terça-feira, 31 de maio de 2011

Para Malu Mader

Era daquela casta de mulheres que o tempo, como um escultor vagaroso, não acaba logo, e vai polindo ao passar dos longos dias. Essas esculturas lentas são miraculosas; Sofia rastejava os vinte e oito anos; estava mais bela que aos vinte e sete; era de supor que só aos trinta desse o escultor os últimos retoques, se não quisesse prolongar ainda o trabalho, por dois ou três anos.

Os olhos, por exemplo, não são os mesmos da estrada de ferro, quando o nosso Rubião falava com o Palha, e eles iam sublinhando a conversação... Agora, parecem mais negros, e já não sublinham nada; compõem logo as coisas, por si mesmos, em letra vistosa e gorda, e não é uma linha nem duas, são capítulos inteiros. A boca parece mais fresca. Ombros, mãos, braços, são melhores, e ela ainda os faz ótimos por meio de atitudes e gestos escolhidos. Uma feição que a dona nunca pôde suportar, - coisa que o próprio Rubião achou a princípio que destoava do resto da cara,- o excesso de sobrancelhas,-isso mesmo, sem ter diminuído, como que lhe dá ao todo um aspecto mui particular.

Machado de Assis em Quincas Borba


Vi esta referência do texto de Machado a Malu no blog Digestivo Cultural , como é de fato uma descrição perfeita quis piblicar aqui. Eu ainda não havia revelado neste espaço, mas Malu Mader é a mulher que me perturba na vida. Amor sublime!

Mão na mão, mão na cara

Desculpe, mas eu não posso te dar uma mãozinha
Eu não tenho obrigação de te estender a mão
Eu queria mesmo te enfiar a mão
Cara, larga a minha mão
Oh meu irmão, se continuar com essa mão na mão...
Aqui não
Vem, segura na minha mão
Eu te dei a mão, mas você já quer o braço!
Palhaço, larga mão...
Toda hora todo mundo levanta a mão
Bate na palma da mão
Bate a mão na minha cara
Isso é muito caro para você meter a mão
Antes de comer lave
Para comer de mão
Não se comprometa, lave
Não se canse, cruze
Quem passar a mão, leva
Eu de mão no queixo, canso
Apertar a mão
De aliança na mão
Da mão que ninguém leu

ATO PELO ESTADO LAICO E EM DEFESA DE UMA ESCOLA SEM HOMOFOBIA

ATO PELO ESTADO LAICO E EM DEFESA DE UMA ESCOLA SEM HOMOFOBIA

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Culpa da terapeuta

Um amigo meu andou apaixonado por gente de fora, amor a distância, essas coisas... A geografia não ajudou muito na relação e o fim já foi o que todos esperavam menos ele.

O bichinho inventou de arrumar uma paixão lá de Sumpalo. Se encontraram poucas vezes, mas o suficiente para afirmarem um grande sentimento e morrerem de saudade nos enormes intervalos sem um contato físico. Relação patrocinada por Graham Bell. Contas telefônicas absurdas, lamúrias e tristezas. O de cá, coitado, ainda tinha um gasto extra com lenço de papel, embora ele precisasse mesmo de um lençol para aparar tanta lágrima. O de lá cansou de sofrer. Todo mundo cansa, não é? E inventou de acabar aquele tormento de horas a fio de carpideiras. Para que fez isso, meu filho?

O de cá resolveu bater a minha porta quando eu me preparava para dormir. Aos prantos, me abraçando, agarrado a duas caixas de cerveja.

- Meu amigo, estou precisando de você e não vá me negar esta noite aqui. Já trouxe a Skolzinha, amiga de todas as horas.

Foi jogando as caixas no sofá e abrindo a primeira latinha. Eu que não tinha planejado um fim de sexta-feira assim, até que gostei, embora estivesse preocupado com a situação do rapaz. Já tinha tentado ligar para ele para saber a boa da noite, mas não atendia.

