domingo, 31 de julho de 2011

Se escola fosse estádio e educação fosse Copa…

Boletim nº 63
Se escola fosse estádio e educação fosse Copa…

Por Jorge Portugal,
Passei, nesses últimos dias, meu olhar pelo noticiário nacional e não dá outra: copa do mundo, construção de estádios, ampliação de aeroportos, modernização dos meios de transportes, um frenesi em torno do tema que domina mentes e corações de dez entre dez brasileiros.
Há semanas, o todo-poderoso do futebol mundial ousou desconfiar de nossa capacidade de entregar o “circo da copa” em tempo hábil para a realização do evento, e deve ter recebido pancada de todos os lados pois, imediatamente, retratou-se e até elogiou publicamente o ritmo das obras.
Fiquei pensando: já imaginaram se um terço desse vigor cívico-esportivo fosse canalizado para melhorar nosso ensino público?
É… pois se todo mundo acha que reside aí nossa falha fundamental, nosso pecado social de fundo, que compromete todo o futuro e a própria sustentabilidade de nossa condição de BRIC, por que não um esforço nacional pela educação pública de qualidade igual ao que despendemos para preparar a Copa do Mundo?

E olhe que nem precisaria ser tanto! Lembrei-me, incontinenti, que o educador Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação e hoje senador da República, encaminhou ao Senado dois projetos com o condão de fazer as coisas nessa área ganharem velocidade de lebre: um deles prevê simplesmente a federalização do ensino público, ou seja, nosso ensino básico passaria a ser responsabilidade da União, com professores, coordenadores e corpo administrativo tendo seus planos de carreira e recebendo salários compatíveis com os de funcionários do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica Federal.
Que tal? Não é valorizar essa classe estratégica ao nosso crescimento o desejo de todos que amamos o Brasil? O projeto está lá… parado, quieto, na gaveta de algum relator.
O outro projeto, do mesmo Cristovam, é uma verdadeira “bomba do bem”. Leiam com atenção: ele, o projeto, prevê que “daqui a sete anos, todos os detentores de cargo público, do vereador ao presidente da República serão obrigados a matricular seus filhos na rede pública de ensino”.
E então? Já imaginaram o esforço que deputados (estaduais e federais), senadores e governadores não fariam para melhorar nossas escolas, sabendo que seus filhos, netos, iriam estudar nelas daqui a sete anos?
Pois bem, esse projeto está adormecido na gaveta do senador Antônio Carlos Valladares, de Sergipe, seu relator. E não anda. E ninguém sabe dele.
Desafio ao leitor: você é capaz de, daí do seu conforto, concordando com os projetos, pegar o seu computador e passar um e-mail para o senador Valadares (antoniocarlosvaladares@senador.gov.br) pedindo que ele desengavete essa “bomba do bem”? É um ato cívico simples. Pela educação. Porque pela Copa já estamos fazendo muito mais.

*Artigo divulgado no Terra Magazine, 22 de abril de 2011
Jorge Portugal é educador, poeta e apresentador de TV Idealizou e
apresenta o programa “Tô Sabendo”, da TV Brasil.

sábado, 30 de julho de 2011

Dudu do quarto dos fundos

Todo mundo tem um Dudu no quarto dos fundos. Se não tem, conhece alguém que tenha. Dudu é aquele membro que a família considera especial, mas é TÃO especial que vive escondido naquele quarto úmido e escuro no quintal das casas. Tão especial que quem não é da família nem sabe que existe. Talvez pela escuridão do lugar as crianças sentem medo de Dudu. Quando éramos pequenos, nós também tínhamos uma pessoa assim. Íamos visitar uns tios, compadres de nossos pais. Passávamos uma semana na casa e aquele quintal enorme virava tudo que queríamos. Havia um quartinho sempre fechado, porta velha, fechadura grande que se abria para o banho de balde demorado da Dudu daquela casa. Era uma menina que vivia lá. Dudu pode ser homem ou mulher, tanto faz. Minha memória não me deixa saber direito porque nunca mais voltamos àquela casa. Assim como o quintal enorme que na verdade deve continuar pequeno com a mangueira no meio, Dudu deveria ser muito mais velha do que nós, mas cuidada como pessoa nova. Enquanto brincávamos na mangueira, minha atenção ficava voltada o tempo todo para o banho, o arrumar o cabelo, a camisola de algodão com rendinhas nas mangas e os dentes projetados na dentuça da Dudu. Quando ela comia deixava cair as coisas pelo canto da boca e até hoje fico com nojo ao lembrar daquela baba com comida que também grudava nos dentes da frente. Enfiavam uma toalha grande na gola do vestido para não sujar a roupa sempre limpa. Dudu vivia asseada, no capricho. Mas... Dudu vivia? Ficava o tempo todo trancada naquele lugar e o único horizonte que via eram essas crianças brincando de subir e descer naquela árvore. Sempre me coloco no lugar de algum Dudu quando penso no pequeno daqui de casa. Quando ele crescer e eu não mais estiver aqui, como será que ele lembrará de mim? Sentado na cadeira de rodas pedindo água? Dançando Odete, Judite ou O Corpo? Brincando de roda com ele?  Conheci outros(as) Dudus pela vida a fora e, o fim de todos, nós já sabemos. Eu poderia ter sido um Dudu na minha casa, mas alguma coisa mudou essa história.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Ver o dia cair

