sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Ditadura da alegria

Estou de saco cheio da ditadura da alegria. Acho que a pessoa tem o direito de viver sua tristeza, de querer morrer, de encher o saco e dizer q não ta tudo bem, de querer comer comida que não faça bem, de adorar fumar, de se acabar de beber... essa mania de se meter em tudo da vida dos outros, enche o saco. E olhe que hoje estou super alegre, viu? mas li coisas aqui no face que parece ser um pecado mortal você não estar bem. Vamos ter o direito de ser e estar o que quisermos? quem quiser ficar com os dentes à mostra, que fique. Oxe!!!

É porque sorrio com a  vida, gargalho de mim mesmo que me permito compreender minha tristeza, curti-la, depurá-la, aconchegá-la no meu colo para que se acalme, fique branda e eu possa sorrir novamente.

Aqui em Salvador você é um aliegínega e não sair do chão, jogar as mãozinhas para cima, gritando de legria. Todo mundo vive feliz aqui na Disneylândia dos trópicos, né? Fora que a alegria virou imposição nas redes socias. Toda hora surge no facebook, por exemplo, umas fotos de criança com deficiência brincando ou outra com câncer sorrindo com um palhaço legendadas achando um absurdo os outros maldizerem suas vidas se eiste tanta gente em piores condições que sorriem.

O que é isso? Essas pessoas não podem ter um minuto de sorriso, de alegria? Isso também não quer dizer que não chorem, que se desesperem com medo da morte, que amem, que odeiem, que tenham sonhos e pesadelos, que estejam vivos, porque estar vivo é ter uma diversidade de humores, sentimentos, sensações, emoções. Não somos boneca Guigui que vive sorrindo, bastando apertar o botãozinho na barriga.

Pois bem, é isso e deixe-me dormir para acordar com meu mau humor e curti-lo, porque é com ele que me divirto mais. Sim, acordo diariamente com mau humor e odeio que me liguem de manhã.

Inscrições 2º Encontro o que é isso? de Dança

A partir de hoje todos podem efetuar as inscrições para o 2º Encontro O que é isso? de Dança, podendo participar de todas as atividades realizadas no evento: mesas-redondas, oficinas/encontros, apresentações e cirandões.

Os inscritos deverão enviar para o email grupoxdeimprovisacao@gmail.com, os seguintes dados:

Nome Completo
Endereço
Número do RG e CPF
Breve currículo (10 linhas)
Comprovante de depósito/transferência scaneado

Dados para pagamento das inscrições:

R$ 40,00 (profissionais) R$ 20,00 (estudantes)

Banco do Brasil
agência 3457-6
conta corrente 803641-1
Fátima Campos Daltro de Castro

Cirandões

Assim como no ano passado, os participantes inscritos podem participar dos Cirandões, apresentando suas pesquisas e trabalhos teóricos ou práticos. Cada apresentação terá no máximo15 minutos. Para isso é necessário enviar ao email do Grupo X de Improvisação em Dança release, fotos, video ou material que seja possível analisar de maneira mais eficiente a proposta. Serão selecionados 8 trabalhos para os dois dias de Cirandões. Teremos ainda convidados para esta atividade: Ninfa Cunha, Ana Rita Ferraz e o grupo Poética da Diferença/ACCDANA59 - UFBA.

Revista FACED

Estaremos recebendo, também, artigos para a REVISTA FACED. Ano passado tivemos uma parceria muito feliz e por este motivo daremos continuidade à publicação de artigos nesta revista. Confiram a publicação com os artigos selecionados no Encontro de 2010:

http://www.portalseer.ufba.br/index.php/rfaced/issue/view/343

As informações de como os artigos deverão ser enviados para análise, serão divulgadas em breve. As inscrições para publicação dos artigos são gratuitas.

Todas as informações sobre o encontro no blog http://encontrodedancainclusiva.blogspot.com/

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Oração ao tempo

Não gosto muito de aniversário e a cada ano tenho gostado menos. O processo de envelhecimento tem chegado rápido em mim, alguns problemas de saúde que deveriam aparecer mais tarde já se anuciaram e com isso tenho que mudar a postura diante da vida, com isso mudarei tanta coisa, inclusive o sorriso, o olhar, a ousadia... Confesso que o clima não está para feijoada. Mas vejo o tempo e gosto dele, acho de uma beleza sem igual ver as gerações, os corpos, a vida passar e perceber o que foi necessário para se manter aqui. Véspera de aniversário, para mim, é como Reveillon, aproveito para fazer um balanço das coisas... Meus 34 não foram fáceis, espero que passe logo. Chegue logo amanhã.

