É enlouquecedor passar a vida sem ter sido amado.
Essa é última frase de Aguarrás, meu primeiro monónologo escrito em 1998. Nesse trabalho eu pensava na loucura que a solidão e o abandono nos causa. Nos fantasmas que criamos a partir do desejo de um amor inexistente. Há duas semanas falando sobre meus trabalhos, Aguarrás foi tema recorrente nas entrevistas que dei, em palestras. Um trabalho muito marcante para mim, início de tudo. Foi com ele que pidei num palco pela primeira vez e até hoje ouço comentários de pessoas que assistiram.
A loucura me toca desde muito cedo. Em Sto Amaro tinha Manda Brasa, Pezinho, Alice... as cidades perderam seus loucos de rua. Embora vivessem em abandono e numa situação de pobreza e tristeza, eu achava que ali estava o coração do lugar. Não sei explicar. Me fascinava quando os via na rua. Ainda hoje fico hipinotizado, tem algo de identificação. Fico pensando nessa pessoa que nunca terá um amigo para dividir angústias, pensamentos, sentimentos. Nesse corpo que acaba não sendo seu, violentado, violado por idiotas que brincam, falam chacotas, agridem... Não há beleza em nada disso, mas me instiga saber o que se passa ali dentro.
Na entrevista que me concedeu, Bia fala sobre a loucura que lhe perturba, incomoda, angustia.
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