Foto de Alessandra Nohvais
Há uns três anos fui convidado a dançar num seminário sobre sexualidade na mesma noite em que um pesquisador falaria sobre a sexualidade e o corpo com deficiência. Nesta ocasião tive conhecimento da existência de pessoas que se sentiam atraídas sexualmente por pessoas com deficiência, sendo o objeto de desejo especificamente a deficiência. Isso me despertou a curiosidade sobre o tema e o desejo de desenvolver um projeto artístico onde eu pudesse falar além da sexualidade, das relações sociais, religiosas, políticas e afetivas incidindo em nossos corpos e fui em busca de informações na internet.
Encontrei no site Bengala Legal uma palestra que explicava algumas nomenclaturas que diferenciavam a forma de interesse pela deficiência "Existem os devotees que são pessoas (homens ou mulheres, hetero ou homossexuais) que se sentem sexualmente atraídas por pessoas com deficiência. Há também os pretenders que são pessoas que, além de serem devotees, sentem-se sexualmente estimuladas quando fingem ser deficientes, utilizando, em público ou privadamente, equipamentos como cadeira de rodas, muletas, bengalas, aparelhos ortopédicos. Além disso, existem os wannabes, que são devotees que desejam tornar-se, de fato, deficientes".
A palestra "Devotees, Pretenders e Wannabes: atração por pessoas com deficiência - preconceitos e mitos" escrita por Lia Crespo, foi realizada no Rio de Janeiro em agosto de 2000 na X Conferência Mundial da Rehabilitation International.
O período desse texto nos aponta que o tema já desperta interesse há mais de dez anos, embora permaneça até os dias atuais reservado a guetos e grupos específicos, sendo desconhecido pela maioria das pessoas. Para mim isso tudo foi muito interessante, me dedicando a pesquisa, tendo muita dificuldade em encontrar material que ampliasse meu conhecimento no assunto.
Infelizmente não sei (ainda) ler Inglês e a maioria do que encontro sobre o tema esto nesta língua. Então, tive que buscar alternativas. Encontrei salas de bate-papo específicas para def's e era lógico que ali seria o lugar propício onde eu teria acesso mais rápido aos devotees. Dentre milhares de detalhes e características que descobri sobre eles, para mim despertou interesse o fato de que raramente realizam a fantasia em termos reais, preferem ficar no nível da imaginação e da virtualidade. Os devotees raramente assumem sua identidade real, escolhendo perfis fakes em comunidades e blogs especializados no assunto. Foi por causa dessa virtualidade a minha escolha em criar este blog e transformar este espaço num lugar onde as trocas via internet favorecerão a construção da coreografia/projeto e ajudarão durante todo o processo criativo.
Quero perceber no meu corpo/dança como será esta contaminação, da mesma forma como acontece nas relações de corpo/desejo entre as pessoas que vivem essa realidade/virtualidade.
A palestra de Lia Crespo pode ser encontrada também no site http://debpedroso.wordpress.com/ de minha amiga, Debora Pedroso que já tem contribuido com a minha pesquisa.