sexta-feira, 22 de junho de 2012

O meu horizonte é o seu umbigo


Kevin Connolly é um fotógrafo americano que retrata o mundo a partir de seu ponto de vista. Nasceu sem pernas e produz imagens, lindas, numa perspectiva diferente do que o padrão visual está acostumado. Eu fiquei fascinado pelo seu trabalho que me foi apresentado por uma amiga, Martha Galrão. Sempre desejei pesquisar se há alguma influência na forma de ver o mundo porque enxergo o mundo num outro nível. O meu horizonte são os umbigos. Fico pensando sobre as questões relacionais. Inconscientemente será que o mundo acredita ser superior a nós porque nos olha de cima, e nós, embaixo, lançamos um olhar que se aproxima dos olhares submissos. Não sei se é viagem, se isso tem a ver. 

Cenas cotidianas, como nesta imagem de uma família na rua, se tornam interessantes por causa da perspectiva e também parece transformar as dimensões das coisas. adorei demais!!!

Confesso que muitas vezes me aproveitei dessa condição, principalmente no carnaval quando encontrava alguns corpos deliciosos e bundas apetitosas. Como meu campo de vista e de ação são as partes mais baixas do outro, eu como quem não queria nada, dava uma alisadinha e pedia licença com a cara mais inocente do mundo. Quem iria saber o que se passava nessa cabeça pervertida?

Eu não tive a ideia, nem a capacidade de transformar isso em arte, como fez Kevin Connolly. Preferi ficar na bagaça mesmo e viver desejando o próximo carnaval.



fotografias de Kevin Connolly

Kevin fotografado por Jon Stone


quinta-feira, 21 de junho de 2012

Indignação

Parece que virou de mau gosto mostrar sua indignação com o que é indigno.


Monclar Valverde

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Difícil é ser humano e conviver com os humanos, meus irmãos

O difícil é ser humano e conviver com outros humanos, esses meus irmãos, aqui nesta terra d'Oxum. Está ficando impossível manter a alegria e a calma ao sair em Salvador. É sempre a certeza de aborrecimento, mau cheiro, falta de educação.... fora que para um cadeirante é a certeza de impossibilidade de locomoção, participação na vida social do lugar. Sem acessibilidade, você fica refém e dependente da boa vontade e paciência alheia.

Hoje fui assinar um contrato na Fundação Cultural do Estado da Bahia que está localizada, atualmente, no prédio do antigo Liceu de Artes e Ofícios. Lugar sem estacionamento e péssimo para conseguir parar o carro. Tive o cuidado de perguntar com antecedência sobre o melhor procedimento para evitar transtornos, acertei com a pessoa para que tudo estivesse pronto na minha chegada, com medo de atrapalhar tanto o funcionamento da instituição quanto do taxista que me levou. Sim, porque transporte público para cadeirante aqui só mesmo táxi. Era impossível chegar até ali por outro meio. Nisso você imagina o valor da corrida que é exorbitante nesta cidade que vive para quem vem de fora, seus habitantes não valem nada.

Como seria mais rápido eu assinar as 3 folhas de papel dentro do carro, do que parar, tirar a cadeira, montar as rodas, colocar almofada e os pés, fazer a transferência e entrar na casa. Comecei a assinar no painel mesmo. Mas, eis que surge um irmão humano, demasiadamente humano e começa a buzinar sem fim. Com a mão pesada descarrega grosseria. Repito, foi mais rápido (menos de 2 minutos) assinar ali do que fazer todo o procedimento da cadeira. Para completar o policial que estava na esquina, aquele animal, aliás não, animal só ataca para se defender e matar fome, aquele outro humano, chegou com toda arrogância que aquela farda lhe proporciona, pensando ter poder e desfia outra série de grosserias, além de ameaçar multar o táxi do rapaz que me prestava serviço.

O que ele não entende é que um Estado que não atende às mínimas exigências de acessibilidade, um Estado corrompido e burro, mergulhado na mediocridade e soberba, um Estado que se considera superior àqueles a quem ele deve satisfação... este Estado que não cumpre suas obrigações, não deveria, pela representatividade que ele, o policial, significava naquele momento, não deveria, nem poderia ameaçar ninguém por estar causando transtorno e danos a quem quer que seja. Porque tudo começou porque este Estado já causou um dano indescritível em quem não pode correr contra este sistema. Se a acessibilidade fosse respeitada e efetivada, nada disso teria acontecido.

Eu, humano que sou, errado por nascer, entendo "Um dia de fúria"!


segunda-feira, 11 de junho de 2012

Inacessibilidade nas lojas Centauro

Resposta que dei à loja Centauro, agora a pouco, quando eles me procuraram para dialogar sobre minha reclamação na última sexta-feira:

Bom dia, me chamo Carlos Eduardo Oliveira do Carmo (Edu Oliveira no facebook) e fiz uma reclamação, nas minhas redes sociais, sobre a loja Centauro, sexta-feira. Agradeço de antemão a disponibilidade de diálogo.

Pela segunda vez tenho problemas com a citada loja no Shopping Barra-Salvador. Sou cadeirante, autônomo, viajo sozinho para todos os lugares, sou coreógrafo e dançarino profissional com um relativo reconhecimento aqui na cidade pelos trabalhos que desenvolvo. Acho importante destacar essas coisas porque todos sabem que sou uma pessoa independente e que sou militante pelas causas de acessibilidade, inclusive, estou fazendo mestrado sobre políticas públicas de inclusão, justamente para poder ter conhecimento e tentar mudar a consciência e as atitudes de alguns setores da sociedade.

Na referida loja, ela segunda-vez, fui impossibilitado de efetuar o pagamento da minha compra porque não há nenhum balcão rebaixado para atendimento ou para cadeirante, ou para anão, ou para qualquer outra pessoa que tenha uma estatura menor, quer seja deficiente ou não. Eu já fiz esta reclamação anteriormente, mas me parece que a loja não compreende que desta forma exclui alguns clientes que não podem se dirigir ao balcão.

Na ocasião, eu estava acompanhado de minha irmã que perguntou à funcionária do caixa onde era o atendimento preferencial. Esta, em tom de ironia, sem ter me visto porque o balcão impede, perguntou se seria para minha irmã este atendimento. Esta apontou em minha direção e eu comecei a balançar os braços para que a funcionária pudesse ver que existia alguém ali embaixo. Fomos informados que qualquer caixa era preferencial e no momento do meu atendimento, não pude efetuar o pagamento porque a máquina do débito não tinha fio que chegasse até a mim para digitar a senha. Queriam que eu digitasse minha senha de maneira que todas as outras pessoas que estavam atrás de mim conseguiriam ver algo que é sigilosa e pessoal. A pessoa do caixa chamou outro funcionário que ao ser questionado por mim, informou que o balcão é padrão em todas as lojas Centauro. Ou seja, TODAS AS LOJAS CENTAURO descumprem uma lei de acessibilidade que prevê atendimento preferencial às pessoas com deficiência. Resolveram então mudar a máquina e foram, no momento do atendimento, tentar fazer a máquina sem fio funcionar, não tenho conhecimentos tecnológicos para entender como estava sendo feito isso. O fato é que, após ajustarem aquilo, me deram uma máquina que não processou minha compra.

Diante do constrangimento e do aborrecimento, saí sem poder levar a bomba para encher o pneu da minha cadeira de rodas, irritado, com a certeza de que nunca mais entrarei nesta loja.

Sem mais

Edu O.