sexta-feira, 29 de abril de 2011

O mundo é um menino

O difícil é entrar na água gelada sem o sol, mas depois que entra é acolher o aconchego da água e ficar.

Viajar é assim, o difícil é sair de casa. Entrar nesse mundaréu que basta observarmos um pouquinho não passa de nosso quintal, daquele lugar onde brincávamos quando criança, só com línguas diferentes e cores e tempo e flores. Todo mundo na verdade é menino brincando de ser gente grande.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O caso da banheira

A água subia lentamente, não ameaçava derramar espelhando o lustre de gotas fingindo diamante, o teto liso, a face sorridente sem maquiagem. A água fina caía feito choro preso, dor aguda em nó de peito espelhando azulejos brancos, janela de vidro fosco, cortina plástica de bolinhas verdes, shampoo azul, sabonete de rosas e escovão para tirar o peso das costas.

O pé já encharcado pisando tapete de veludo embaixo d'água sobre lajota preta. O sorriso congelado feito morto no  espelho que a banheira espelhava já derramada em desespero.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Há momentos de silêncio em mim

Há momentos de silêncio profundo em mim. Silêncio total que nem os pensamentos ousam visitar aquela área deserta. Sempre que viajo me silencio. Talvez poupando energia ou quem sabe processando todas as informações que me atravessam. Há momentos importantes de paragem.

Lembro da primeira visita a Lençóis, na Chapada Diamantina. Ninguém me reconhecia naquela quietude, introspecção.

Sempre me senti a melhor companhia para mim mesmo. Não porque sou tolerante ou concorde com minhas próprias coisas (às vezes eu comigo mesmo nos desentendemos), mas porque acho importante o que consigo me dizer em silêncio, em solidão.

Momento ruim em se fazer companhia é quando os amores acabam, nos sentimos uma bosta, chatos, nos desamamos na fragilidade. Hoje, em silêncio, abracei um sorriso triste, um choro compulsivo dos olhos que brilhavam antigamente por um amor que acabou de acabar.

Há momentos em que o silêncio nos diz tudo.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Gosto de mãe

Sempre adorei viajar, conhecer gente nova, lugares, decobrir cheiros, gostos, bares... ultimamente tenho ficado cansado de viajar, saio de casa com o coração na mão por deixar os meus, por ficar tempo distante. Dessa vez foi assim também, saí para Londres com vontade de ficar, mas chegando aqui me senti tão bem. Percebi que Londres é um lugar onde eu ficaria bem. Tem um que de São Paulo e pessoas adoráveis que conheço. Foi emocionante ver a alegria de alguns ao me verem, os abraços, os sussurros, os beijos, os colos... É bom estar onde se é amado.

Estamos hospedados numa casa maravilhosa e eu numa suíte com banheira e tudo. Quem me conhece sabe da loucura que tenho por banheira. Perder/ganhar tempo ali dentro, quentinho, tranquilo, quase ventre de mãe.

Deitado nesse quarto gigantesco, com sabor de biscoito de leite trazido na bagagem, penso na minha vida, nas minhas pessoas e em Sto Amaro.

Tudo para mim tem gosto de mãe.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Mulher Vampira

Através de Henrique Amoedo tive acesso a matéria sobre a mexicana  Maria José Cristerna que fez várias intervenções e alterou sua aparência física, querendo parecer uma vampira. Achei o máximo e para ser sincero bastante bela a transformação. Uma coisa me incomoda no video, lá no finalzinho, é o julgamento do narrador achando impressionante como uma mulher dessa pode ser uma mãe amorosa.

Eu pergunto: o que tem a ver o cu com as calças? Sabemos de tantas mães lindas, dentro do padrão, caretinhas que são umas pestes, maltratam os filhos, agridem, violentam. Nardoni era um pai gato, né não?

Esses valores precisam ser repensados e nós termos cuidado (o tempo todo) com o que falamos/pensamos.

