terça-feira, 29 de novembro de 2011

Manifesto Anti-inclusão

escrito por Estela Lapponi

Manifesto Anti-Inclusão parte_1

A Inclusão propõe hierarquia de capacidades.
A Inclusão é incapaz de ver e enxergar.
A Inclusão é incapaz de ouvir e escutar.
A Inclusão é simplesmente incapaz.
A Inclusão pressupõe passividade.
A Inclusão não interage.
A inclusão causa pena
A inclusão é unilateral 
A inclusão exclui
A inclusão isola

Manifesto Anti-Inclusão parte_2
colaboração de Lenira Rengel

Arte é conhecimento
Arte é habilidade
Arte é construção
Arte é diálogo
Arte é investigação
Arte é Ação
Arte é troca
Arte é liberdade
Arte é criação
Arte é expressão
Arte tem de toda pessoa
A inclusão quer te normatizar
A inclusão quer te excepcionalizar
A inclusão quer te paralizar
A inclusão quer te desconsiderar
A inclusão quer te desincorporar
A inclusão quer te ignorar
A inclusão quer te especificar
A inclusão quer te deixar só!

Arte e Inclusão estão na contra mão!
O significado das palavras vão além de sua semântica
Trazem em seu traçado gráfico e sonoro pesos e levezas históricas e arraigadas às mais diversas sociopoliticoculturas
O que quero propor aqui é que R-E-P-E-N-S-E-M-O-S
Sobre o significado e a significância que carregam as palavras Arte e Inclusão ou Arte Inclusiva

Sobre Estela Lapponi:
http://zuleikabrit.blogspot.com/

http://incena25.blogspot.com/

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

PASSEIO - Estela Lapponi



Sem conseguir falar nada, apenas silenciando o turbilhão que está aqui. O encontro com Estela Lapponi me perturbou desde que a conheci em 2007 e me transforma sempre. Que bom recbê-la no 2º Encontro O que é isso? de Dança e tê-la esta semana toda ainda conosco.

Links para os trabalhos dela:

http://incena25.blogspot.com/

http://zuleikabrit.blogspot.com/ - aqui você pode conferir o Manifesto Anti-Inclusão lido por Estela na abertura e encerramento do Encontro. Maravilhoso

sábado, 26 de novembro de 2011

Substituição à altura

Por imprevistos técnicos o espetáculo O Corpo Perturbador será substituido por Judite que chorar, mas não consegue!, amanhã, às 17h, no Palacete das Artes Rodin Bahia, no encerramento do 2º Encontro o que é isso? de Dança. Pedimos desculpas pelos transtornos, mas sabemos que é uma substituição à altura.


foto de Célia Aguiar

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Resposta de uma deputada sobre a votação da LEI ORGÂNICA DA CULTURA

Esta semana, alguns artistas e pesquisadores em Dança se mobilizaram para cobrar ação efetiva e a participação dos deputados na votação da LEI ORGÂNICA DA CULTURA para o Estado da Bahia. Enviamos email a todos os deputados cobrando um posicionamento. Voltaram muitos emails, mas tive a grata surpresa de receber um retorno da Deputada Neusa Cadore. Quando é para reclamar estou sem a postos, acho que devemos fazer justiça também. Transcrevo o email que recebi da referida parlamentar. Hoje o projeto de Lei estará novamente em votação, vamos ver se eles vão querer trabalhar mesmo e deixar de politicagem. O que interessa são as necessidades da população. Né não?

Prezado Eduardo Oliveira,

Muito grata pelo seu email e apelo. Parabéns pela mobilização!

É um exemplo de que cidadãs e cidadãos brasileiros cobrem da nossa atuação a defesa de direitos que proporcine benefícios para a sociedade.

Este projeto de Lei Orgânica da Cultura é essencial em nosso estado e vem corroborar com uma Política de Estado para a Cultura, definição de um Plano Estadual, pactuando com o esforço do Ministério da Cultura pela efetivação de um Sistema Nacional que comprometa os entes federados com a institucionalidade da cultura e facilita a canalização de recursos para o setor.

Estivemos, alguns deputados e deputadas na Sessão passada que, infelizmente, não contou com a colaboração da Bancada de Oposição que negou (em Plenário) cinco presenças para o quorum suficiente para a aprovação, bem como, a base do governo não foi suficiente naquele momento.

Nesta terça-feira, estaremos em maior número no Plenário, sobretudo por haver mais outros três projetos em votação a incluir o PPA - Plano Plurianual.

É uma grata surpresa a vossa manifestação e temos as melhores expectativas por esta aprovação nesta terça-feira!

