terça-feira, 29 de maio de 2012

Poema sem nome porque não se encerra

É que tudo parece ter a ver
Vezes que deixei de tudo por tua causa
Vezes que inventei uma calma
Cuecas que envelheceram
Sabão na tua vontade?
Querer demais é qualidade
Amar demais é desespero
O casamento é um desterro
Velha mágoa que se cala
O peito vinga-se na pirraça ao saber do teu vício
Vício são as minhas entranhas
O olhar já te cobra sempre
Mas beija tua boca e prefere se mentes
Aguentaria te perder

Devo ter publicado isso em todos os blogs, já usei em improvisações, já chorei, repeti 50 vezes no banho, queria ter escrito. Este texto de Líria Morays me emociona tanto e de vez em quando me vejo sussurrando, não sei para quem. Talvez para mim mesmo quando percebo que ando me perdendo. O texto não tem título, não tem nome, provavelmente porque palavras não lhe encerram. A primeira vez que ouvi foi no espetáculo Aceito, coreografia de Clênio Magalhães com Líria. Este parceiro eterno do blog e da vida.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Abuso da midia sensasionalista


Defensoria apura situação de jovem entrevistado por repórter da Band
Quarta, 23 de Maio de 2012, 19h19 - última atualização: 23/05/2012 19:20
Por Cathy Rodrigues/Jornalista


Estiveram presentes hoje (quarta-feira), na 12ª Delegacia Circunscricional de Polícia de Itapuã, em Salvador, os defensores públicos Fabiana Miranda e Rodrigo Assis para acompanhar o caso do acusado de assalto e estupro Paulo Sérgio Silva Sousa, de 18 anos. O fato está sendo apurado em ação penal que tramita na 8ª Vara Crime. Ao ser entrevistado por uma repórter do programa “Brasil Urgente Bahia”, da Rede de TV Bandeirantes, o jovem nega o estupro. No entanto, a reportagem, a jornalista afirma que ele “não estuprou, mas queria estuprar”, em seguida, o ridiculariza por confundir exame de corpo de delito com exame de próstata, ele chora e ela o chama de estuprador.
O caso ganhou repercussão nacional desde ontem (terça-feira), contudo, o acusado foi preso no dia 31 de março e, desde então, está preso na Delegacia de Itapuã. A entrevista em questão foi realizada dois dias após sua prisão. De acordo com a defensora pública e subcoordenadora da Especializada de Proteção aos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado da Bahia, Fabiana Miranda, os direitos da personalidade são essenciais à vida humana e visam a preservação de sua dignidade, bem jurídico inerente ao ser humano. “A honra e a imagem são direitos da personalidade, sendo inatos, inseparáveis da pessoa, não podendo o ser humano se privar deles”, declarou.
Ainda de acordo com a defensora pública, a reportagem utilizou a imagem do acusado para humilhá-lo, achincalhá-lo, expô-lo ao ridículo, apenas com o intuito de utilizá-lo em uma tentativa de angariar audiência, de forma sensacionalista, às custas da violação da sua dignidade: “A repórter não se limitou ao dever de informar, atingiu cabalmente a honra, a dignidade e a imagem do detido”.
O detido já conta com a assistência jurídica, o que deslegitima a Defensoria Pública da Bahia a adotar qualquer medida. “Viemos aqui para ver as condições em que se encontra Paulo Sérgio e oferecer nossos serviços, pois a Defensoria é uma instituição que está a disposição de todo cidadão em situação de vulnerabilidade. Outra questão importante é que não é possível conceber a devida justiça neste caso sem uma ação por danos morais. As imagens confirmam o abuso no exercício da informação e da manifestação do pensamento da repórter. A reportagem violou a Constituição Federal em seu inciso artigo 5º, inciso X”, afirmou o defensor público Rodrigo Assis.
Paulo Sérgio é réu primário, vive nas ruas desde criança, apesar de ter residência em Cajazeiras 11. Tem seis irmãos, é analfabeto e já vendeu doces e balas dentro de ônibus. Ao ser questionado sobre como se sentiu durante a entrevista, ele diz: “Eu me senti humilhado, porque ela ficou rindo de mim o tempo todo. Eu chorei porque sabia que ali, eu iria pagar por algo que não fiz, e que minha mãe, meus parentes e amigos iriam me ver na TV como estuprador, e eu sou inocente”.