- Eu joguei o celular pela janela do ônibus. Eu estava indo para casa quando o de lá me ligou dizendo que cansou de sofrer, que não consegue mais bancar nossa relação assim, que numseiquê. Eu não esperei ele desligar e taquei o celular pela janela, aos prantos, gritando no meio do corredor, um vexame com o cobrador que me vê todos os dias. Só faltei me jogar junto.
- Você está louco! Seu ncelular é de conta!
- Prefiro patrocinar a alegria de alguém do que a minha própria desgraaaaaça!

E começou um choro sem fim, interrompido apenas com os goles de cerveja que acompanhavam o soluço do pranto. Ficamos nisso até quase o final da segunda caixa. Eu já estava para lá de Bagdá e ele não menos. Vocês acreditam que não parou de chorar durante três horas? Bebendo e chorando. Chorando e bebendo.

De repente, ele olha na minha cara, começa a me esbofetear. Eu sem entender olhava assustado. Ele começou a gritar e a bater a cabeça no chão, cabeça na parede, cabeça no chão.... infinitas vezes e a me bater.

- Isso é para eu descontar... Cansou de sofrer?! Não pode bancar nossa relação, é? É mentira dele. Isso foi invenção da terapeuta. Tudo isso é culpa de terapeuta. Só pode ser. Preciso ligar para ele para explicar que as coisas não são assim, que terapeuta é mau amado, é bicho esquisito, é complicado. Que nosso amor vale a pena, sim. Que eu estou aqui longe, mas é como se estivesse perto. Ahhh terapeuta desgraçada!!!!! Vou ligar para ele.

O de cá parou de me esbofetear com a mão perdida no ar como se fosse efeito de novela, arregalou os olhos e sussurrou em desespero:

- Mas eu não sei o número dele de cabeça, só tinha no celular.

domingo, 29 de maio de 2011

Mataram meu curió

Sempre que acontecia algum problema em casa ele saía sem rumo, arrastando os dedos fechados pelas paredes, assoviando uma música inventada na hora. Fugia de desespero. Fugia de tristeza. Naquele dia não conseguiu reagir ao ler bilhetinho azul na mesa, embaixo da fruteira de bananas passadas e sem maçãs. Imaginou a solidão a partir dali. Cama de casal sem função e o quarto do filho único cheio de pucumã, poeira embaixo do tapete, brinquedos quebrados largados sem preocupação.

Sentou-se no chão e nunca mais assoviou. Levou muito tempo naquela posição. Quando viu estava vomitando vodka no sapato, engasgado com o nada que saía de dentro. Começou então a beber, diariamente, para dormir e quando acordava bebia para passar o tempo. Emagreceu. Cresceu barba. Cabelos brancos. Nunca um telefonema de "tudo bem?". Nunca uma notícia de boletim do garoto. Como sequestro, desastre, morte....

Quando criança não entendia quando a mãe ria falando do pai bêbado no sofá: "Mataram meu curió". Quem repetiria isso agora?

sábado, 28 de maio de 2011

A grande ciranda

Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais, verdade absoluta registrada por Belchior. E como é difícil esta constatação. Percebemos que aqueles contestadores, emancipados, independentes, heróis não passam de tentativas frustradas e quando chega mesmo o momento já estamos calçados com as pantufas da repetição, da cruel perpetuação dos padrões antigos, incrustados na sociedade que ñada mais é do que nós mesmos que andamos em círculos, nessa grande ciranda. Dançamos sempre a mesma música.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Domínio D'Alma

Há uns 2 ou 3 anos recebi um convite de Nubinha para fazermos um video que ela queria inscrever em algum canto por aí. Gostei da idéia, achei que seria uma experiência nova, gostosa... interferi demais na idéia dos meninos para que ficasse mais próximo possível de mim. Eles produziram este Domínio D'Alma e às vezes vou lá dar uma olhadinha para me trazer a leveza que eu preciso alguns dias.

Espero que curtam

Domínio D'Alma
Direção e edição: Filipi Pauli
Produção: Núbia Teixeira
Roteiro: Edu O. e Marcelino Alves