Um abraço,

Neusa Cadore - deputada estadual
Assembléia Legislativa da Bahia

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Meu discurso e poesia

Há três semanas descobri uma osteoporose na coluna, o que me deixou triste e preocupado com meu trabalho em Dança. Principalmente em relação aO Corpo Perturbador que exige demais do meu corpo, tem muitos impactos, luta, quedas... A apresentação do dia 27/11, no Palacete das Artes, dentro da programação do 2º Encontro O que é isso? de Dança será a primeira depois desta notícia e estou ansioso para saber como me comportarei em cena. Porque por mais que eu diga que terei cuidado, que farei sem me machucar demais, eu nunca obedeço, chega na hora me jogo com tudo porque aquilo ali, aquele momento, é onde eu grito minhas perturbações, minhas inquietações, é onde meu discurso toma proporções e poesia.

Sobre a osteoporose

A osteoporose é uma doença que atinge os ossos. Caracteriza-se quando a quantidade de massa óssea diminui substancialmente e desenvolve ossos ocos, finos e de extrema sensibilidade, mais sujeitos a fraturas. Faz parte do processo normal de envelhecimento, e é mais comum em mulheres do que em homens. A doença progride lentamente e raramente apresenta sintomas antes que aconteça algo de maior gravidade, como uma fratura, que costuma ser espontânea, isto é, não relacionada a trauma. Se não forem feitos exames diagnósticos preventivos a osteoporose pode passar despercebida, até que tenha gravidade maior. A osteoporose pode ter sua evolução retardada por medidas preventivas.

Pode-se prevenir a osteoporose fazendo exercícios físicos regularmente: os exercícios resistidos são os mais recomendados; Dieta com alimentos ricos em cálcio (como leite e derivados), verduras (como brócolis e repolho), camarão, salmão e ostras. A reposição hormonal de estrógeno em mulheres durante e após o climatério consegue evitar a osteoporose.

Para quem já tem a doença, o cálcio pode ser dado em dosagens de 1 mil a 1,5 mil miligramas por dia, com recomendação médica. Pode ser acompanhado por suplementos de vitamina D.
No entanto, é importante ter o conhecimento de que, no tecido ósseo o elemento cálcio exerce importante papel, porém, depende para a sua fixação do estado da matriz protéica(colágeno) que deve apresentar os estados definidos como; adequado ou limítrofe. Sem a presença de uma adequada ou limítrofe estrutura de sustentação óssea, formada por 95% por colágeno ósseo, o cálcio não se fixará de forma adequada e não poderá exercer a sua ação originando a matriz secundária. Por essa razão, devemos sempre precedendo a ministração do cálcio com a finalidade de tratar a osteoporose, verificar o estado que se encontra a matriz protéica: adequada, limítrofe, inadequada ou deteriorada. Apesar do elemento cálcio ser importante para o funcionamento de vários órgãos sistemas, e por essa razão, deve ser ingerido diariamente, no caso da osteoporose instalada, quadro referido como de uma matriz mesenquimal deteriorada, diante do estado final de deterioração do colágeno ósseo, o íon cálcio desempenha uma ação ineficiente, porque estando a matriz protéica deteriorada não haverá, na tripla hélice do colágeno, ligações bioquímicas livres para o íon cálcio se fixar.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Osteoporose



foto de Nei Lima

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Deputados não comparecem para votação da Lei Orgânica da Cultura

Por que será que a Bahia está assim? Não precisa explicação para este "assim", né? Vou-me embora pra Pasárgada!
AL-BA: Deputados não votam Lei Orgânica da Cultura por falta de quórum
16/11/2011


Os deputados acabaram não votando o projeto de Lei Orgânica da Cultura na tarde desta quarta-feira (16). Segundo o líder da oposição, deputado Reinaldo Braga (PR), o governo não conseguiu colocar os 32 deputados necessários para manter o quórum necessário para votação. “O governo só conseguiu colocar 27 deputados. Nós, da oposição, estávamos lá, mas não marcamos presença porque foi acertado que o governo ficaria responsável por dar quórum”, argumentou.

De acordo com Braga, houve um acordo para que a oposição vote favorável ao projeto de autoria do Executivo. Entre os pontos do projeto, estão mudanças na escolha dos membros do Conselho Estadual da Cultura, assim como a criação do Plano Estadual e do Sistema Estadual de Cultura.

O líder do governo, deputado Zé Neto (PT), lamentou que não tenha conseguido “por pouco” o quórum para votação e disse que esta deve acontecer na próxima terça-feira (22). Para amenizar a tarde praticamente perdida, o petista destacou que o projeto já passou pelas comissões e que duas emendas da oposição foram aprovadas.

