agora, mas seus olhos vêem tão claro que ele, assaltado por si mesmo, tenta fechar a mão direita sobre o pênis duro, toma posse, sente a pele elástica e a “grossura” de um membro tão rude, bruto, mal-educado. Assim, começa a manejar seu mais novo desejo, com o ritmo que só mesmo ele poderia imprimir a si mesmo, enquanto mantém os olhos fixos sobre seu tórax indecente e os deltóides trabalhados. É um homem, definitivamente, tem cerca de um metro e oitenta e cinco e pesa, provavelmente, oitenta e cinco quilos de puro músculo e nervo.
Os mamilos parecem romper contra o vento. Ele observa o saco, que endureceu e parece uma bola de pedra, muito bem arredondada. De repente tudo se torna compacto, duro, concentrado e latente. E novo, tudo novo, como o desejo de, de repente, salivar um dos mamilos e boliná-lo. Ele cospe sobre o peito e leva o líquido transparente ao bico duro dentro da auréola. Sente o transe chegando, o movimento ondulatório, o ritmo quase nauseante de quem, a qualquer momento, pode deixar de ser o timoneiro. Mas em momento algum deixa de manipular o pênis, sempre num ritmo envolvente, com a mão tentando, debalde, fechar-se sobre a imensa grossura do membro rijo, quase gordo de tão carnudo, voluptuoso.
Ele é quase inteiramente líquido, agora, e sente a languidez que as mulheres devem sentir, quando bêbadas de batom. Talvez por isso tenha cuspido sobre o pênis, sem parar de friccioná-lo. Pensa agora que não se trata mais de um pênis, mas de um grande e amedrontador cacete, duro, farto, irritado. Esse cacete que parece a direção da locomotiva, de seu corpo em movimento, sem sair do lugar, feito uma árvore que recebe nutrientes do caule e os leva até os frutos, esse movimento vertical que parece, no entanto, diminuir a altura dele, ele, que vai se esgueirando, contraindo o corpo de tanto prazer e tensão.
Estranhamente sente o forte desejo de nutrir-se de si mesmo mais profundamente. Então, enfia o nariz em um de seus sovacos e sente o cheiro de seus pelos suados, que agora parecem pelos pubianos, com aquele cheiro de mato molhado. Tenso, com medo do que possa estar acontecendo consigo mesmo, coloca todo o seu peso sobre o espelho, por meio da mão esquerda, escorada na moldura antiga da família. E avança na fricção, como se quisesse acabar com aquilo. O movimento é cada vez mais rápido, enquanto sente o próprio cheiro sob um dos braços. Sente vontade de olhar-se novamente, sente saudade de si mesmo, e então, tira a cara dos pelos e olha seu corpo, dos pés aos olhos levemente puxados de um guerreiro mongol. Assusta-se com o tamanho e a ira do próprio cacete, e ousa pensá-lo “rola”, “pau”, “caralho”, “tora”, “pica” e “rola” novamente. Pensa que é, sim, um homem “roludo”, “cacetudo”, “pauzudo”, “picudo”, tudo isso. Um homem bem dotado, desmarcado, como ouviu um dia alguém dizer. Um cavalo. Agora não quer mais parar de olhar-se, mas sente vontade de cheirar algo de seu novamente. Enquanto bate punheta – agora pensa assim, e não mais as palavras “fricção” e “manipulação” – freneticamente, e com uma virilidade marcial, leva a mão esquerda, a do espelho, ao períneo, e de lá ele rouba o cheiro forte da pele suada e recôndita, de uma região que parece um vale protegido por belos e rotundos promontórios. É o cheiro do saco suado, do períneo e do começo do ânus, que apenas não pode ser visto, mas está ali, ousado, líder às avessas. Olha aquela indecência bela e ousada e pensa que pau foi feito para macho mesmo.
Um homem que se masturba está completo em seu desejo, ele pensa. E sem pensar, tão cedo ainda, pouco antes do café da manhã, atinge a si mesmo com o jato de porra que ejacula, e que fica a escorrer e a pingar do espelho.
Combalido, começa a pensar, imerso em névoas e medo do futuro, que não se fez homem, mas que foi feito homem, ali, diante de si mesmo, por si mesmo, mas do outro lado de quem vê. Agora sabe que, em sua deficiência de ser um, tornou-se um anjo caído, um deus que deseja e, quando cria, devora seus criados.
E agora falta ao espelho, o umbigo trêmulo. Mas intacto.

De com força

Foram momentos reveladores em que a alegria lhe perturbou. Um retorno a um lugar em mim que estava mofado, esquecido, empoeirado. De repente música alta, amor, dança, cerveja, janela. De repente tanta coisa que a cabeça rodou, o corpo estremeceu e se entregou.

A alegria voltou com tanta força e era disso que ele precisava.