O que mais me incomoda em não poder andar é a impossibilidade de sair sozinho e ver o mar. Me isolar nas pedras, em silêncio e ver o dia cair. Sei que este isolamento e silêncio também são impossíveis aqui nesta terrinha d'Oxum, porque toda hora somos abordados pelos pedintes ou vendedores ambulantes que não respeitam nem quando estamos conversando quanto mais quietos, silenciados.

Mas enfim... pensando num lugar onde isso é possível: o que mais me incomoda em não poder andar é a impossibilidade de sair sozinho e ver o mar. Me isolar nas pedras, em silêncio e ver o dia cair.

Então vou para a janela e vejo as pessoas passarem.

As cordas do coração

A semana passou arrastada com o peso das coisas nas costas. Quantidade imensa de papéis, preocupações, discussões, emails, formulários... tentativas de se manter em pé, seguindo, continuando o trabalho.

A semana ficou carregada de coisas e uma perda. Aquela que chegará para todos, inevitável vida. Tristeza pela alegria e graça de nunca mais, pelo sofrimento dos amigos próximos e dele que era doação, carinho e maluquice.

A semana ficou com ausências e a minha por aqui que ainda não consigo falar esta mistura de sentimentos e a cabeça pedindo apenas para parar.

A semana acabou hoje com festa pro pequeno e eu aqui, finalizando inscrições. Não fui comemorar com ele e os coleguinhas. Não o vi fantasiado. Nem o seu sorriso que hoje seria um presente pros olhos mareados.

Em mim, ficará ecoando:

Os filhos são as cordas do coração da mãe.

Foi assim que uma mãe se despediu do filho morto ontem à tarde. Uma senhorinha, com mais de 80 anos, realizando uma despedia tão bela, emocionante e equilibrada. E eu desabando pensando em tudo, na hora que virá pros meus e a minha mesmo. Pensando no dia em que as cordas quebram deixando o coração assim...

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Tudo errado = tudo certo

Não é de se surpreender se eu disser que não tenho equilíbrio. Principalmente quando estou em fases estressantes, ansioso por algum trabalho, alguma situação pessoal. Me descontrolo na rapidez de abrir uma geladeira. Perco o senso, a noção. Meu corpo treme. Náusea. Sem fome. Sem ar.

Meu calo é grande e fácil de pisar. Meu pavio é do tamanho de uma cutícula. E meu juízo... ai, esse nem sei onde está.

Pois bem, me sinto numa fase dessas. Tolerância zero e vontade de mergulhar. Estamos em época intensa de escrita de projetos para editais e aí a coisa piora mil vezes. Como sou adepto a mil projetos ao mesmo tempo, tem horas em que não dá para relaxar. Porque também sou assim, se encasqueto de fazer vou até o fim e não gosto de deixar água sobrando no copo. Bebo até a última gota (e tem gotas deliciosas, né não?).

O pior é que eu não tenho limite da loucura e mesmo um projeto finalizado, revisado, pronto, eu fico lendo e relendo, conferindo as exigências do edital, comprovando que está tudo feito. Cachorro vendo frango assar? repetição, repetição, repetição... até ter certeza que fiz tudo errado, embora esteja tudo certo.

Cabeça de gente é coisa que preste?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Cadeirante impossibilitada de assistir um filme no Cinemark do Bourbon Ipiranga

Dia 18 de julho de 2011, segunda-feira, fui ao Cinemark do Bourbon Shopping Ipiranga, em Porto Alegre, RS. O que era um programa simples, tornou-se inacreditavelmente “impossível”.