Tirem suas conclusões

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A falta - entrevista

Sentir falta, saudade, tristeza.... Tudo somando angústias e mais gente na coleção de perdas. Dona Luizinha sempre estava ligeirinha pelas ruas de Sto Amaro, sempre simpática, carinhosa, uma pessoa de beleza ímpar, matriarca de uma família especial, de muitos filhos e netos e todos são pessoas íntegras, amadas, queridas.

Deixaremos de ter sua presença, seu jeitinho conosco, mas sempre lembrada com carinho e afeto, tudo que semeou na vida.

Ela me concedeu esta entrevista ano passado, falando da pressão alta. Foi seu coraçãozinho que doeu e depois parou, deixando o nosso triste, mas também agradecido por ter tido a chance de conhecer um ser tão especial.


sexta-feira, 15 de abril de 2011

SUMPALO


Alguma coisa acontece no meu coração...
(Sampa-Caetano Veloso)

Estar em SP, no Cafofo de Caras.... Não há coisa mais deliciosamente perturbadora. Amanhã participarei do seminário Sexualidade no Corpo com Deficiência. 
Curtindo a cidade que escolhi para amar, ou será que foi quem me escolheu? Feiticeira, inteira, grandiosa... tudo em mim

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sejamos Gays. Juntos.

abril 12, 2011

Adriele Camacho de Almeida, 16 anos, foi encontrada morta na pequena cidade de Itarumã, Goiás, no último dia 6. O fazendeiro Cláudio Roberto de Assis, 36 anos, e seus dois filhos, um de 17 e outro de 13 anos, estão detidos e são acusados do assassinato. Segundo o delegado, o crime é de homofobia. Adriele era namorada da filha do fazendeiro que nunca admitiu o relacionamento das duas. E ainda que essa suspeita não se prove verdade, é preciso dizer algo.

Eu conhecia Adriele Camacho de Almeida. E você conhecia também. Porque Adriele somos nós. Assim, com sua morte, morremos um pouco. A menina que aos 16 anos foi, segundo testemunhas, ameaçada de morte e assassinada por namorar uma outra menina, é aquela carta de amor que você teve vergonha de entregar, é o sorriso discreto que veio depois daquele olhar cruzado, é o telefonema que não queríamos desligar. É cada vez mais difícil acreditar, mas tudo indica que Adriele foi vítima de um crime de ódio porque, vulnerável como todos nós, estava amando.

Sem conseguir entender mais nada depois de uma semana de “Bolsonaros”, me perguntei o que era possível ser feito. O que, se Adriele e tantos outros já morreram? Sim, porque estamos falando de um país que acaba de registrar um aumento de mais de 30% em assassinatos de homossexuais, entre gays, lésbicas e travestis.

E me ocorreu que, nessa ideia de que também morremos um pouco quando os nossos se vão, todos, eu, você, pais, filhos e amigos podemos e devemos ser gays. Porque a afirmação de ser gay já deixou de ser uma questão de orientação sexual.

Ser gay é uma questão de posicionamento e atitude diante desse mundo tão miseravelmente cheio de raiva.
Ser gay é ter o seu direito negado. É ser interrompido. Quantos de nós não nos reconhecemos assim?
Quero então compartilhar essa ideia com todos.
Sejamos gays.

Independente de idade, sexo, cor, religião e, sobretudo, independente de orientação sexual, é hora de passar a seguinte mensagem pra fora da janela: #EUSOUGAY

Para que sejamos vistos e ouvidos é simples:
1) Basta que cada um de vocês, sozinhos ou acompanhados da família, namorado, namorada, marido, mulher, amigo, amiga, presidente, presidenta, tirem uma foto com um cartaz, folha, post-it, o que for mais conveniente, com a seguinte mensagem estampada: #EUSOUGAY
2) Enviar essa foto para o mail projetoeusougay@gmail.com
3) E só :-)

Todas essas imagens serão usadas em uma vídeo-montagem será divulgada pelo You Tube e, se tudo der certo, por festivais, fóruns, palestras, mesas-redondas e no monitor de várias pessoas que tomam a todos nós que amamos por seres invisíveis.

