segunda-feira, 9 de novembro de 2020

A foto mais bonita do mundo

Durante todo esse tempo eu achava essa foto maravilhosa. Me percebia bonito e lembrava de como eu me sentia nesse exato momento: lindo! Não sei se eram os botões da camisa que me faziam me considerar mais maduro. O fato é que me achei lindo nesse dia e pedi ao fotógrafo - Seu Florisvaldo - para tirar esse retrato, embora eu não passasse de “bonitinho” para as pessoas, como uma miss simpatia. O padrão de normalidade não permite (ventos de mudança começam a soprar) se considerar uma pessoa com deficiência, realmente bela, há sempre um “mas”, um “apesar de”. Porém, hoje em dia, essa foto me revela outra coisa que eu esqueci durante muitos anos (a terapia deve explicar). Aí, eu estava no aniversário de uma amiguinha da rua onde eu morava e eu passei a festa toda sozinho. Me colocaram nesse sofá da sala, enquanto tudo acontecia na área externa. Sempre vinham me servir salgadinhos, doces e refrigerantes, mas eu passei uma festa inteira brincando sozinho. Essa fotografia deve ter sido o jeito que eu encontrei para me fazer presente ali. Eu sempre falo das sutilezas da bipedia e não estou culpando ninguém. Dentro da lógica bípede, talvez, ali fosse o melhor lugar que pudesse estar. Melhor do que ficar na mesa com adultos, já que as crianças corriam pelo pátio brincando. Hoje, eu olho esse menino sorridente e choro. A nossa solidão é algo que só os pares entendem. É como enfiar a cabeça embaixo d’água no mar. Algo que é único e pessoal. Só nós sabemos o silêncio que ouvimos dentro de nós, embora as ondas façam barulho ao redor. Ah, eu acredito que a Miss Simpatia ainda pode ser a mais bonita do mundo, assim como esta foto.

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