Eu e mais 03 primos compramos os ingressos e entramos na sala de cinema. Constatando a dificuldade de visualizar a tela, devido sua proximidade, pedi para minha prima, Bruna, solicitar a ajuda de um funcionário. Devido sua demora, solicitei que minha outra prima, Gerusa, fosse verificar o que estava ocorrendo. Minutos depois, elas entraram acompanhadas pelo gerente, senhor Maurício. Ele afirmou que o Cinemark proíbe seus funcionários de prestar auxílio como “este” aos seus clientes. Ou seja, o Cinemark, além de não disponibilizar um local decente para cadeirantes, proíbe seus funcionários de os colocarem em uma poltrona onde possam, ao menos, ver o filme. Apesar de preferir me locomover livremente e saber das leis que asseguram esse direito, abdiquei disso para me adequar ao serviço precário oferecido e, mesmo assim, escuto do representante da empresa que isso NÃO É POSSIVEL?!

Como o filme estava prestes a começar, minhas primas decidiram que elas mesmas me colocariam na poltrona. Nesse momento, o gerente “informou” que esta ação não poderia ser feita dentro do estabelecimento. Além de não ajudar, proibiu minhas primas de prestarem esse auxílio.

No primeiro momento da solicitação, quando a Bruna ainda estava sozinha, o senhor Maurício comentou que o cinema não tinha “estrutura”, pois era feito para “pessoas normais”. Normal, anormal ou qualquer outro rótulo ou denominação que queiram dar, não importa. Tenho limitações sim, mas, como qualquer outra pessoa, paguei por um serviço, pelo qual não fui informada que não poderia usufruí-lo.

Durante este lamentável acontecimento, meu único desejo era me esconder, chorar de raiva, pois além de me sentir severamente lesada como consumidora, me senti diminuída como pessoa. E pior, pelo tom usado pelo funcionário, me senti culpada por estragar o passeio das pessoas que me acompanhavam, entre elas, uma criança.

Além de tudo, por instantes, o gerente me fez acreditar que o problema em questão era eu, e não sua empresa... Que inversão de valores é essa?

O caminho mais simples é “deixar assim”, mas me nego a considerar essa possibilidade. Por isso, peço que ajudem minha voz, que continua embargada, a ser ouvida por outros, sejam eles donos de estabelecimentos ou pessoas que, devido às injustiças vividas diariamente, desistem de lutar por seus direitos, por menores que sejam, como assistir um filme numa segunda-feira a tarde...

Agradeço a colaboração!

Grande abraço,
Vitória Bernardes
21/07/2011

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Brasil, país de tolos

CONVOCAÇÃO

O POVO BRASILEIRO ESTÁ CONVOCADO PARA GRANDE MANIFESTAÇÃO
PARALISAÇÃO
DIA 1º DE AGOSTO DE 2011, SEGUNDA-FEIRA
SEGUINDO O EXEMPLO DO POVO ÁRABE, QUE SE CANSOU DO GOVERNO, OS BRASILEIROS NÃO PODEM MAIS SUPORTAR / ACEITAR QUE SEUS GOVERNANTES FAÇAM DESTE PAÍS UM NEGÓCIO DE ENRIQUECIMENTO PRÓPRIO E NOS DEIXEM AO DESCASO DA IRRESPONSABILIDADE DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS.
PRESTEM ATENÇÃO:

É O "PAÍS DO TUDO PODE"!
REFORMA POLÍTICA JÁ:
 
REFORMA JUDICIÁRIA JÁ !! REFORMA TRIBUTÁRIA JÁ !!

SOMENTE DESSA FORMA, FICAREMOS COMPETITIVOS COM O MUNDO AÍ FORA (CHINA ETC.).

JÁ NÃO TEREMOS AS REFORMAS NOS AEROPORTOS E ESTÁDIOS DE QUE PRECISARÍAMOS - A COPA E AS OLIMPÍADAS ESTÃO SE APROXIMANDO, E POUCA COISA NOS FICARÁ COMO ESTRUTURA. SERÃO DADOS ''JEITINHOS'', E PAGAREMOS ALTO, TENHA CERTEZA!

CARAS-PINTADAS EM AÇÃO: OS POLÍTICOS PRECISAM ESTAR SOB O NOSSO CONTROLE, SEREM NOSSOS FUNCIONÁRIOS, NOSSOS REAIS REPRESENTANTES.