A edição desse vídeo será feita pelo Daniel Ribeiro, diretor de curtas que, além de lindos de morrer, são super premiados: Café com Leite e Eu Não Quero Voltar Sozinho.

Quanto à minha pessoa, me chamo Carol Almeida, sou jornalista e espero por um mundo melhor, sempre.
As fotos podem ser enviadas até o dia 1º de maio.

Como diria uma canção de ninar da banda Belle & Sebastian: ”Faça algo bonito enquanto você pode. Não adormeça.” Não vamos adormecer. Vamos acordar. Acordar Adriele.

— Convido a todos os blogueiros de plantão a dar um Ctrl C + Ctrl V neste texto e saírem replicando essa iniciativa —

Texto retirado do blog: http://projetoeusougay.wordpress.com/


Completando com outro texto do blog:

Este não é um projeto apenas contra a homofobia, é um projeto contra a intolerância, contra o ódio. Não podemos, não devemos e não vamos viver nesse ambiente. Portanto, lá vai:
Eu sou gay, eu sou negro, eu sou nordestino, eu sou criança vulnerável, eu sou mulher vítima de violência doméstica, eu sou gordo, eu sou faminto, eu sou vítima do trânsito, eu não ando armado.
Eu sou aquele que diz basta a essa falta de compaixão e de respeito ao próximo. Eu sou pela paz. Eu sou a favor de um mundo melhor. Este é o movimento que começamos agora. Eu, você, nós brasileiros que acreditamos na força da opinião pública e das redes sociais para combater a intolerância contra a diferença e contra as minorias.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Pequetitas


Amanhã nasce o novo filhote do Grupo X de Improvisação em Dança, Pequetitas Coisas Entre Nós Mesmos.  Estrearemos as 20h, no Cine Teatro Solar Boa Vista. Dia  20/04, estaremos no Espaço Xisto Bahia, as 19h, dividindo a noite com a galera do coletivo Radar.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O Corpo ao lado de grandes mestres

Num dia triste como ontem, tivemos momentos sublimes de encanto. A abertura da exposição Grito! Ano Mundial da Árvore, do artista plástico Frans Krajcberg, no Palacete das Artes Rodin Bahia, foi um sopro de vida na cidade de Salvador. Aliás, ontem a cidade parecia estar no céu astral (não tem inferno astral?), porque também houve no Teatro Castro Alves o concerto da OSBA, regida pelo maestro Carlos Prazeres. Um deslumbre! Agradeci a vida por ter tido oportunidade de presenciar essas duas maravilhas.

O trabalho de Frans Krajcberg é tão belo quanto necessário e urgente. Sua obra transcende qualquer avaliação que se restrinja ao bom, maravilhoso, divino... é tão necessário quanto a água, porque nos força a refletir sobre a importância da natureza, da preservação da vida, nos faz pensar em nós mesmos.


escultura Flor do Mangue

O Palacete das Artes Rodin Bahia é, sem dúvida, um dos melhors espaços da cidade, dirigido por uma equipe muito eficiente e profissional.

Agora, você pode imaginar o que vai significar para mim realizar O Corpo Perturbador ao lado das obras de Frans, na área externa do Palacete das Artes? Nossa, fiquei muito feliz ao saber que compartilharei a minha obra (humilde, pequena) com esta Flor do Mangue lindíssima. Já seria maravilhoso estra naquele lugar, junto com a exposição das esculturas de Rodin, agora somado ao trabalho de Frans.... eu fico muito honrado e agradecido.

Acho que será um momento muito especial para nosso trabalho. E por isso já digo logo para todo mundo se agendar:
21 e 22 de Maio, as 17:30h, no Palacete das Artes (Rua da Graça, 284)

Um retorno em grandiosíssimo estilo, né não? Vou tirar uma ondinha que ninguém é de ferro!



quinta-feira, 7 de abril de 2011

Poesia pro dia terminar

Difícil falar em poesia, flor, delicadeza num dia de tanta morte, violência, tristeza, mas é necessário também.

