segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Malu Marley - primeira cadeira

Nem sei que idade eu tinha nessa foto, talvez entre 13 e 14 anos. Para mim, o que importa nela é Malu Marley - a minha primeira cadeira de rodas. Sempre nomeei minhas cadeiras com nome e sobrenome de artistas que admirava. Como vocês devem saber, eu tive poliomielite com 1 ano e só aos 13 ganhei Malu. Até então, eu me deslocava apenas engatinhando em casa e carregado na rua. Essa experiência é determinante em muitos aspectos da minha vida. Viver seguindo o trajeto que a pessoa que me carregava escolhia, decidia por mim. Até hoje, tenho dificuldade em andar sozinho com a cadeira, me bato nas pessoas, não sei para que lado desviar, a velocidade... e quando me empurram ainda guardo a experiência corporal de não poder escolher meu próprio caminho. As sutilezas e subjetividades da relação com a bipedia são tão intensas e marcantes, linha tênue entre o cuidado e exercício de poder, entre dependência e autonomia... e eu me expondo não sei pra que. Mas queria que vocês conhecessem Malu Marley. Nesse dia, estava em um sarau, recitando Castro Alves. Ainda tem a poesia da lembrança, não posso esquecer. E a nota do bogodinho? Kkkk Na imagem, estou em uma cadeira de rodas azul, maior do que eu, de manivela do lado direito. Eu, de paletó e gravata borboleta mal colada no colarinho, segurando um livro branco nas pernas, de bigode e sobrancelhas engrossados com lápis de maquiagem e boca semi aberta falando. Eu ainda tinha cabelo e franjas de escova.

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