segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Super-Homen de cabeça para baixo ou porque sempre odiei o Teleton

Super-Homen de cabeça para baixo ou porque sempre odiei o Teleton e não é de agora. Em 2011, eu escrevi sobre o assunto quando ainda não ouvia falar sobre capacitismo, não estudava propriamente a deficiência e ainda não elaborava as questões como venho desenvolvendo agora, mas já sentia que esse programa reproduz e reforça o discurso tudo que combato há muito tempo. Caridade, filantropia é um projeto político histórico (está nos livros) de responsabilizar a sociedade civil e outras instâncias com aquilo que deveria ser responsabilidade do governo. Programas desse tipo, inclusive, muitas vezes, servem ao enriquecimento ilícito de alguns. Não estou questionando o trabalho da ACCD que é a instituição beneficiada com o Teleton, estou criticando a manipulação do uso da deficiência para comover e conseguir dinheiro. É manter a caridade com o discurso da pena e da culpa de quem tem mais dar a quem tem menos. Colaborar com um programa promovido e financiado por bolsonaristas, Silvio Santos, dono da Havan, etc... é inadmissível. Não se trata de "agora eles estão querendo mudar o discurso". Não é possível mudar o discurso porque o Teleton só existe por e para ser capacitista. Precisa comover para conseguir doações e comove apelando para a imagem fragilizada, dependente ou da superação da deficiência. É do cerne da existência desses projetos. Essa é uma questão estrutural, uma ACCD precisa da caridade pela falta de políticas públicas que garantam, de fato, nossos direitos em todos os âmbitos. É porque não brigamos pela efetivação dessas políticas, do investimento real na educação, saúde, mobilidade. Cadê nossa presença em outros programas, protagonizando novelas, jornais, apresentando nas tarde de sábado? Isso poderia efetivar mudanças reais. Esse problema se prolonga, exatamente, porque quem pensa a respeito e, mais recentemente, aparece criticando esse sistema em suas militâncias, cai no canto da sereia e reforça o discurso com sua presença esperando angariar likes e seguidores. Edu, mas o que tem a ver o Super-Homem de cabeça para baixo?

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