- Uma poesia para as crianças vítimas do ataque na escola do Rio de Janeiro. Cheguem leve. Cheguem bem.

A PIPA E O VENTO(Cleonice Rainho)

Aprumo a máquina,
dou linha à pipa
e ela sobe alto
pela força do vento.

O vento é feliz
porque leva a pipa,
a pipa é feliz
porque tem o vento.

Se tudo correr bem,
pipa e vento,
num lindo momento,
vão chegar ao céu.

 


- Poesia para a vida

Pus-me a cantar minha pena com uma palavra tão doce, de maneira tão serena, que até Deus pensou que fosse felicidade - e não pena.
Anjos de lira dourada debruçaram-se da altura.
Não houve, no chão, criatura de que eu não fosse invejada, pela minha voz tão pura.
Acordei a quem dormia, fiz suspirarem defuntos.
Um arco-íris de alegria da minha boca se ergue apondo o sonho e a vida juntos.
O mistério do meu canto, Deus não soube, tu não viste.
Prodígio imenso do pranto: - todos perdidos de encanto, só eu morrendo de triste!
Por assim tão docemente meu mal transformar em verso, oxalá Deus não o ausente, para trazer o Universo de pólo a pólo contente!

Cecília Meireles

* Até este momento foram somadas 12 mortes no atentado na escola em Realengo, Rio de Janeiro. 10 meninas, 1 menino e o atirador que suicidou-se.
* Hoje também houve outro tremor de terra no Japão

Está na hora deste dia terminar, né? e nem bem começou

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sorria, você está na Bahia

A Bahia é pelo segundo ano consecutivo o estado com maior número de assassinatos de gays, lésbicas e travestis, segundo relatório anual divulgado nesta segunda-feira (4) pelo Grupo Gay da Bahia (GGB). No relatório, o GGB também entrega o troféu "Pau de Sebo" ao deputado Jair Bolsonaro (PP), "considerando que sua cruzada antigay estimula a prática de crimes homofóbicos".
Em todo o Brasil, 260 assassinatos de gays, lésbicas e travestis foram registrados - 62 mortes a mais do que 2009. Na Bahia, foram 29 homicídios. Com 43% dos casos, o Nordeste é a região que tem mais homicídios de homossexuais e travestis. Levando em conta o número da população, Alagoas é o estado com maior número de morte de homossexuais e travestis por habitantes.
Considerando as capitais, Maceió é a que tem o maior número de gays assassinados - 9 homicídios; em Salvador foram 8, 7 no Rio de Janeiro e 3 mortes em São Paulo.
Segundo dados do GGB, 43% dos homicídios foram a tiros, 27% a facadas, 18% por espancamento e 17% por sufocamneto ou enforcado. O grupo ainda comparou os dados do Brasil com os coletados nos EUA, onde são registrados 14 assassinatos de travestis em 2010 - no Brasil foram 110. De acordo com o grupo, o risco de um homossexual ser assassinado no Brasil é 785% maior que nos EUA.
 
Fonte: http://aguilho-tina.blogspot.com/2011/04/bahia-e-terra-da-homofobia.html
Foto encontrada no site http://www.tadashihp.com/o-que-e-homofobia/

terça-feira, 5 de abril de 2011

Sempre fui Dzi sem saber (entrevista Fernanda Soares)


Sabe aquele dia que você pensa: VAI SER MORNO! Sol quente arrebentando a cabeça, vento ausente, horas arrastadas a espera de alguma coisa que realemente idique que valeu a pena levantar da cama. Um exame aqui, nada no pensamento ali.

Estava me devendo este presente que foi ofertado ontem pelo amigo Victor Venas. "Você aind anão viu? Não acredito! É sua cara! Você tem que ver!!!! Vou deixar ai embaixo." Falava num entusiasmo que me contagiou. Eu desisti de assistir filmes no cinema porque fica uma carestia que só para mim. Táxi muito caro e preços de ingressos também nada muito chamativos para quem já gastou muito com transporte. Com este filme foi assim também, aliás pior. Cheguei na porta do cinema e a sessão tinha sido cancelada por causa do incêndio da Oi. Só gastei e me aborreci. Esperei sair em DVD.

