Um amigo meu andou apaixonado por gente de fora, amor a distância, essas coisas... A geografia não ajudou muito na relação e o fim já foi o que todos esperavam menos ele.
O bichinho inventou de arrumar uma paixão lá de Sumpalo. Se encontraram poucas vezes, mas o suficiente para afirmarem um grande sentimento e morrerem de saudade nos enormes intervalos sem um contato físico. Relação patrocinada por Graham Bell. Contas telefônicas absurdas, lamúrias e tristezas. O de cá, coitado, ainda tinha um gasto extra com lenço de papel, embora ele precisasse mesmo de um lençol para aparar tanta lágrima. O de lá cansou de sofrer. Todo mundo cansa, não é? E inventou de acabar aquele tormento de horas a fio de carpideiras. Para que fez isso, meu filho?
O de cá resolveu bater a minha porta quando eu me preparava para dormir. Aos prantos, me abraçando, agarrado a duas caixas de cerveja.
- Meu amigo, estou precisando de você e não vá me negar esta noite aqui. Já trouxe a Skolzinha, amiga de todas as horas.
Foi jogando as caixas no sofá e abrindo a primeira latinha. Eu que não tinha planejado um fim de sexta-feira assim, até que gostei, embora estivesse preocupado com a situação do rapaz. Já tinha tentado ligar para ele para saber a boa da noite, mas não atendia.
- Eu joguei o celular pela janela do ônibus. Eu estava indo para casa quando o de lá me ligou dizendo que cansou de sofrer, que não consegue mais bancar nossa relação assim, que numseiquê. Eu não esperei ele desligar e taquei o celular pela janela, aos prantos, gritando no meio do corredor, um vexame com o cobrador que me vê todos os dias. Só faltei me jogar junto.
- Você está louco! Seu ncelular é de conta!
- Prefiro patrocinar a alegria de alguém do que a minha própria desgraaaaaça!
E começou um choro sem fim, interrompido apenas com os goles de cerveja que acompanhavam o soluço do pranto. Ficamos nisso até quase o final da segunda caixa. Eu já estava para lá de Bagdá e ele não menos. Vocês acreditam que não parou de chorar durante três horas? Bebendo e chorando. Chorando e bebendo.
De repente, ele olha na minha cara, começa a me esbofetear. Eu sem entender olhava assustado. Ele começou a gritar e a bater a cabeça no chão, cabeça na parede, cabeça no chão.... infinitas vezes e a me bater.
- Isso é para eu descontar... Cansou de sofrer?! Não pode bancar nossa relação, é? É mentira dele. Isso foi invenção da terapeuta. Tudo isso é culpa de terapeuta. Só pode ser. Preciso ligar para ele para explicar que as coisas não são assim, que terapeuta é mau amado, é bicho esquisito, é complicado. Que nosso amor vale a pena, sim. Que eu estou aqui longe, mas é como se estivesse perto. Ahhh terapeuta desgraçada!!!!! Vou ligar para ele.
O de cá parou de me esbofetear com a mão perdida no ar como se fosse efeito de novela, arregalou os olhos e sussurrou em desespero:
- Mas eu não sei o número dele de cabeça, só tinha no celular.
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