quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Maria Duschenes



A mestra, coreógrafa e dançarina Maria Duschenes foi discípula de Laban e uma das responsáveis pela difusão deste método no país. Húngara de nascimento, em 1940 veio ao Brasil fugindo da 2ª Guerra Mundial. Aos 22 anos adquiriu poliomielite que a deixou com sequelas. Com a limitação dos movimentos dedicou-se à coreografia e às aulas de dança a educadores, psicólogos, dançarinos, coreógrafos e atores.

Hoje, ao acordar, liguei a tv para espantar o sono. Recebi este presente da TV SESC que apresentava o documentário "Maria Duschenes, o Espaço do Movimento", de Inês Bogéa e Sergio Roizenblit.

Maria Duschenes
Por Inês Bogéa (in: Maria Duschenes - o Espaço do Movimento).

"Maria Duschenes pôs sua arte e suas idéias a serviço da dança do Brasil. Ela faz parte de uma turma de estrangeiros que chegou ao país no entre guerras, com idéias novas e informações para partilhar, gerando um movimento de transformação da dança local. "Com a dança a gente fala com o mundo", gostava de dizer.

Duschenes introduziu no Brasil os métodos de Emile Jaques Dalcroze (1865-1950) e Rudolf Laban (1879-1950), tecendo fios que adensaram o meio artístico, inter-relacionando as artes e acentuando sempre a ligação do corpo com o intelecto. A afirmação de uma técnica que coloca a dança à disposição de todos, o abandono de formas fixas e corpos padronizados, e o entendimento de que o corpo é fundamental nas atividades intelectuais fazem da presença de Duschenes um verdadeiro pólo transformador da dança paulista. Tudo isso feito singelamente, decantando o tempo da educação, à espera da resposta, do olhar, da cumplicidade e parceria do outro para se fortalecer no mundo.

Baseada no princípio holístico da unidade corpo/espírito, ela introduziu uma dimensão psicológica em suas técnicas somáticas. Como diz: "A dança em si, isoladamente, não é suficiente como fator de integração entre corpo e mente e recuperação da identidade, pois a linguagem não-verbal constitui só uma parte de nossas linguagens. Porém, ela serve de ponte de ligação, integrando os movimentos do corpo e sua linguagem às outras linguagens verbais, escritas, visuais, etc.".

Duschenes partilhava, com seus mestres, do conceito de que a dança não deveria ser propriamente um trabalho em busca de perfeição, mas sim uma interrogação do espaço, de sua estrutura e suas possibilidades. Relutava, assim, em produzir uma formalização marcada dos gestos, mais interessada nas diferenças e identidades que podem surgir de cada um. Para ela, a expressão corporal pode ser tanto um meio de preparação do corpo do artista cênico, ampliando sua capacidade de entendimento e expressão, quanto uma prática comum a todos, com a finalidade da percepção individual.

Uma grande professora, chamada carinhosamente por seus alunos, até hoje, de Dona Maria, procurou trabalhar com as pessoas por meio da dança e não apenas para a dança. Ou seja, dança e movimento como formas de reconhecer o espaço e de harmonizar a personalidade subjetiva interna e a personalidade externa, física. É uma relação que permeia a dança moderna praticamente como um todo: o corpo é um instrumento de expressão e se apresenta numa relação complexa entre interior e exterior.

A dança, dessa perspectiva, pode religar as pessoas, levando a uma integração do homem num sentido quase cósmico. Em suas palavras, "a dança tem uma qualidade primordial: ela é direta, obriga a um contato imediato, você trabalha e atua sobre o seu próprio corpo sem poder adiar nada. Não se pode ser preguiçoso, nem no corpo, nem nas idéias, quando se está dançando. É possível, por meio da dança, causar uma síntese, provocando uma experiência muito profunda em relação à vida".

Com sua doçura, contenção e senso de equilíbrio, Dona Maria resgatou para muitos certa qualidade de experiência corporal concreta, refinando as matrizes do gesto, resistindo às rupturas e descontinuidades entre os diferentes setores da vida. Deu corpo a muitas facetas da vida diária, ora acentuando o lado mais expansivo das relações, ora sublinhando o recolhimento necessário."

Dança Coral "... no Brasil segundo os preceitos que aprendeu com Laban em Dartington. Uma proposta democrática, que quer tornar a dança acessível a todos: "para participar de uma dança coral não é preciso ser bailarino e nem mesmo ter experiências anteriores disciplinadas. Cada participante contribui com suas próprias características. Mesmo se uma contribuição for limitada, ela é relevante para a composição de um todo. O resultado final será a combinação de todas as características individuais, num arranjo de possibilidades quase infinito. E, além disso, não é preciso que esse resultado chegue ao palco. A dança coral interessa, sobretudo, a quem a pratica constantemente".

Algumas danças corais foram marcantes na carreira da Dona Maria. Entre elas, O Navio da Noite (1989), realizado no Centro Cultural São Paulo como parte das comemorações de 110 anos de Laban, Origens I (1990), que reuniu 150 pessoas no palco do Teatro Municipal, e Origens II (1991), quando foi homenageada durante a 21a Bienal Internacional de São Paulo. Foram dois espetáculos, um infantil, com pelo menos cem crianças, e outro profissional, que aconteceram ao ar livre na instalação Slice of Earth de Denise Milan. Este evento foi concebido e organizado por Maria Mommensohn, Daraína (Tuca) Pregnolato, Renata Macedo Soares e Solange Arruda."

Vale a pena pesquisar, conhecer, saber mais sobre Dona Maria.

Aqui o link para assistir ao documentário: http://vimeo.com/26485159

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