NÃO À IMUNIDADE PARLAMENTAR! NÃO À CORRUPÇÃO!
NÃO À POUCA VERGONHA PÚBLICA!

O BRASIL PRECISA MUDAR E VOCÊ PRECISA ESTAR CONOSCO. SOMENTE UNIDOS, IREMOS MUDAR O NOSSO PAÍS.

NOSSO POVO ESTÁ MORRENDO NAS FILAS DOS HOSPITAIS PÚBLICOS, AMBULÂNCIAS E EQUIPAMENTOS COMPRADOS JÁ DERAM A ALGUM
FUNCIONÁRIO PUBLICO SUA COMISSÃO, NO ENTANTO ESTÃO PARADOS, ESTRAGANDO-SE, POIS NÃO DARÃO MAIS LUCRO, SOMENTE DESPESAS. CONTRATAÇÃO DE PESSOAL E ATENDIMENTO DA POPULAÇÃO NÃO ERAM OS SEUS PENSAMENTOS.

MOVIMENTE-SE, CRIE GRUPOS DE DIÁLOGOS, UNA-SE A OUTROS GRUPOS E ENTIDADES, PROCURE A COMUNIDADE, SUA ASSOCIAÇÃO DE BAIRRO, SEUS AMIGOS, A IMPRENSA E EMPRESÁRIOS.


SOMOS UM POVO PACÍFICO, SIM, E NÃO PRECISAMOS DA VIOLÊNCIA PARA FAZER VALER OS NOSSOS DIREITOS, MAS NÃO PODEMOS FICAR DE BRAÇOS CRUZADOS ESPERANDO ESSA CORJA DE POLÍTICOS CORRUPTOS E FORMADOS PELOS SEUS PRÓPRIOS INTERESSES SE INTERESSAREM POR NÓS. PRECISAMOS AGIR E MOSTRAR QUE NÓS OS ELEGEMOS E QUE É POR NÓS QUE ELES ESTÃO NO GOVERNO E QUE, POR MENOR QUE SEJA O DESLIZE, NÓS TEMOS O DIREITO DE CAÇAR O SEU MANDATO.
PRECISAMOS DE UMA POLÍTICA LIMPA, DE CARÁTER E SERIEDADE.
FORTALECER OS PODERES LOCAIS, COMUNIDADES E BAIRROS NO CONTROLE DE SUAS FINANÇAS E PRIORIDADES, COMO NOS EUA.

O BRASIL TEM-SE MOSTRADO UM PAÍS RICO - RICO EM PETRÓLEO, MINERAIS, TURISMO, CULTURA ETC. AGORA PRECISA APRENDER A DIVIDIR ESSA RIQUEZA COM SEU POVO, ATRAVÉS DE UMA MELHOR EDUCAÇÃO, SAÚDE PÚBLICA, SEGURANÇA E ESTRUTURA INDUSTRIAL E PRODUTIVA, PARA QUE ASSIM POSSAMOS TER UM PAÍS JUSTO E FORTE.


PROGRAME-SE, SEGUNDA FEIRA, DIA 1º DE AGOSTO, TODO O BRASIL NAS RUAS, PROTESTANDO E EXIGINDO MUDANÇAS, OU NUNCA SEREMOS LEVADOS A SÉRIO E FICAREMOS SEMPRE NO TERCEIRO MUNDO. E OS POLÍTICOS CONTINUARÃO SE ENRIQUECENDO E DESFRUTANDO OS BENEFÍCIOS DA VIDA PÚBLICA CORRUPTA.OS MINISTROS DO STF E DO STJ NÃO DEVERÃO MAIS SER NOMEADOS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, LULA, ALÉM DE SEU ADVOGADO PESSOAL NOMEOU TODA UMA SÉRIE DE MILITANTES DO PT DA PIOR ESPÉCIE PARA MINISTROS DO SUPREMO. DEVERÃO SER NOMEADOS POR UM COLEGIADO DE MAGISTRADOS, LEVANDO EM CONTA SUA NOTORIEDADE, CONHECIMENTO JURÍDICO E, SOBRETUDO, SUA HONESTIDADE.
CHEGA !!!!
PODEMOS EXIGIR MUDANÇAS, FAÇA A SUA PARTE !!!!
ENVIE ESSA MENSAGEM AO MAIOR NÚMERO DE PESSOAS QUE VOCÊ PUDER.

