domingo, 9 de junho de 2019

O que existe num Quarto Escuro?

A primeira vez que entrei num Quarto Escuro, me trataram como monstro. Eu estava carregado nas costas de um amigo e as pessoas nos pegavam sem entender o que era aquilo: duas cabeças, quatro bundas, o pau que era um pé calçado...

Ao longo da vida, minha sexualidade foi tratada como inexistente. Meu corpo não provocava desejo, eu não sentia desejo...

No período que compreendi por quem meu desejo batia mais forte, comecei a ficar com muitos homens, contrariando aquela expectativa do meu corpo não ser desejado.
Um dia, eu soube que havia umas pessoas que sentiam tesão, justamente, na minha perna fina, na minha escoliose, na cadeira de rodas. E eu achei isso o máximo!

Há dez anos, eu criei um projeto que tratava sobre isso.
Agora, juntei uma galera para falarmos sobre desejo, corpo... sobre o que se revela num Quarto Escuro. Sabendo que, ali, naquele espaço, o que não pode ser anunciado como desejável, se esconde na escuridão e todos passam a mão, metem a boca e saem como quem não existe.

O que existe num Quarto Escuro? O que esse processo me revelou a mim mesmo?

Nessa quarta-feira, 12/06, o projeto Quarto Escuro recebe “Nus e [des]graçados”, performance de Edu O. e Estela Lapponi, 19h, $10,00, no Teatro do Movimento da Escola de Dança da UFBA.

Quarto Escuro é parte do projeto "O Bicho, O Amigo e O Santo: olhares sobre corpos destoantes", coordenado por Edu O., aprovado pelo Edital PIBIArtes 2018-2019 da PROEXT/UFBA que propõe investigação acerca do corpo com deficiência na relação com a sexualidade, estruturas de poder e desejo, ressignificando os padrões hegemônicos na Dança.

Acompanham esse processo: Natalia Rocha, William Gomes, Thiago Cohen, Junior Oliveira, Kiran Gorki, Aldren Lincoln, Gabriel Sousa Domingues e Estela Lapponi.

foto Aldren Lincoln

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