É a Gota D' Água +10



O Youtube retirou o outro video do ar. Vá entender!

Temos que agir rápido! Vejam o video. Assinem a petição. Divulguem para pelo menos 10 amigos. Não perde tanto tempo e ganha tanta coisa.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Do fundo do coração ou LOVE LOVE LOVE - Caio F.

fazendo a leitura deste texto no projeto
Fragmentos azedos sobre a língua - Samuel de Assis
Foto de Matheus Prestes


“Sempre acreditei que toda vez que a gente entra numa igreja pela primeira vez, vê uma estrela cadente ou amarra no pulso uma fitinha de Nosso Senhor do Bonfim, pode fazer um pedido. Ou três. Sempre faço. Quando são três, em geral, esqueço dois. Um nunca esqueci. Um sempre pedi: amor.

Nunca tinha tido um amor. O quê? Aos 35 anos, agitando desse jeito? Explico: claro que tive dúzias e dúzias, outro dia até tentei contar e me perdi na altura do número cento e trinta e muito. Mas tudo rapidinho, assim, uma hora, um dia, uma semana, um mês, pouco mais. Nunca, digamos, UM ANO. Então quando alguém suspirava e dizia cara estou saindo de um caso de DEZ anos, meu olho arregalava de pura inveja. Histórias mais compridinhas, claro que rolaram. Maria Clara, por exemplo, mas a gente morava, eu em Sampa, ela no Rio, amor-ponte-aérea. Caríssimo. Isso, das moças. Dos moços, aquele bailarino americano em London, London, quatro/cinco meses. Talvez seis? Numa tarde de compras e roubos em Portobello Road me deu de presente um cacto (perfeito!) e me deixou plantado até hoje. Esse era amor-de-metrô, último trem entre Hammersmith e Euston. Onde andará? (“Onde andará?” é das perguntas mais tristes que conheço, sinônimo de se perdeu.)

Eis que de tanto pedir, insistir, acender vela, fazer todos os feitiços para Santo Antônio e Oxum e concentrar, rezar, mentalizar, eis que pintou. Ano passado me baixou um encosto de São Francisco de Assis, joguei (literalmente) pela janela quase tudo que tinha e, com duas malas, parti para o Rio. Não queria mais me prender a nada. Nem a Sampa, bem-amada. Numa ida a Porto Alegre, em agosto, deu-se. Explosão: à primeira vista. Tudo o que dissemos, depois de um longo suspiro de alívio, foi: eu amo você. Pasmem: verdade das verdadeiras. Ousadias do coração que saca, na hora, a intensidade do lance. E não disfarça. Bueno, tinha pintado.

Então tá. Romance comme il faut: dias numa casinha no meio de bosques em Gramado. Depois a volta ao Rio e, como dizia Ana Cristina Cesar (Aninha, Ana C., a bela, que falta você me faz menina fujona!), “amizade nova com o carteiro do Brasil”. Laudas e laudas de cartas de amor, uma por dia, duas por dia, dez por dia. Fotos, poemas, juras interurbanas. Voltei. Nós fomos os dois para o Rio. Dois meses lá: o amor resistia, mas nenhum estava a fim de pegar no pesado. Então fazer o quê? Dividir quarto pensão na Lapa, andar de ônibus, comer espiga de milho e misto quente? Nenhum acreditava em teu-amor-e-uma-cabana, também não era preciso teu-amor-e-um-rolls-royce (seria ótimo), mas pelo menos uma vitrolinha para fazer amor ao som do Bolero, de Ravel (amor tem desses lugares-comuns quase inconfessáveis). Voltamos. Verão em Torres. Camas de trinta horas. Passeios. Dunas, praia da Guarita. Filme. A sunga verde de lycra.
De repente uma luzinha vermelha começou, cigarro no escuro, a piscar dentro de mim. Foi no carnaval que passou. Suspeitas: porra, eu me afastei de tudo, de todos, joguei tudo pro alto e só quero esse amor, nada mais me interessa, se esse amor me faltar (pode?) eu só tenho isso, é o único laço que me prende à vida - e se faltar, Deus, se faltar o que faço? Noites paranóicas, medo Ritchie. E… se dançar? Aí dançou. Foi dançando. Não sei bem como. Uma tarde peguei nas suas mãos e, bem cruel (punhais: como a gente sabe apunhalar com engenho e arte, crava devagarinho a lâmina, depois revira, dentro da ferida), pedi assim: olha bem dentro dos meus olhos e me responde à seguinte pergunta: “Você não me ama mais?”.