Oração ao tempo
Caetano Veloso
És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...
Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...


Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...


Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo...


Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo...


De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo...


O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo...


E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo...


Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Cautela

Eu tinha certeza que ao atravessar aquela porta nunca mais haveria uma volta. Nunca mais retornamos para o lugar de onde partimos. Partir é perigoso e é necessário ter cautela. Muitas vezes parti como quem se joga do trampolim. Acho que isso é viver: não ter cautela. Mas é preciso tê-la e é urgente viver.

domingo, 23 de outubro de 2011

Ah! Como eu amei - Benito di Paula

Passei a noite ouvindo esta música. Infelizmente não consegui publicar o video. Samuca, um amigo amado, parece de infância, me presenteou e eu não consegui parar. Benito di Paula faz parte de minha história desde Santo Amaro, tantas lembranças... minha irmã adora até hoje e me fez muito bem escutá-lo para começar a semana bem. Compartilho com todos este meu prazer.

Clicando aqui, chega-se ao video e escuta-se a linda voz de Benito

Ah! Como eu amei
Composição: Jota Velloso / Ney Velloso

O amor que eu tenho guardado no peito
Me faz ser alegre, sofrido e carente
AAAHHH!! Como eu amei

Eu sonho, sou verso,
sou terra, sou sol
sentimento aberto

AAAHHH!! Como eu amei
AAAHHH!! Eu caminhei
AAAHHH!! Nao entendi

Eu era feliz, era a vida
Minha espera acabou
Meu corpo cansado e eu mais velho
Meu sorriso sem graça chorou

AAAHHH!! Como eu amei
AAAHHH!! Eu caminhei

Tem dias que eu paro
Me lembro e choro,
Com medo eu reflito que
nao fui perfeito

AAAHHH!! Como eu amei

Eu sonho, sou verso,
sou terra, sou sol
sentimento aberto

AAAHHH!! Como eu amei
AAAHHH!! Eu caminhei
AAAHHH!! Nao entendi

Eu era feliz, era a vida
Minha espera acabou
Meu corpo cansado e eu mais velho
Meu sorriso sem graça chorou

AAAHHH!! Como eu amei
AAAHHH!! Eu caminhei

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

2º Encontro O que é isso? de Dança



Contemplado pelo Edital Demanda Espontânea, realizado pela SECULT BA, de 25 a 27 de Novembro de 2011, acontecerá no Espaço Xisto Bahia, o 2º ENCONTRO O QUE É ISSO? DE DANÇA que tratará de questões relevantes em torno da invisibilidade e representatividade midiática de grupos profissionais de dança com pessoas com deficiência. As discussões girarão em torno de acessibilidade, profissionalização e inserção no mercado de trabalho de artistas/dançarinos com deficiência que não tiveram acesso a informação e formação em dança seja nos ambientes acadêmicos e espaços formais de ensino de dança. A proposta é discutir sobre a criação, elaboração e exposição da dança do (no) corpo do dançarino com deficiência, para entender por que, com tantos grupos de dança circulando em diversos pontos do nosso planeta ainda se encontram nos patamares dos lugares invisíveis e sem representatividade midiática. Trazer essas discussões para o campo da pesquisa artística e acadêmica em dança, especificamente para questionar a invisibilidade das ações no entorno do corpo do dançarino com deficiência, é objeto desse Encontro.
A programação conta com oficinas, debates, cirandões, performances e espetáculos.
Em breve, publicaremos a programação com nomes dos convidados, espetáculos, horários das atividades, valores e prazos de inscrição.

Fiquem ligados no blog: http://encontrodedancainclusiva.blogspot.com/

Manoel de Barros

A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.


Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.


Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas


Manoel de Barros


*Consuelo, minha amiga, que presente lindo você me deu. Adoro a poesia de Manoel de Barros. Tenho certeza que você ficará maravilhada com ele. Obrigado!!!!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Eu encontrei quando não quis*

Hoje comemoramos um ano de muita tristeza jogada ao chão, abraços, scarpin amarelo, lenços de papel perdidos. Claro que é uma piada interna e todos devem me perguntar: então porque está publicando aqui?

Pelo simples fato de que este momento está eternizado em nossoas memórias, assim como outros não tantos. Porque estive pensando no poder da amizade e dos encontros e de como isso me perturba. Porque estive lembrando de situações que me marcaram e este está entre o top 5. Porque as pessoas com quem compartilhei as lágrimas, os risos e os copos são tão minhas que se confundem dentro de mim. Porque nem sei o que dizer e é estado de "não saber", de viver o choro através do riso, da loucura em seu grau mais absurdo de sanidade que nos une e nos faz seguir. Porque... porque... quando tudo parecia o fim, eram justamente esses outros que me indicavam o começo.

*trecho da música Último Romance, dos Los Hermanos

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O que me perturba?

O que me perturbou esta semana?

Um riso histérico

O medo de um beijo

A beleza do olhar lacrimoso de emoção com a arte

O sorriso e o choro do pequeno

A falta que eles fizeram

A alegria pela certeza dele em minha vida, constante conchinha e agora a saudade

A morte

Os encontros e abraços

A dor

A beleza

A falta de tempo

A náusea

A vontade de ir ali

Absurdo em concurso da UNEB

Mais uma vez, quanto mais eu rezo mais assombração me aparece. Dessa vez é a UNEB que abre vaga para concurso para professor, a pessoa se inscreve informando a necessidade de providências para que a prova pudesse ser realizada de acordo com as condições que sua deficiência visual exigem e a Universidade diz nem saber que havia deficiente inscrito. Isso há três dias antes do dia do concurso. Vejam o absurdo no texto escrito por Iracema e que devemos difundir com a intenção de chamar a responsabilidade a quem deve ter e nos questionarmos o que é isso de acessibilidade mesmo que tanto se fala e pouco se faz.
Segue o texto:
Sou Iracema Vilaronga, Mestre em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), especializada em Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva pela UNEB, graduada em Pedagogia também pela UNEB, faço parte da Comissão de Elaboração das Políticas de Inclusão e Acessibilidade da UNEB. Idealizei o Núcleo de Educação Especial (NEDE) da UNEB em 1999 e atualmente, sou membro do referido Núcleo. Sou professora concursada da Rede Municipal de Educação da Prefeitura Municipal de Salvador a 11 anos e Consultora na área de Educação Inclusiva e Acessibilidade. A seguir, relato os caminhos percorridos da minha fatídica participação no concurso docente da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
 Venho expressar a minha tristeza e indignação pelo desconhecimento ou falta de comunicação dentro da própria UNEB. Na última quarta-feira, dia 28 de setembro, por desencargo de consciência resolvi ligar para a PGDP -- comissão do concurso docente -- para saber sobre os providenciamentos das condições de acessibilidade para realização da prova, no dia 02 de outubro. Qual não foi a minha surpresa, quando a senhora Ângela Goes ainda não sabia nem que havia um candidato com deficiência visual inscrito. Foi a partir dessa ligação que deram início aos primeiros prov id enciamentos: ligar para setores e instituições fora da UNEB, para saber como proceder diante da situação de ter um candidato com deficiência visual inscrito no concurso. O mais indignante é que no ato da inscrição, comuniquei da minha deficiência visual e solicitei de forma descritiva exatamente o que precisaria para realização da prova. Senti uma tristeza ainda maior, quando fiquei sabendo que foi uma instituição fora da UNEB que indicou o contato com o NEDE, instituído desde 2003, resultado de minhas lutas em em pró da inclusão e acessibilidade da pessoa com deficiência na UNEB. Eu, candidata, fui a última a ser contactada para saber de minhas necessidades.
É lamentável, que depois de tantas conversas de Patrícia Magris, coordenadora do NEDE, com o senhor Daniel e o senhor Marcelo, algumas delas, inclusive com a minha presença, ainda haja tanto desconhecimento, indiferença e desrespeito diante de uma temática tão discutida e tão presente no ambiente acadêmico. O Professor Valentim, Reitor da UNEB, desde a época que era pró-reitor de extensão foi tão sensível e aberto às causas de inclusão e acessibilidade dentro da UNEB. Venho trazendo essa discussão desde que passei no vestibular em 1999, ano em que idealizei o NEDE, e ainda hoje tenho que passar por situações como esta. Não quero aqui prejudicar ninguém, mas gostaria que episódios como este não fossem repetidos dentro da UNEB.
Segue abaixo, um pedido de registro e oficialização das providências tomadas pela senhora Ângela Goes, no intuito de me proteger de possíveis  problemas, uma vez que foram abertos alguns precedentes não constantes do edital 037. Espero poder contar com o  usual apoio e esclarecimentos.
Conforme o edital 037 do concurso docente para professor assistente, os candidatos com deficiência devem indicar no formulário de inscrição as condições necessárias de acessibilidade para realização da prova escrita, o que foi por mim realizado. A fim de me certificar se tais condições seriam providenciadas, entrei em contato com a comissão do referido concurso. Na ocasião, fui informada pela senhora Ângela Goes que devo utilizar meu próprio equipamento para realização da prova escrita, que devo comparecer ao local da prova, munida de meu netbook, com programa de síntese de voz e leitor de tela, devidamente instalados, e fui informada que serei acompanhada por uma pessoa designada pela referida comissão, que permanecerá em sala duran t e todo o período da prova e que ao término da prova, o arquivo deverá ser salvo, impresso, devidamente assinado por mim e entregue à banca.
