terça-feira, 27 de novembro de 2012

Um corpo inspirador


Por Maíra Spanghero

A primeira vez em que contato com o projeto O Corpo Perturbador foi através de Diane Portella no final de 2010. Eu estava na Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia esperando o beiju com manteiga que a quituteira Neti preparava para mim quando ela se aproximou. Quis saber se eu era quem ela estava pensando. Diante da afirmativa e no decorrer da conversa, Diane me contou a respeito das atividades do projeto e do blog de Edu O. Por fim,  perguntou se poderia responder duas perguntas diante de sua câmera: o que te perturba? O que é um corpo perturbador?

Pausa.

Gola romântica, torso nu, pés de casco, pernas muito compridas de pêlo de bicho. É assim que o artista do corpo, o baiano Eduardo de Oliveira (mais conhecido por Edu O.), e seu comparsa, o bailarino Meia-Lua, entram em cena. Digo, caminham-rastejando perto dos nossos pés até o pátio do ICBA, a área aberta do Instituto Goethe de Salvador. Chove um mar. O público está acomodado ao redor do lugar que os dois artistas re-significam com força e destreza. A olhos nus, há uma inteligência naqueles corpos que a maioria dos humanos desconhece, sequer sonha existir, quiçá ter coragem para olhar.

Como se sabe, tem-se preferido chamar de “corpos com necessidades especiais” aqueles que estão em uma das extremidades de uma escala que os regula entre “normais” e “deficientes”. Em certa medida, todos temos necessidades especiais diferentes uns dos outros, certo? Embora os primeiros tenham que lidar com adversidades que os humanos caminhantes enfrentam de uma outra forma e, obviamente, com maiores rotas de fuga e favorecimento, o que fica mais explícito no trabalho cênico “O Corpo Perturbador” são as habilidades. Para além das diferenças e dificuldades, os limites eliminam possibilidades para abrir caminho para algum porvir. O que há de vir não existe, precisa ser construído e inventado, como é o caso dessa dança. Para Eduardo Oliveira e Meia-Lua, o que parece estar apenas carimbado de limitação, se torna, claramente, trampolim. Só os corajosos pulam.

Aquelas pernas-bota são lânguidas. São espartilhos para membros inferiores.  Os corpos que a portam, além de seus super-poderes sensório-motores específicos, emanam sensualidade. Lembram-nos, com enorme elegância, que há sexualidade ali, que há potência em todas as suas partes. São corpos que afetam e são afetados criando uma política de vínculos baseada nesses afetos. Couro, pele, pêlo, carne, laço, osso e sangue. Corpo-árvore, corpo-que-se-carrega, corpo-rastro, corpo-bicho.

Não quero que se machuquem nunca mais.


Salvador, Fevereiro/2011.

Maracujá murchando

Encontrar Meia-Lua sempre é uma experiência incrível. Hoje tivemos o primeiro ensaio juntos para as próximas apresentações d'O Corpo Perturbador, dias 07 e 10 de Dezembro. Para mim, retomar este projeto agora, depois de um ano de distância, me possibilitou reavaliá-lo e pensá-lo com uma outra dinâmica, outra energia. 

Meu corpo (o de ninguém) já não é o mesmo de dois anos atrás, quando estreamos o trabalho. De lá para cá, descobri que tenho osteoporose, tive diverticulite no meio da primeira temporada, estou com uma epicondilite.... tudo isso afeta a minha dança/vida. Meia Lua também já sente ou revela mudanças corporais, confessa dores, entorses, cansaço... E isso é fundamental para o trabalho, porque como diz a deliciosa Maíra Spanghero, "não quero que se machuquem nunca mais".

Por causa de tudo isso precisei rever algumas cenas do espetáculo e o desafio está em manter os climas com outras dinâmicas. O difícil é estar dentro tentando ser "olhar externo". Também percebo que esses dois corpos, por si só, já tem uma força cênica, já comunicam e reclamam tantas coisas...

Podemos estar mais calmos (sem perder a tensão), mas com cuidado para não ficar parecendo maracujá murchando, mole, sem vida....

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

curiosidade sem importância

às vezes tento entender os sinais, as coincidências, coisas que acontecem sem explicação. O espetáculo O Corpo Perturbador estreou há dois anos, no dia 09-12-2012, numa temporada de quinta a domingo. Portanto o segundo dia de apresentação foi no dia 10. Este ano, faremos duas apresentações na Plataforma Internacional de Dança e o segundo dia será também 10-12. Na verdade não tem importância nenhuma este post, mas achei curioso. É isso!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Perturbando a PID

Ainda em fase de acerto dos detalhes, mas já confirmadas as 2 apresentações do nosso espetáculo O Corpo Perturbador, na programação da Plataforma Internacional de Dança - PID, a ser realizada no início de Dezembro. Faremos também uma oficina, na verdade uma exploração guiada no espaço cênico. O interessante é que pretendemos fazer esta ação com um público variado: pessoas com deficiência visual, sem deficiência, artistas e não-artistas... observando como cada corpo se comporta naquele emaranhado de cordas e tubos.

Mais detalhes assim que tivermos confirmação de data, hora e local.

Muito bom poder voltar com este trabalho dentro de um evento tão importante quanto este.