Silêncio tão espesso que consegui ouvir o ruído do movimento de rotação da Terra. Feito nas novelas das seis, eu abri a boca quando ouvi a resposta. Um lento Não. Um claro Não. Um seguro Não. Um límpido Não. Um tranquilo Não. Um sem dúvida alguma Não. Um afirmativo Não. Repete, pedi. Repetiu. Pede-se não enviar flores, pensei. Fechei a porta. Fiquei só, chovia. Com requintes de autopiedade, limpei devagarinho com feltro um disco da Elis, deitei no chão e ouvi umas cem vezes “Se quiser falar com Deus”. Quando já ia abrir o gás, corri para o telefone e pedi ao Zé Márcio Penido em Sampa: socorro. Vem, ele disse. Santo amigo. Fui, na mesma hora. Me estonteei, vi todos os filmes, todas as peças, revi todos os amigos, ouvi todos os discos, namorei o que deu. Tinham sido NOVE MESES de fidelidade, no amor-amor, é sempre supernatural. Quando decidi estou-ótimo-fullgás-total-posso-voltar, voltei. The reencontro: quando dei por mim estava dizendo as coisas mais duras e agressivas e cruéis e impiedosas e injustas e ferinas e baixas e grossas que uma pessoa pode dizer à outra.

Comecei a me perder pela cidade. Selecionei vinte gatos & gatas mais lindos do pedaço, dez semifinalistas, cinco finalistas, transei todos. Saí sem parar. De bar em bar, telefone tocando sem parar. Explodindo de vitalidade e saúde e sedução: capacidade de superação. Puxa, gente, como sou maravilhoso, como sou maduro e equilibrado, como sei dar a volta por cima, como não sou careta, como sou moderno e liberadésimo. Aí, desabou. Dez dias. De manhã bem cedo, chegando da vida, percebi uma pequena rachadura na parede externa do edifício. Avançava lentissimamente. Ao meio-dia rachou de alto a baixo. O edifício veio ao chão: me interna, pedi pra mãe, estou infeliz pra caralho. Peguei o pacote de cartas que tinha pedido de volta (fiz absolutamente todos os números, o problema é que a plateia estava vazia: ninguém aplaudiu minha melhor sequência de sapateado), coloquei aos pés de Ogum.

E agora, Caio F.? Agora, estou amanhecendo. Ah, me digo, então era assim. Essa coisa, o amor. Já conheço? Já conheço. Mas como é mesmo que se chama? Também não estou certo se estarei mesmo amanhecendo. Talvez, sim, anoitecendo, essas luzes penumbrosas são muito parecidas. Não sei muita coisa. Quase nada. Pedi? Levei. Nunca tinha sido tão intenso, nem tão bonito. Nunca tinha tido um jeito assim, tão forever. Não me diga que vai passar, vai passar, vai passar, vai passar. Não me diga que foi ótimo, o que você queria, a eternidade? Não me peça para não te encher o saco lamuriando. Posso não saber nada do coração das gentes, mas tenho a impressão, de que, de tudo, o pior é quando entra a segunda parte da letra de “Atrás da porta”, ali no quando “dei pra maldizer o nosso lar pra sujar teu nome, te humilhar”. Chico Buarque é ótimo pra essas coisas. Billie Holiday é ótima pra essas coisas. E Drummond quando ensina que “o amor, caro colega, esse não consola nunca de núncaras”. Aí você saca que toda música, toda letra, todo poema, todo filme, toda peça, todo papo, todo romance, tudo e todos o tempo todo, antes, agora e depois, falam disso. Que o que você sente é único & indivisível e é exatamente igual à dor coletiva, da Rocinha a Biarritz. O coro de anjos de Antunes Filho levanta no ar, em triunfo, os corpos mortos de Romeu e Julieta enquanto os Beatles pedem um little help from my friends, e a plateia ainda aplaude de pede bis (o Gonzaguinha também é ótimo pra essas coisas). Meus amigos, abandonados para que eu pudesse mergulhar, voltaram a mil. Tem seus prazeres o fim do amor. Se é patologia, invenção cristã-judaico-ocidental-capitalista, ou maya, ego, se é babaquice, piração, se mudou-através-dos-tempos, puro sexo, carência, medo da morte: não interessa. Tenho certeza que estive lá, naquele terreno. Ele existe.