No sentido de que as condições acima citadas sejam registradas,   venho requerer, junto a PGDP, documento autorizando a utilização de meu equipamento pessoal (netbook com programa de síntese de voz e leitor de tela – Jaws -- devidamente instalados), uma vez que a instituição não garantiu as condições de acessibilidade necessárias (equipamento descrito acima), para  a realização da prova escrita no próximo dia 02 de outubro de 2011.
Sem mais para o momento, agradeço antecipadamente a atenção dispensada e solicito que tal documento me seja entregue com brevidade, antes da realização da prova.
Venho mais uma vez expressar o sentimento de tristeza e decepção com a UNEB, instituição que luto por condições de acessibilidade desde 1999, ano em que idealizei o NEDE; instituição em que acredito, ou melhor, acreditava na utopia da democratização do acesso para todos; instituição que foi pioneira em “levantar a bandeira” da inclusão e acessibilidade; instituição que defendo, digo defendia como inclusiva; sim, a mesma instituição contribuiu para que eu, pessoa com deficiência visual, fosse reprovada no concurso docente, quando agiu com descaso e indiferença no providenciamento das condições necessárias de acessibilidade para realização da prova.
A situação de estresse a que fui submetida ao tomar conhecimento, a apenas três dias da realização da prova, que nenhuma providência havia sido tomada, e que a comissão “não sabia” da existência de um candidato com deficiência visual, embora informado no formulário de inscrição, me desestruturou e me deixou emocionalmente abalada. Saber disso me fez sentir em desvantagem em relação aos demais candidatos. Os três dias que antecederam a data da prova, que havia reservado pa ra retomar os pontos a serem estudados, foram preenchidos com preocupações e responsabilidades administrativas que deveriam ser exclusivas da comissão. Cabe destacar, que solicitei formalmente da referida comissão, documento registro dos precedentes a mim abertos, a fim de evitar problemas futuros.  Precedentes estes, que me foram informados verbalmente por telefone pela senhora Ângela Goes. Tal documento me foi negado, não se sabe exatamente por que motivo.
O simples fato de passar por um processo seletivo em si, já deixa uma pessoa tensa, nervosa. Imagine saber que foram abertos precedentes como forma de compensação, para reparar uma falha grave da comissão. Imagine ir fazer uma prova sabendo da situação delicada e desconfortável perante a banca e os demais candidatos. Imagine passar pela cabeça que a sua capacidade e competência podem ser colocadas em xeque no momento da prova...
Será que as circunstâncias indignas em que fiz a prova não influenciaram em meu desempenho? Será que realizar a prova numa situação delicada e desconfortável perante a banca, que, aliás, acho nem sabia do ocorrido, e dos demais candidatos à vaga, não causariam dúvidas relativas aos precedentes a mim concedido? Será que as circunstâncias não influenciaram a decisão da banca no resultado? Eis a pergunta que não quer calar: e se eu não tivesse entrado em contato três dias an tes da realização da prova? Talvez tivesse sido melhor. Chegaria no dia e horário marcado da prova e a comissão seria pega de surpresa. Assim, estaria comprovado o desrespeito, o descaso e a indiferença com que fui tratada e seria motivo suficiente para anulação da prova. Aí estaria coberta pela lei. Vale lembrar que fui a única candidata com deficiência visual e indiquei no formulário de inscrição, conforme exigido no edital, sobre a deficiência visual e descrevi exatamente o que deveria ser providenciado como condição sine qua non, para que fizesse a prova em igualdade de direitos.
Fico ainda mais indignada e decepcionada, ao relatar o fato a algumas pessoas da comissão do concurso e do grupo gestor, que agem com naturalidade diante do ocorrido e afirmam não haver razões para tais questionamentos. Cabe esclarecer que não estou pedindo favor ou exigindo privilégios da comissão. Condições de acessibilidade é um direito legalmente constituído. Sei que ser aprovado ou reprovado é normal em qualquer concurso. Concurso posso e irei fazer outros. Não estou pedin do que o resultado seja revertido, apenas peço que providências sejam tomadas, a fim de que a situação não venha a se repetir, pois não é a primeira vez que ocorre na UNEB, conforme relatos em anexo.
Dessa forma, ressalvo ainda, em nome da “legitimidade” da referida instituição no trato com a pessoa com deficiência, e no fio da credibilidade da sociedade para com a mesma, a irrenunciável revisão dos procedimentos adotados neste concurso, na perspectiva da inclusão e acessibilidade.
Encerro aqui com mais alguns questionamentos: para quem está sendo de fato implementado o NEDE e as políticas de inclusão e acessibilidade, se em questões entre aspas tão pequenas, não são tomadas as medidas cabíveis? Como eu, idealizadora do NEDE, poderei defender e propagar a UNEB como instituição pioneira nos ideais e políticas de inclusão e acessibilidade, se eu própria fui vítima do descaso e falta de estrutura? Até quando as “conquistas” relativas à pessoa com defic iê ncia na UNEB serão antecedidas de sofrimentos e prejuízos? Segue em anexo, formulário de inscrição preenchido, com as ressalvas e descrição das condições a serem providenciadas, o boleto devidamente quitado e o comprovante de inscrição, bem como relatos de outros episódios da mesma natureza ocorridos também na UNEB.
Mais uma vez agradeço a atenção usualmente prestada, e espero sinceramente que atitudes e medidas drásticas sejam tomadas o mais breve possível.
Iracema Vilaronga