Texto retirado do site da Defensoria Pública 


quarta-feira, 16 de maio de 2012

Proibiram meu beijo - Homofobia NÃO

Lembro que passei por uma situação constrangedora num tal beco do Rio Vermelho. Um lugar conhecidamente frequentado pelo público gay, portanto sustentado por este pessoal. Não me coloco no meio de quem paga a luz, os funcionários, o gás, a água, enfim, daquele lugar porque tive apenas uma e fatídica experiência.

Estávamos numa mesa com umas seis pessoas e eu todo apaixonadinho pelo namorado de São Paulo que passava férias, já em final de viagem. Era natural querer ficar o mais próximo possível, de mãos dadas. Na leitura do cardápio nos demos um selinho, atitude suficiente para o proprietário do bar largar o que estava fazendo e começar a nos ofender e ser grosseiro e ameaçar nos colocar para fora. Se aquilo se repetisse nós saberíamos o que ele faria. Não preciso falar do mal estar que se instalou ali, na vergonha que senti porque só queria mostrar o melhor e me senti culpado por ele passar por aquela situação, os amigos presentes.... mas eis que começamos a ouvir as outras mesas gritando, batendo palma, solidários a nós "viva o beijo!", "viva o amor, o afeto!", "viva o beijo!!!" e todos começaram a se beijar e esvaziamos o bar imediatamente.

Infelizmente, amigos meus que sabem deste episódio continuaram e continuam frequentando aquele bar que deveria estar fechado e o seu dono falido, punido. Procurei advogados que não souberam, na época (2003), o que fazer. Acho que algumas coisas mudaram, até melhoraram em relação à denúncia, mas muitos morrem pela intolerância, ignorância, violência. É preciso estar atento e forte!


terça-feira, 15 de maio de 2012

Medo de mim

Aquele corpo pequeno, pernas finas, coluna torta, se arrastando pelo meio da casa dava medo na empregada que pediu demissão no dia seguinte ao primeiro de serviço. Era estranho sair da cozinha e ver um pezinho no chão entrar no quarto ou então ao bater na porta da rua não ver quem abriu a porta na minha frente, só depois me dar conta que a pessoa estava embaixo, dizia ela.

Aquele corpo dava medo porque aquela mulher não o conhecia, não tinha hábito de vê-lo desfilar agilidade diária, sorriso, beleza (?). A sua beleza. O medo vem da ignorância, do desconhecimento. De certa forma a mulher deu um poder àquele corpo que ele, no fundo, não tinha. Medo acaba quando o enfrentamos. É difícil enfrentá-lo, alguns nunca conseguem e perdem empregos, perdem tempo, perdem a própria vida.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Varal de flutuações


Foi a coisa mais simples que vi pelas bandas de lá e talvez por isso, talvez não, com certeza foi o que mais me tocou o afeto. Compartilhei este momento, hoje, com a turma do mestrado. O nome do arquivo estava China e alguns pensaram que eu levaria algo completamente diferente, super-ultra-mega sei lá o que e comecei minha fala dizendo: é apenas um varal, o meu varal de Santo Amaro que encontrei lá. Constantemente vemos na China varais espalhados no alto das casas, na porta da rua. é uma cena linda. Numa cidade enorme, com edifícios tão contemporâneos, tem os sobrados e seus varais. Ali me indicava vida, vendo aquilo dava pra sentir no cheiro de comida de vó, chá, pão quente e manteiga. Nem sei se eles comem isso.

Acho que com todo mundo é assim, comigo é muito forte, não consigo me desgarrar de tudo que me formou, me fez. O varal de meu avô foi meu trabalho de conclusão de curso da Escola de Belas Artes. Eu não tinha moldura para colocar umas colagens que eu fiz e não queria colocá-las naqueles quadrados tradicionais, feios... meu velho morreu nas vésperas da exposição de formatura. No dia do seu sepultamento, quando me despedi de sua casa, lugar que vivi grande parte de minha vida e que a partir de então eu não mais entraria, me deparei com um varal feito de arame duro, torcido, velho e imediatamente peguei para pendurar meus trabalhos que se transformou numa instalação com foto, desenhos, all-star pendurado, luva de figurino, chapéu, papel de bombom, tudo que fazia parte daquele momento que eu vivia e que a faculdade tinha, de certa forma, transformado meu olhar em arte. Pegadas na parede....