Por isso falo dele: Joyce e Paula me pediram elucubrações, as minhas são estas. Estou contando a vocês que estou fazendo elucubrações sobre o amor porque provavelmente, de uma outra forma vocês aí que me leem, talvez com tédio, também estão pensando a mesma coisa. O bicho homem não faz outra coisa a não ser pensar no amor. Até as relações de produção, a luta de classes, a ecologia, o jogo pelo poder: tudo, questão de amor. Formas de amor. Amor é palavra que inventamos para dar nome ao Sol abstrato em torno do qual giram nossos pequeninos egos ofuscados, entontecidos, ritmados. A vida toda. Mas se me perguntarem o que quero dizer com isso, não tenho resposta.

O que quero dizer é justamente o que estou dizendo. Não estou com pena de mim. Tá tudo bem. Tenho tomado banho, cortado as unhas, escovado os dentes, bebido leite. Meu coração continua batendo - taquicárdico, como sempre. Dá licença, Bob Dylan: it’s all right man, I’m just bleeding. Tá limpo. Sem ironias. Sem engano. Amanhã, depois, acontece de novo, não fecho nada, não fechamos nada, continuamos vivos e atrás da felicidade, a próxima vez vai ser ainda quem sabe mais celestial que desta, mais infernal também, pode ser, deixa pintar. Se tiver aprendido lições (amor é pedagógico?), até aproveito e não faço tanta besteira. Mas acho que amor não é cursinho pré-vestibular. Ninguém encontra seu nome no listão dos aprovados. A gente só fica assim. Parado olhando a medida do Bonfim no pulso esquerdo, lado do coração e pensando, pois é, vejam só, não me valeu.”

*Texto de Caio Fernando Abreu na revista Around, por volta de 1985. Retirado do livro “Para sempre teu, Caio F.”, de Paula Dip.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Eu, em Fragmentos



Voltei para casa completamente perturbado com esta viagem ao Rio. Fui à cidade maravilhosa a convite de meu amigo-amado Samuel de Assis que reestreou seu monólogo “Fragmentos Azedos Sobre a Língua”, sábado passado, direção de Bruno Marcos e texto de Caio Fernando Abreu. Samuka arrasou com sua interpretação comovente e irretocável. Um artista raro, com tamanha entrega, verdade, generosidade. Sutil e escandaloso na medida certa. A platéia que lotava o teatro Maria Clara Machado, no Planetário da Gávea, saiu em êxtase naquela noite que contou ainda com a leitura do conto “os Sapatinhos vermelhos”, feita por Luana Piovani. Apesar da estrela reluzente dela, a noite era mesmo de Samuka. Bravo! Bravo! Bravíssimo! Ainda tem a lindeza da exposição Encontros, de Felipe Vasconcelos.


No domingo foi a minha vez de ler o texto “Do fundo do coração ou Love Love Love”. Nervoso, tremendo que nem vara verde, com receio pela ousadia de estar ali, logo depois de Samuel. Eu que sou artista do corpo e não da voz, mas que tem Caio F. pulsando em mim, portanto latejando no meu corpo suas dores, sua ironia, seus amores e poesia. Fiquei muito feliz com o resultado e o acolhimento do público.


A viagem foi perfeita, rápida e forte como uma golada naquela vodka do cenário. Samuka, meu amor, muito obrigado por tudo. Pela oportunidade, confiança, generosidade. Obrigado por todos os reencontros: Vani, Matheus, Fê, Júlia, Laura, Wagner, Bruno, Renata (esqueci alguém? Com certeza) e todos os novos que chegaram: Lua, Roberta, Antero, Bruno, Idna (?), Lene, Renata, Embrulho, Daniel, família Marini........................ Só amor, afeto, cuidado, delicadeza e muitas gargalhadas. Voltei recomposto para o trabalho, para os compromissos.


Ângela Rô Rô é a principal trilha de “Fragmentos...”, o momento em que toca “Gota de Sangue” é um dos mais doloridos, momento carpideira da peça. Por isso, é ela quem ilustra este post.


Obs: amanhã publicarei o texto que eu fiz a leitura.
Obs: a temporada de "Fragmentos..." vai até dia 18/12, sábado (21h) e domingo (20h). Imperdível!



fotos de Matheus Prestes

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pátria Minha

Vinicius de Moraes

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."

* porque quando estou assim somente Sto Amaro me entende e me acalma.

Alguma coisa acontece aqui

Tem alguma coisa estranha acontecendo aqui. Coração apertado, falta de riso lá dentro, acordando com susto e sem vontade de acordar. Tem descompassos, tem muita coisa.

O corpo treme, a mente se assusta e os olhos... ah os olhos já não vêem mais o que viam.