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Um sem Deus

Quando vejo um sofrimento desmedido, incontrolável, impossível de ser transformado, questiono esse Deus que é capaz de gerar tanta dor em alguns e outros não. Nenhuma religião me convence, ninguém me esclarece o que é isso. Até compreendo que pode ser mais fácil jogar responsabilidade em algo que não se conhece, não se vê, não te resonde, pode amenizar as coisas, mas... Os discursos acabam se contadizendo e eu cada vez menos acredito nisso.

Uma família que perde os três filhos de uma só vez, num acidente de carro... para quem é o castigo? quem é este Hitler que merece tamanho sofrimento? Quem é esse político corrupto que mata tanta gente e só lhe resta a punição? Quem é este assassino, estuprador, malfeitor que não merece sorrir nunca mais na vida?

O pior que não o sofrimento chegou para quem nunca fez nenhum mal dessa magnitude. E eu continuo a me perguntar: quem merece tamanha dor?

E ai virão os religiosos tentando me convencer, tem uns até que jogam culpa numa vida passada que a gente nem lembra mais e aí todo mundo paga o pato, até quem foi bonzinho, ou então os miseráveis vêm tudo junto, se junta uma quadrilha de antigamente para pagar todos de mãozinhas dadas. Até esses questionamentos serão alvo da crítica desse Deus que não pode ser questionado, duvidado... Vou até me calar para não sofrer mais um pouquinho daqui a pouco.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Aquele senhor - um conto e entrevista com Nina Wiziack

Calça social desbotada e camisa de botão manchada. Cabelo quase nenhum na testa, grudado na nuca. De suor ou creme? Todo arrumado, com elegância e bengala. Isso me emocionou, pensando na preparação para sair ao trabalho, na arrumação. Escolher entre as poucas roupas, uma que lhe desse um ar de respeito, de trabalhador, que lhe caísse bem e que fizesse as pessoas até pensarem em lhe ajudar.