Na aula, agora de mestrado, apresentei o video feito em Pequim como imagem correspondente ao momento da minha pesquisa e li um texto, que transcrevo aqui um trecho:


A figura não isolada do entorno. Repetição de hábitos e a dança flutuante a mercê dos ventos. O fundo enraizado sustenta as folhas, diversidade com possibilidade de queda que também pode ser mudança, renovação. Necessárias mudanças para o fluxo do processo. Há corpos nas roupas penduradas que bailam nas ruas. Corpos invisíveis que se fazem ver porque há vida-história em tudo ali. Carreguei para o outro lado do mundo todas as minhas vivências e trouxe de lá bagagem pesada das experiências novas. Organização de idéias... ou seria desorganização das idéias¿ Fagulhas de porvires desconhecidos, mas pressentidos. Novamente necessárias mudanças, angústias, desespero. E aquela tranqüilidade registrada em vídeo não se fará presente¿ Rua pacata, árvores que são apenas o que são e isso não é pouco. Ser o que é, não representação do que se pretende ser. Vestígios de afazeres cotidianos, utilidades.

Agora estou silenciando para não vazar desnecessidades. E no final há uma placa de cuidado ao atravessar.

*Flutuação na Teoria Geral de Sistemas significa CRISE

domingo, 6 de maio de 2012

Diga-me quem és que eu te direi com quem andas

Sou aquele torto com pensamento fora do tempo, tentando ficar lúcido nesse tempo de agora, com picos de loucura.

Sem medir valor e sem saber se está além ou em tempos idos, sou aquele das coisas simples, importantes, dando a volta ao mundo sem vê-lo girar.

Sou o que fala alto, gargalha, chora e silencia.

Sou esse que não sabe porque dizer essas coisas, mas diz.


sábado, 5 de maio de 2012

Quando fiquei pequeno em Pequim



Estar do outro lado do mundo, para mim, foi mais impactante por pensar geograficamente. Andando numa rua da China encontrei um globo terrestre e precisei, como criança, comprovar o que é óbvio, mas não cai a ficha quando estamos vivendo. Coloquei um dedo no Brasil e percorri o trajeto que fiz até chegar lá. Posição oposta naquele mundo de mentira. Eu estava de verdade naquele ponto distante.

Confesso que não me senti em outro universo, mundos distintos, outro planeta. Não. O Oriente se ocidentalizou, a publicidade faz seu massacre em todo canto. Mesmo assim foi incrível! Foi como num sonho e eu ainda não acordei.

Em muitos momentos me senti um CORPOESTRANHO, CORPOPERTURBADOR. Eles tiravam fotos, me olhavam curiosos e meio escabreados, tímidos. Não somente pela cadeira de rodas, mas também por ser ocidental. Com outros dançarinos do Candoco, companhia de dança que me levou para lá, eles paravam na rua para perguntarem coisas, tirarem fotos... situação curiosa e engraçada.

Comi escorpião, enguia, água viva. Vi lugares inacreditáveis, coisas incríves. Palácios, templos, varais dançando nas ruas e sinos cantando baixo e constante. barcos flutuando como se fosse em nuvens. E eu pequeno diante de tudo aquilo, sentia o quanto crescia aqui dentro.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Deficiência em Cena

Carolina Teixeira foi a preparadora corporal d'O Corpo Perturbador, minha amiga querida e uma referência no meu trabalho, realizará nesta próxima quarta-feira (09-05), aqui em Salvador, o lançamento de seu livro Deficiência em Cena, no Ciranda Café, Cultura e Artes - Rua Fonte do Boi, Rio Vermelho, a partir das 19h.


"O trabalho tem como meta expor uma investigação acerca do corpo deficiente na cena artística brasileira com base na experiência construída junto a Roda Viva Cia. de Dança. O trabalho busca a reflexão sobre a questão destes corpos até então considerados incapazes para tal prática e que inauguram na cena artística um despertar para novas possibilidades estéticas de movimento, criação e produção artística". - Carolina Teixeira