sábado, 1 de setembro de 2012

O choro de cada dia (para Milton Nascimento e meu avô)



Tenho derramado todas as manhãs. Cada dia por motivos diferentes, por motivos que eu nem sei.

Ontem. Como o desejo era tão forte e eu havia acabado de acordar, eu não sei se sonhei-pensei-senti o cheiro de meu avô. Imediatamente me veio o nó, a vontade de chorar e a cachoeira derramando. Havia delicadeza naquela lágrima, havia alegria por tê-lo tido na vida, havia saudade e vontade de que ele continuasse aqui, embora a idade avançada e a certeza de que não viramos sementes. Chorei um choro tão gostoso e solitário que naquele café da manhã londrino só faltaram a torradas que ele fazia.

Hoje acordei irritado com uma italianada mal educada fazendo barulho no corredor, mas o que me fez chorar foi ouvir Milton Nascimento. Sinto tanta pena dessa geração nova que nem deve conhecê-lo, não porque não tenham interesse, mas a mídia é negligente, perversa, nos priva do contato com o que há de sublime, com o que nos transforma em seres singulares, únicos. A mídia nos faz padronizados, impõe os mesmos gostos, os mesmos sons, as mesmas bundas.

Talvez eu tenha chorado de alegria por ter tido oportunidade de inúmeras vezes ouvir Milton Nascimento, a voz masculina preferida de minha mãe, de gostar também do que a cultura de massa apresentava, mas havia de tudo. Os artistas também foram se vendendo para não sair da telinha, da capa de revista, do sofá colorido do castelo. Milton não precisa. O que ele produz é tão sublime (transcende o belo), é tão divino.

Milton é mito e meu avô são deuses!

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