Aquele senhor me lembrava meu avô. Se fosse ele a passar por entre os carros de vidros fechados, pedindo um trocado para sua fome? Naquela idade, aquele senhor não tem o que comer, não tem aposentadoria, não tem um boné para proteger sua cabeça do sol. Eu dentro do táxi com ar-condicionado, chorava e me envergonhava. De que? Sou culpado por etsar ali dentro? Sou o responsável por aquele senhor está ali fora? Queria colocá-lo dentro e levá-lo para casa. Que casa? Para que, meu filho? Para que, meu Deus?


Essa imagem não me saiu da cabeça. Aquele senhor recostado na parede da lanchonete, descansando à espera do sinal vermelho de um sinal verde que nunca o virá passar.


Cheguei em casa e no corredor do prédio o cheiro de comida gostosa me deu náusea.

Publiquei este conto junto com a entrevista de Nina porque compartilhamos da mesma inquietação, da mesma perturbação. Hoje me deu vontade de falar sobre isso.

Buscando ser futuro

Tentei seguir um caminho que levasse à escrita quando virei de costas para a tela e encontrei a leitura. Caminho de direções opostas.
Escrita é passado buscando ser futuro. Leitura é futuro em prateleiras esperando ser presente.
Tenho uma coleção de futuro sobre a cabeça e todo aquele desconhecido me amedronta.
Há que se ter cuidado com futuros.
Tudo que escrevo é só passado.


E Ferreira Gullar me humilha nesta tela luminosa.

domingo, 9 de outubro de 2011

Um Rebú perturbador - entrevista com Carolina Pismel

Ontem, vivemos em Salvador uma noite muito especial com a Cia. Teatro Independente do Rio de Janeiro que levou ao palco do SESC Palourinho a peça Rebu. Maravilhoso trabalho de atores, texto impecável e direção preciosa, figurino, trilha, cenário e luz também belíssimos.

Eu tenho o prazer e honra de conhecer o pessoal da peça e manter uma relação demuito carinho, mesmo que à distância. Jô Bilac (autor) e Diego Becker (ator) já estiveram aqui no blog na seção de entrevistas. Hoje publico o video com Carolina Pismel, que estava fantástica no papel de Vladine. Esta é uma forma de homenagear esses grandes artistas.

Ontem senti a emoção que eu sentia quando comecei a me encantar com o teatro, quando eu comecei a descobrir sua magia. Depois esta emoção foi ficando rara, escassa, por falta de identificação com o que tenho visto por aqui. Mas ontem os meninos conseguiram me tirar da realidade e viver a intensidade que o teatro deve ter.



Rebú - Cia. Teatro Independente
Direção: Vinicius Arneiro
Texto: Jô Bilac
Elenco: Carolina Pismel, Diego Becker, Júlia Marini e Paulo Verlings

Judite na Semana da Criança

Meu espetáculo solo, Judite quer chorar, mas não consegue!, volta em cartaz esta semana, de 11 a 16 de Outubro (terça a domingo), na Caixa Cultural.

De 11/10 a 14/10 as apresentações ocorrerão às 15h, no sábado e domingo (15 e 16/10) apresentaremos às 17h. A entrada é 1kg de alimento não perecível.

Dias 11, 12 e 13 de Outubro, acontecerão oficinas onde trabalharemos corporalmente e também com elementos plásticos o final da história da lagartinha Judite. Com o auxílio do livro-infantil, cada criança criará um final para Judite... As oficinas serão realizadas para um grupo de 30 crianças, as senhas serão distribuidas no local.