Depois que cortei o cordão

Quando começo a entrar em crise penso logo em voltar para Santo Amaro. Como criança arrependida de ter cortado o cordão, estourado a bolsa, cansada de nadar ali dentro. Sempre que isso me acontece vem a vontade de chorar como um filho que largou a casa por rebeldia, abandonou a família e agora pede para voltar. Mas as coisas lá na minha cidade não são muito favoráveis e assim como o grande Gonzagão cantou em A Volta da Asa Branca, "a seca fez eu desertar da minha terra" e me forçou a buscar água pelos lados de Salvador e essas águas foram me levando para o mundo. Agora é difícil voltar para lá porque a seca continua. A falta de perspectiva para os filhos da terra é cada vez maior, a saúde se encontra numa situação calamitosa, a educação, a violência que tomou conta de toda parte e antes parecia que não atingiria aquele sagrado chão, hoje destrói os jovens como a enchente de 1989 destruiu casas, ruas, praças...
Santo Amaro vive uma seca cultural. É doloroso não ter o que fazer e ver uma população apática, recebendo de bom grado as migalhas que lhe oferecem. A politicagem acabou com o compromisso pela melhoria do lugar e cada um se preocupa apenas com o seu quintal, esquecendo de limpar as ruas, os espaços públicos, os espaços de encontro. Quando retorno a Santinho me dá tristeza ao ver que não há mais conversa no adro da igreja, não há Ângela Rô Rô inundando a praça saindo do maravilhoso repertório do Satolep, não há a lambada do Veleiro, não há mais tanta coisa. E não é saudosismo de quem não se adpta à mudança dos tempos, sempre acompanhei tudo da cidade, mas agora está difícil. A falta de opção é o maior problema ao meu ver. Ou você ouve pagode e arrocha ou ouve pagode e arrocha. E ai? Ou você vai para pagodão na AABB ou vai para pagodão na AABB? e ai? Sou da bagaça, filho da chulinhagem, mas tabém curto música com letras e arranjos bem elaborados. Sou fã de Edu Alves, Stella Mares, Márcio Valverde e Lívia Milena. Roberto Mendes o mestre entre os todos. Quero espaço e festas lotadas para eles. Reverenciar os que pensam, os que refletem, os que nos dão possibilidade de pensar melhor. Adoro brincar, mas tem hora em que a vida pode ser leve e séria.
Que vontade de voltar para minha casinha, na Nova Sto Amaro, dormir de janela aberta, cruza a rua e visitar Paula, receber Elisa, gritar Miriam, beber com Fau. Por falar em beber, há um portal ainda guardado a sete chaves e à mostra de todos: o bar de Tote. Espero que não se contamine com a água infecta da mediocridade que desce pelas nossas torneiras. "Quem sai da terra natal Em outros cantos não para" (Último pau de arara)
Para aumentar a saudade, publico Bethânia cantando Gonzagão

sábado, 16 de julho de 2011

Idade de ser feliz?

Ganhamos mais um presente esta semana.

Passeando pelo delicioso blog http://euprecisotecontar.blogspot.com/ recebi esta surpresa que também diz muito sobre o que tenho sentido nesses últimos meses. Minha amiga querida Consuelo Rocha, ela me deu o nome completo, enorme para publicar, mas escolhi o Rocha pela fortaleza que ela sempre me passou, pelo olhar, pelo carinho firme e sorriso lindo que damos juntos, enfim, minha amiga Consuelo me deu este presente e compartilho com vocês.