Não foi preciso, ele chegou em minhas mãos através do carinho e da homenagem (sim, só pode ser uma homenagem) de Victor. Coloquei ansioso o DVD dos Dzi Croquettes e o meu dia tomou uma grandiosidade inimaginável para quem acordou daquele jeito que está no início do texto.



Fui tomado por uma emoção, um sentimento de liberdade e verdade e amor.... pela alegria da arte, da alegria em si mesma. Antes deste documentário eu nunca tinha ouvido falar desse grupo genial, dessa vida Dzi que no fundo eu sou, eu era sem saber.

Ainda estou muito emocionado e devo ficar assim  por alguns dias. Desejei postar uma entrevista, pois há muito tempo não coloco ninguém falando aqui suas perturbações. Intui que Fernanda poderia nos dizer alguma coisa e que pudesse ter referência com o sentimento que os Dzi me deixaram hoje.

Mosca!

Fernanda fala de AMOR, de liberdade e de fazer o que lhe der na telha! É ou não é puro DZI?

Porque SÓ O AMOR CONTRÓI (quem assistiu ao documentário entenderá)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O meu querer

Há uma mentira dentro do discurso politacamente correto da inclusão que afirma todas as pessoas serem deficientes. Lógico que isso é uma mentira deslavada e irritante, porque tenta amenizar o problema grave da falta de respeito as diferenças, sobretudo pelas pessoas com deficiência. Reafirmando esse discurso todos se colocam no mesmo saco  e ao mesmo tempo longe de qualquer responsabilidade, já que todos nós temos deficiências.

Ontem, numa perrenga judicial que estou enfrentando, fiquei desesperado pela falta de ética e de respeito com que advogados lidam com as causas (tudo justificável pelo "to fazendo meu trabalho", "to recebendo para defender a empresa"), mentindo, manipulando fatos.... Algo que não sei lidar. Me desconserta, me fere, me atordoa.

Em relação a deficiência, e neste caso específico, tudo fica resumido as necessidades, é simples consertar uma cadeira de rodas, é simples colocar uma rampa, tudo pro povo é simples, porque é o que acham que precisamos e e nada mais. NINGUÉM sabe exatamente o que passamos. Já até falei sobre esse "sentir sozinho" em Judite. Ontem não foi diferente. Tudo era reduzido as coisas que precisava fazer, sem levar em conta a VIDA.

Num momento de "inspiração divina" abri o verbo e não me contive, foi mais ou menos assim:

"Uma coisa que a Justiça talvez nunca entenda e nem leve em consideração é a grande diferença entre precisar e querer.

Eu preciso sair de casa para ir ao médico, preciso trabalhar, preciso fazer meus exercícios físicos, minha fisioterapia, preciso ensaiar, preciso me apresentar, porque é minha profissão, mas uma coisa que os senhores nunca vão entender é o querer. Eu querer beber uma água de côco que é vendida na porta de meu prédio e não poder ir porque a cadeira que vocês alugaram para mim não entra no elevador do meu prédio e eu PRECISAR chamar o porteiro para colocar uma cadeira plástica para eu sair de casa. Uma coisa vocês nunca entenderão é o simples querer comprar uma revista na banca da esquina de minha casa, onde possa ler a matéria que saiu sobre mim.

Eu respeito muito o meu querer, senhor, porque foi por querer tanta coisa na vida que eu cheguei aonde cheguei. Foi por desejar tanto que alcancei tudo que alcancei até agora. Se eu tivesse simplesmente voltado para o que eu precisava, eu apenas tomava meus remédios e sentava no sofá assistindo ao Big Brother.

E é por isso, senhor, que eu respeito muito mais os meus quereres do que o meu precisar, mas tenho certeza que o senhor nunca compreenderá.