O que aconteceu depois que ela subiu aquela escada? Sentiremos no corpo, escreveremos e faremos uma imagem do que cada um acredita que se passou com a lagarta mais famosa que conhecemos.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Vida de modelo

Hoje passei a manhã inteira fazendo fotos na Escola de Belas Artes a pedido de uma turma de lá para trabalho de uma disciplina. Eles escolheram fazer imagens de meu corpo com as pernas de Baco que utilizo no espetáculo O Corpo Perturbador. Foi maravilhoso fazer uma performance pensando em como isso seria traduzido pelos olhares dos fotógrafos. Uma delícia! Depois irei publicar o texto da galera e algumas imagens para compartilhar com os visitantes-amigos daqui do blog. Adoro quando um projeto meu vai tomando outras dimensões e tendo desdobramentos que fogem ao meu controle. É sempre bom nos vermos pelos olhos dos outros. Foi maravilhoso também retornar à minha escola, onde me formei em 2001 e ver que deixamos marcas aonde passamos. Encontrei amigos antigos e foi tanto carinho. Dia muito especial.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Simplesmente ser já é muita coisa

Tomei conhecimento, tardiamente, deste episódio que se passou com uma criança com deficiência no Shopping Barra, sobrinha de Padre Alfredo, amigo querido. Me causou uma tristeza profunda saber que uma menina de 9 anos já sente o que eu só vim começar a sentir depois de grande, ao morar em Salvador. Sempre falo que nunca tive contato com o discurso da Inclusão, Acessibilidade, em Santo Amaro eu participava de tudo e nunca, ninguém me falou que eu estava sendo incluído, porque eu simplesmente era e ser já é muita coisa, já abre muitas portas na vida. Freqüentei todos os lugares, todas as festas, bares, casas, escola tradicional, parques, brinquedos....

Quando cresci e me deparei com este mundo (e me parece estar piorando a cada dia) com segmentações, com discriminação forjada por motivos de segurança, com preguiça de conhecer o outro, sacanagem por achar que o outro atrapalha, vim adoecendo e me entristecendo, com receio de sair e ser rejeitado pelo taxista, motorista do ônibus, os bares sem banheiros que eu possa usar, ruas quebradas, serviços péssimos... tudo isso é violento, é agressivo demais. Receio que Iana sinta o que sinto, mas ela é danada, já pensa em ser advogada, já se mobilizou, mobilizou outras pessoas, se articulou toda e agora é tema de um texto maravilhoso, escrito por Sillas Freitas de Jesus, que concorre a um prêmio no 7º Causos do ECA (Estatudo da Criança e Adolescente).

Aqui o início do texto para vocês entenderem o que se passou e depois acessem pelo link para concluir a leitura e votar.

Neste parquinho todo mundo pode brincar!
Sillas Freitas de Jesus
Iana nasceu com uma deficiência física diagnosticada como artrogripose congênita nos membros inferiores, que a impedia de caminhar. Hoje, ela tem nove anos e, após uma cirurgia, caminha com o uso de próteses em ambas as pernas. É para-atleta e pratica natação no Instituto Baiano de Reabilitação.
Num domingo ensolarado, em janeiro de 2011, convidou seu tio e uma colega para um passeio no Shopping Barra, em um bairro nobre de Salvador (BA). No 1º piso do shopping, Iana e sua amiga viram e desejaram brincar no escorregador inflável, onde algumas crianças subiam e desciam felizes. Iana foi impedida de se divertir no atraente brinquedo sob a alegação de que só se pode entrar ali sem calçados. Ora, as próteses de Iana são suas pernas e não ofereciam qualquer risco ao equipamento ou aos demais usuários. Mas o jovem que cobrava os ingressos foi inflexível: “Só pode entrar sem sapatos! Ordens são ordens”.

Para minimizar a frustração da criança, foram à brinquedoteca “Pirlimpimpim”, no mesmo shopping. Lá, também houve negativa, desta vez da própria gerente, que afirmou que os equipamentos não são acessíveis a pessoas com deficiência. A discriminação ali era ainda maior, porque a brinquedoteca tem diversos jogos e brinquedos, alguns deles para usar sentado, como é o caso dos jogos de computador. Indignada, Iana perguntou: “Oxente, meu tio, não tem nenhum lugar nesta cidade onde uma criança com deficiência possa brincar?”.

http://www.pro-menino.org.br/votacao/neste-parquinho-todo-mundo-pode-brincar.php

Vale a pena conhecer as outras histórias que estão no site.