"Acompanho um blog chamado "O Corpo Perturbador". Nele são postados vídeos de entrevistas feitas com pessoas as mais diversas. São duas as perguntas: o que te perturba e o que é um corpo perturbador.
Tenho pensado muito sobre isso. A consciência do envelhecimento é uma coisa que me perturba. Vi que chegou mais rápido do que eu esperava e não me preparei o bastante para isso. Não me preparei para a reação das pessoas ante o envelhecimento e o preconceito contra a idade.
Uma amiga uma vez comentou comigo como ela tinha gostado de Los Angeles e São Francisco. Lá, disse-me ela, os idosos vivem e não estão nem aí. Vestem roupas coloridas, saem, vão a bares, se divertem, vão dançar e por aí vai. A gente sente que eles são mais felizes.
Alguns hão de dizer que aqui é assim também. Não é não. Aqui espera-se um comportamento para cada faixa etária. Os mais velhos não têm o direito de curtir e demonstrar sua alegria de viver sem serem tachados de ridículos.  Não estou defendo o direito de perderem a noção ou de serem inconvenientes. Defendo o direito de serem felizes e demonstrarem tal felicidade. Por quê os mais velhos devem ser contidos?
Programa de velho aqui é restaurante.  Se pessoas de uma certa idade vão a um barzinho, todos olham.  Se são homens, estão caçando menina nova. Se são mulheres, estão procurando garotões. É esse o comentário geral.  Como se barzinho fosse coisa só para jovem. Só falta pendurarem um cartaz com os dizeres: "Proibido a entrada de maiores de 50 anos."
Um corpo perturbador para mim é essa carcaça que cobre minha alegria de menina, a intensidade dos sentimentos de uma adolescente e o prazer de uma mulher, como se ele (corpo) fosse o cartão de visita da minha essência.
Eu me recuso a deixar ser tolhida pela aparência do meu corpo. Meu corpo não deve dominar a minha alma ainda jovem. Eu aceito as rugas, a flacidez, a perda de massa muscular e meus cabelos brancos. Mas não aceito que retirem de mim a minha alegria de viver intensamente."

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um dia de cachu ou porque dança é corpo ou treinamento pro exército

Acordei sem acreditar no que estava acontecendo. O corpo moído pela apresentação passada, cansaço até de pensar, ser acordado com telefone gritando no pé de ouvido.... ahhh, isso me mata!!!!

Havia previsto me largar na cama, permitir meu corpo enjoar de dormir, brigar com o colchão, sair dolorido de preguiça, acordar quando não aguentasse mais ficar deitado. Ontem foi um dia cansativo. Além de insônia cotidiana, "nomadeira" em meu travesseiro, tivemos uma montagem complicada do cenário e o espetáculo demandou muito esforço, pelo menos para mim. Saí exausto, querendo silêncio, quietude e cama.

Quem assistiu ao espetáculo sabe o volume de cenário que temos, é muita coisa, o quebra-cabeça de isopor ocupa muito espaço, os canos de pvc também e o quartinho onde estavam guardados teria que ser liberado. Trouxemos tudo aqui para casa, porque no prédio há um mini-depósito na cobertura onde cada apartamento tem sua portinha. Como era noite e lá não tem luz, deixamos tudo na portaria para resolvermos de manhã.

Pois bem, aí começa o dia. O telefone tocou 8h da manhã. Minha cabeça, cotovelo, olhos, tudo doendo. Me arrasto pela cabeça capengando, quando soldado em guerra, pego o telefone, era o síndico  me dando orientações para o que eu deveria fazer com aquele mundo de coisas que estava na frente do prédio. Expliquei que iríamos resolver isso ainda esta manhã, que era uma situação imprevista.... enfim... ele foi muito delicado, mas a gente sabe o que queria realmente dizer, ne?

Acordo a amiga/produtora que estava mais cansada do que eu pois estava montou o cenário e depois desmontou, para ver o que ela conseguia resolver, porque no tal mini-depósito não cabia o material, aqui dentro de casa não dá. Que transtorno! Ficamos catando lugar que coubesse e alguém que deixasse colocarmos o "bagulho" todo lá. Enfim, conseguimos. Agora é aguaradr carreto!

Sempre me dizem "dança é corpo", mas eu com os resquícios de artista plástico, insisto em instalações. Deve ser porque não me garanto tanto no corpo, né? Estratégia inteligente de camuflagem.


quarta-feira, 13 de julho de 2011

A música que se dança

Hoje tive uma reunião com Cássio Nobre, compositor e músico da trilha sonora do espetáculo O Corpo Perturbador. Cda vez que escuto seu trabalho fico mais admirado e feliz pela escolha. Cássio é um artista muito sensível, delicado no trato com as pessoas, lindo, de musicalidade bela. Faz um trabalho extraordinário com o Samba Chula de São Braz e tem levado esse som aos quatro cantos do mundo. Me orgulha muito, eu que sou do recôncavo, do samba, estar ao lado de alguém como ele.


Cássio Nobre. foto de Nei Lima


Passamos mentalmente o roteiro da apresentação enquanto ele mostrava a trilha, as músicas. Somente a trilha já me dava a sensação do que eu sabia que era a cena, como ele captou tudo e mesmo indo por sentido oposto ao que a cena propões, fazendo contraponto, ele traz a essência da coisa pelo outro lado. Impressionante!

