quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A ausência do corpo

O que perturba meu corpo, hoje, é a ausência do corpo dele. Falando assim pode parecer injusto já que é meu corpo que normalmente se ausenta em viagens longas, despedidas compridas, oceanos que transbordam em dias, semanas... e amor é isso, junção de corpos-vidas e agora é a minha que vai, houve tempo em que minha vida era ficar e por isso sei também o quanto ele sente, as noites, os pesadelos... não, os pesadelos são meus aonde quer que eu esteja e é sempre o pensamento, o colo, o cheiro dele que acalma o soluço na madrugada e me faz novamente dormir.

Hoje ele foi ali rapidinho, já volta em menos de 24 horas, mas meu corpo já sentiu sua falta no bater da porta, na pressa do corredor, no esquecer da chave, na impossibilidade do beijo.

Eu que ando indo por aí, sofri por ter ficado.

sábado, 1 de setembro de 2012

O choro de cada dia (para Milton Nascimento e meu avô)



Tenho derramado todas as manhãs. Cada dia por motivos diferentes, por motivos que eu nem sei.

Ontem. Como o desejo era tão forte e eu havia acabado de acordar, eu não sei se sonhei-pensei-senti o cheiro de meu avô. Imediatamente me veio o nó, a vontade de chorar e a cachoeira derramando. Havia delicadeza naquela lágrima, havia alegria por tê-lo tido na vida, havia saudade e vontade de que ele continuasse aqui, embora a idade avançada e a certeza de que não viramos sementes. Chorei um choro tão gostoso e solitário que naquele café da manhã londrino só faltaram a torradas que ele fazia.

Hoje acordei irritado com uma italianada mal educada fazendo barulho no corredor, mas o que me fez chorar foi ouvir Milton Nascimento. Sinto tanta pena dessa geração nova que nem deve conhecê-lo, não porque não tenham interesse, mas a mídia é negligente, perversa, nos priva do contato com o que há de sublime, com o que nos transforma em seres singulares, únicos. A mídia nos faz padronizados, impõe os mesmos gostos, os mesmos sons, as mesmas bundas.

Talvez eu tenha chorado de alegria por ter tido oportunidade de inúmeras vezes ouvir Milton Nascimento, a voz masculina preferida de minha mãe, de gostar também do que a cultura de massa apresentava, mas havia de tudo. Os artistas também foram se vendendo para não sair da telinha, da capa de revista, do sofá colorido do castelo. Milton não precisa. O que ele produz é tão sublime (transcende o belo), é tão divino.

Milton é mito e meu avô são deuses!