quarta-feira, 2 de março de 2011

Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada

Chove torto no vão das árvores.
Chove nos pássaros e nas pedras.
O rio ficou de pé e me olha pelos vidros.
Alcanço com as mãos o cheiro dos telhados.
Crianças fugindo das águas
Se esconderam na casa.

Baratas passeiam nas formas de bolo...

A casa tem um dono em letras.

Agora ele está pensando -

no silêncio Iíquido
com que as águas escurecem as pedras...

Um tordo avisou que é março.

(Manoel de Barros - trecho de Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada)

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