Esta trilha é bem especial mesmo. Ganhei, na verdade pedi de presente a Emilie Lesbros, uma cantora fancesa fantástica que trabalhei ano passado quando participamos do Euphorico, lá pelo sul da França. que me liberasse uma música que ela compôs em Polonês. Durante as conversas e entrevistas sobre o que perturbava as pessoas, o nazismo era um tema recorrente. Eu não sabia como encaixar isso no espetáculo sem ficar óbvio, sem diminuir a importância e a força que esse assunto tem. Como a Polônia foi um dos países que mais sofreram nas mãos de Hitler, eu achei que seria uma maneira de trazer para o projeto algo que era tão latente em todos, mas de forma sutil e justamente no momento mais violento que é a parte do jiu-jitsu. Me emociono em cena ao pensar no que aquilo pode trazer de significações a quem vê e com certeza ninguém pensa que pode ser também isso, porque da mesma forma que é a cena mais violenta é também a mais sensual.


Emilie, Fafá e Edu. Foto de Clênio Magalhães

E alguma coisa aconteceu, porque a primeira música que escolhi para o espetáculo, ainda quando eu nem sabia direito o que seria dele, foi Ostia, do Sepultura. Um metal maravilhoso, com uma sonoridade excelente. Eu nunca curti muito som pesado, ouvi pela primeira vez esta música e me rendi totalmente a ela. Me perturbou para valer!

Aqui a música maravilhosa Dla ciebie, num momento emocionante, tocando num violino muito antigo encontrado na parede de uma casa de amigos. No espetáculo está a versão oficial.

http://ocorpoperturbador.blogspot.com/2010/11/hitler-e-uma-cancao-polonesa.html

myspace de Emilie: http://www.myspace.com/emilielesbros
myspace de Cássio Nobre: http://www.myspace.com/cassionobre


Comemorando a apresentação de mais tarde, no Pelourinho, publico um video fodástico da banda Sapultura. Espero que curtam.




Ostia


The skies are open before meThe crowd of souls in sudden flightHoping for prayers in the world

Late repentant, no stain from hellI thought the worst had, I thought the worst had pastTraitors of the people, they have no faceI will not trust what I can not seeNone will have the time to strike a blow - the final blow

Hell - no stain from hellThose fools are the ones we vote forThe kings and rules of negligenceTaking a nation to lead in decayA shade announcing another lawCan not believe I couldn't escapeNo chance to leave this plagueI have to be cleansed, from all the blameThe final blow!

Ostia

Os céus estão abertos diante de mimUma multidão de almas em fuga súbitaNa esperança das orações em todo o mundo

Arrependimentos tardios, nenhuma mancha do infernoEu pensei que o pior tinha, eu pensei o pior tinha passadoTraidores do povo, eles não têm faceNão vou confiar naquilo que eu não possa verNada vai ter tempo de encontrar um golpe - o golpe final

Inferno - sem mancha do infernoEsses são os tolos que nós iremos votarOs reis e as regras de negligênciaTomada à conduzir uma nação em decadênciaUma sombra anunciando outra leiNão é possível acreditar eu não podia escaparSem chance de sair desta pragaTenho de ser limpo, a partir de todas as culpasO golpe final!

O Corpo no cyber espaço

A divulgação para a apresentação de amanhã está com a corda toda na internet e hoje saiu uma matéria grande na capa do caderno de cultura da Tribuna da Bahia.








segunda-feira, 11 de julho de 2011

Filho no mundo

Quando finalizamos (?) o processo d'O Corpo Perturbador fiquei pensando se ele teria vida longa, como seria a recepção do público e dos possíveis contratantes, o que aconteceria com este filho recém nascido. Porque cada projeto tem um caminho diferente e este era/é tão especial para mim e eu desejo tanto compartilhá-lo com um número grande de pessoas que possam refletir sobre as questões levantadas ali, que se perturbem, que cheguem junto com a gente.

Judite é um projeto surpreendente. Desde 2006 essa lagartinha não cansa de aparecer, as pessoas não cansam de assistir, os convites não param de chegar. Cada momento lindo que vivemos com este espetáculo, tantos desdobramentos.... Odete também chegou vitoriosa e ano passado houve um período intenso de conquistas e convites. Era o mesmo ano em que O Corpo Perturbador foi criado e como as pessoas estavam acostumadas com projetos meus delicados, sutis, com elementos delicados  em cena, fiquei apreensivo de como receberiam O Corpo, uma proposta mais agrassiva, forte, quase um tapa. Surpreendentemente o espetáculo conquistou a aprovação da maioria de quem assistiu, recebi textos incríveis sobre o projeto e  os convites não param de chegar. Isso me dá muita alegria, porque sou um artista que gosta de se colocar na vida e a forma melhor que encontrei para isso foi através do meu corpo.

