domingo, 9 de junho de 2019

Desejo sobre corpos destoantes

Durante toda minha infância e adolescência, eu só convivi com bípedes e a Bipedia (junto com a Branquitude e a Heterossexualidade), como vocês sabem melhor do que eu - ou não, só entende o belo, o desejo, o corpo, a partir de sua perspectiva que mais tarde eu compreendi como bastante limitada. E ainda dizem que quem tem limitações somos nós!

Voltando ao início desse texto, como eu não me encontrava com nenhum par, eu construí um imaginário de corpo belo e desejável a partir da lógica bípede. Claro que eu não me encontrava ali. Então, cobria (ainda cubro) minhas pernas com calças longas. Quando minha coluna começou a entortar eu não queria expor minha escoliose, minha barriga lateral, como chamo...

Quando me compreendi gay, as coisas mudaram um pouco e tive relacionamentos, pegas, pegações de maneira mais constante (não é porque ficavam comigo que eram devotees, viu? não deturpem minhas palavras). Porém, eu ainda não me entendia belo, eu ainda queria me trancar num quarto escuro onde meu corpo não fosse visto. Eu já transei de calça para a pessoa não ver minha perna. Observem as violências que sofremos com os padrões bípedes.

Mas foi ao ouvir sobre os devotees que eu transformei o olhar sobre meu corpo. Devotee é a pessoa que sente atração pela deficiência. Descobrir isso mudou uma chave que eu tinha da negação. Eu comecei a enxergar meu corpo pela perspectiva de quem se interessa por ele, deseja o que é indesejável nos padrões hegemônicos. Claro que nessa relação existem inúmeras camadas e nada é só flores, existe violência e subalternização, mas saber que uma parcela da população sente tesão pelo que é rejeitado pelo desejo comum, me trouxe alívio e outra relação com meu corpo.

Além de corpos próximos ao meu, sei que existem outros que também sofrem com essa hegemonia do belo e desejável. 
Pensando nessas questões, submeti um projeto no Edital Pibiartes - PROEXT/UFBA e desde o ano passado, estamos investigando artisticamente essas camadas.

Vamos compartilhar como parte desse processo, a performance Nus e [des]graçados, com Edu O. e Estela Lapponi, na próxima quarta-feira (12/06), às 19h, no Teatro do Movimento da Escola de Dança da UFBA, R$ 10,00. 

Comigo, ao longo desse ano, estão no processo: Natalia Rocha, William Gomes, Thiago Cohen, Aldren Lincoln, Junior Oliveira, Kiran Gorki, Gabriel Sousa Domingues e Estela Lapponi que veio de SP especialmente para esta apresentação.

Agradecer aos nossos apoiadores: PROEXT/UFBA, Escola de Dança da UFBA, Casa Rosada, Café Confeito e Bagacinho Boteco.



#pracegover Descrição da imagem: Flyer quadrado com fundo preto onde vê-se ao meio sombras de três pessoas à frente de luzes brancas e vermelhas que iluminam parte de um tecido branco. À frente, o peitoral e parte da cabeça e braços de outra pessoa, sem muita nitidez, iluminados por uma luz que vem do chão. No canto esquerdo lê em letras brancas Quarto Escuro. Entre a palavra Escuro uma mancha branca redonda. Abaixo, lê-se 12/06, Teatro do Movimento Escola de Dança. À direita, anuncia-se 19h, $10, classificação indicativa: 18 anos. Uma faixa branca atravessa toda a parte inferior da imagem, divulgando os Apoios: Escola de Danca da UFBA, UFBA, PROEXT, PROEXT e PIBIArtes 2018/2019, Casa Rosada, Café Confeito e Bagacinho Boteco. Fim da descrição

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