sexta-feira, 1 de abril de 2011

O meu querer

Há uma mentira dentro do discurso politacamente correto da inclusão que afirma todas as pessoas serem deficientes. Lógico que isso é uma mentira deslavada e irritante, porque tenta amenizar o problema grave da falta de respeito as diferenças, sobretudo pelas pessoas com deficiência. Reafirmando esse discurso todos se colocam no mesmo saco  e ao mesmo tempo longe de qualquer responsabilidade, já que todos nós temos deficiências.

Ontem, numa perrenga judicial que estou enfrentando, fiquei desesperado pela falta de ética e de respeito com que advogados lidam com as causas (tudo justificável pelo "to fazendo meu trabalho", "to recebendo para defender a empresa"), mentindo, manipulando fatos.... Algo que não sei lidar. Me desconserta, me fere, me atordoa.

Em relação a deficiência, e neste caso específico, tudo fica resumido as necessidades, é simples consertar uma cadeira de rodas, é simples colocar uma rampa, tudo pro povo é simples, porque é o que acham que precisamos e e nada mais. NINGUÉM sabe exatamente o que passamos. Já até falei sobre esse "sentir sozinho" em Judite. Ontem não foi diferente. Tudo era reduzido as coisas que precisava fazer, sem levar em conta a VIDA.

Num momento de "inspiração divina" abri o verbo e não me contive, foi mais ou menos assim:

"Uma coisa que a Justiça talvez nunca entenda e nem leve em consideração é a grande diferença entre precisar e querer.

Eu preciso sair de casa para ir ao médico, preciso trabalhar, preciso fazer meus exercícios físicos, minha fisioterapia, preciso ensaiar, preciso me apresentar, porque é minha profissão, mas uma coisa que os senhores nunca vão entender é o querer. Eu querer beber uma água de côco que é vendida na porta de meu prédio e não poder ir porque a cadeira que vocês alugaram para mim não entra no elevador do meu prédio e eu PRECISAR chamar o porteiro para colocar uma cadeira plástica para eu sair de casa. Uma coisa vocês nunca entenderão é o simples querer comprar uma revista na banca da esquina de minha casa, onde possa ler a matéria que saiu sobre mim.

Eu respeito muito o meu querer, senhor, porque foi por querer tanta coisa na vida que eu cheguei aonde cheguei. Foi por desejar tanto que alcancei tudo que alcancei até agora. Se eu tivesse simplesmente voltado para o que eu precisava, eu apenas tomava meus remédios e sentava no sofá assistindo ao Big Brother.

E é por isso, senhor, que eu respeito muito mais os meus quereres do que o meu precisar, mas tenho certeza que o senhor nunca compreenderá.

6 comentários:

  1. Porreta demais esse Edu. Mandou muito bem, tinha mais é que falar do querer mesmo. Mais do que precisar, você queria falar. E falou. Bj

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  2. São pessoas com você Edu, que fazem com que eu acredite, que não estou sozinha. Como advogada, especialista em Direitos Humanos, digo que queria era que existissem advogados como você. Ainda bem que sou coreógrafa, dançarina, e aí sim quero dizer pra todo mundo: QUERO é poder está junto sempre que puder, e sempre que você quiser e precisar. Te amo, bjs.

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  3. Meu Lindo! este 'querer tem tanto significado, nem sei explicar! Tem tanta gente que se quer tem coragem de querer, quanto mais entender... O respeito que vc tem pelo teu querer faz eu também valorizar o meu. E me fez bem. Por razões diversas, quero o meu querer e o querer de todos. E sim, quero ver os quereres daqueles que acham que 'precisam' ou que os outros acham que precisem. abração apertado e gostoso com dancinha improvisada e rodopius! Carla

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  4. Meu Lindo! este 'querer tem tanto significado, nem sei explicar! Tem tanta gente que se quer tem coragem de querer, quanto mais entender... O respeito que vc tem pelo teu querer faz eu também valorizar o meu. E me fez bem. Por razões diversas, quero o meu querer e o querer de todos. E sim, quero ver os quereres daqueles que acham que 'precisam' ou que os outros acham que precisem. abração apertado e gostoso com dancinha improvisada e rodopius! Carla

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  5. Oi Edu! É tocante o que você disse a respeito do SEU QUERER. Desperta nossa sensibilidade para perceber o outro, seja ele portador de uma deficiência ou não, como sujeito que não apenas PRECISA viver, mas QUER viver. E entre PRECISAR e QUERER há uma fundamental diferença: o básico para a nossa sobrevivência é o que PRECISAMOS; o essencial para a nossa felicidade é o que QUEREMOS. E isso ninguém tem o direito de nos privar. Nem nós a nós mesmos!Mesmo que as circunstâncias sejam desfavoráveis.Parabéns pelo SEU QUERER, que me fez querer bem mais.

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