Conversei esta semana com Cate, produtora do espetáculo, que para mim é difícil me definir num lugar de dançarino, artista plástico etc etc etc, não sei me rotular assim porque o que eu sinto que sou é apenas essa pessoa que se comunica através de algum suporte (corpo, tela, papel, palco, rua) seus pensamentos de mundo.

Quinta-feira vamos apresentar no Pelourinho, um espaço tão importante da cidade, onde encontramos o mundo todo ali e ao mesmo tempo nosso quintal. Todo tipo de gente para ver, assimilar ou rejeitar.

Filho quando vai pro mundo é assim, temos apenas qe torcer que tudo dê certo, que os caminhos se abram e faça sucesso.

foto de Nei Lima

sexta-feira, 8 de julho de 2011

#eusougay

Soube deste projeto no início, publiquei aqui sobre a iniciativa, amei a idéia. Agora com o resultado fico feliz em compartilhar com vocês o video. E a ação continua, pode mandar foto para o site e colocar na galeria.

Somos iguais justamente porque somos diferentes!

O diacho do ponto

Estou louco para Fafá chegar logo. Ganhar horas falando, reclamando e rindo. Conversar por email é uma bosta, porque sempre há o ponto final. O diacho do ponto que interrompe o pensamento, o fluxo. Nossos pensamentos não se esgotam no ponto e há ainda o complemento do pensamento da outra pessoa. Conversa escrita é difícil porque não dá para completar/complementar/interferir no pensamento do outro e to precisando tanto de interferências. Ontem precisei muito dos pensamentos dela, mas só nos encontramos em emails desencontrados em hora, em fuso horário confundindo tudo e atrasando conclusões.

Estou louco para minha mãe voltar de viagem. Ontem nos falamos por telefone, mas sempre a despedida, o toque de ocupado no final da ligação é como ponto final no email. Corta o fluxo, a emoção. A vontade de dizer tanta coisa, inclusive "fique mais porque estou vendo que você está feliz", escondendo o "volte logo porque você faz muita falta aqui em casa, aqui em minha vida".

Estou louco para ele voltar logo do trabalho. O beijo de bom dia é o ponto final da noite mal dormida em lençóis desarrumados. Queria prendê-lo no quarto, viver em reticências, mas os projetos e estudos também são pontos atrapalhando o beijo, o sexo. O cansaço é outro ponto.

Estou louco para terminar de escrever tantos projetos e dar um ponto final nesses dias para recomeçar novos parágrafos.

O ponto só é bom porque sabemos dos próximos parágrafos que teremos que escrever. Acabando um para deixar chegar o novo.

Mandala Alvorada - obra de Simone Bichara

domingo, 3 de julho de 2011

Tim Tim - entrevista

Foto de Gustavo Porto

Há muito tempo não publico entrevista. Retornei de São Paulo e queria trazer alguém comigo, fui procurando, muitos amigos já estavam homenageados aqui, Fê ainda não. Felipe é daquela lindeza de pessoa que encanta em foto, que encanta na delicadeza de lidar, com o sorriso, o olhar. Que bom ter este brinde na vida. Tim Tim, pai!

Nessa entrevista que Felipe Vasconcellos traz um tema que me perturba muito também: os rótulos, as classificações e a falta de reconhecimento do próprio corpo, um corpo sem liberdade. Aí reverbera na intolerância àqueles que se reconhecem, se assumem, se compreendem. Vem os dedos em riste arrotando arrogância e brutalidade, definindo o outro pelo te falta.

Falo sobretudo da homofobia que esta semana esteve em todos as rodas por causa da doença de Myriam Rios e por todas as discussões levantadas pela Parada Gay de São Paulo. E é preciso refletirmos sobre isso. É urgente alguma providência. Tive acesso a um texto maravilhoso de Eduardo Guimarães falando sobre os níveis de homofobia. Acho prudente a leitura e indico através deste link:

http://www.blogcidadania.com.br/2011/07/os-tres-niveis-de-homofobia/

Aqui deixo a delícia do Felipe nos fazendo pensar: