terça-feira, 13 de julho de 2010

Devotees, Pretenders e Wannabes

Foto de Alessandra Nohvais


Há uns três anos fui convidado a dançar num seminário sobre sexualidade na mesma noite em que um pesquisador falaria sobre a sexualidade e o corpo com deficiência. Nesta ocasião tive conhecimento da existência de pessoas que se sentiam atraídas sexualmente por pessoas com deficiência, sendo o objeto de desejo especificamente a deficiência. Isso me despertou a curiosidade sobre o tema e o desejo de desenvolver um projeto artístico onde eu pudesse falar além da sexualidade, das relações sociais, religiosas, políticas e afetivas incidindo em nossos corpos e fui em busca de informações na internet.


Encontrei no site Bengala Legal uma palestra que explicava algumas nomenclaturas que diferenciavam a forma de interesse pela deficiência "Existem os devotees que são pessoas (homens ou mulheres, hetero ou homossexuais) que se sentem sexualmente atraídas por pessoas com deficiência. Há também os pretenders que são pessoas que, além de serem devotees, sentem-se sexualmente estimuladas quando fingem ser deficientes, utilizando, em público ou privadamente, equipamentos como cadeira de rodas, muletas, bengalas, aparelhos ortopédicos. Além disso, existem os wannabes, que são devotees que desejam tornar-se, de fato, deficientes".


A palestra "Devotees, Pretenders e Wannabes: atração por pessoas com deficiência - preconceitos e mitos" escrita por Lia Crespo, foi realizada no Rio de Janeiro em agosto de 2000 na X Conferência Mundial da Rehabilitation International.


O período desse texto nos aponta que o tema já desperta interesse há mais de dez anos, embora permaneça até os dias atuais reservado a guetos e grupos específicos, sendo desconhecido pela maioria das pessoas. Para mim isso tudo foi muito interessante, me dedicando a pesquisa, tendo muita dificuldade em encontrar material que ampliasse meu conhecimento no assunto.


Infelizmente não sei (ainda) ler Inglês e a maioria do que encontro sobre o tema esto nesta língua. Então, tive que buscar alternativas. Encontrei salas de bate-papo específicas para def's e era lógico que ali seria o lugar propício onde eu teria acesso mais rápido aos devotees. Dentre milhares de detalhes e características que descobri sobre eles, para mim despertou interesse o fato de que raramente realizam a fantasia em termos reais, preferem ficar no nível da imaginação e da virtualidade. Os devotees raramente assumem sua identidade real, escolhendo perfis fakes em comunidades e blogs especializados no assunto. Foi por causa dessa virtualidade a minha escolha em criar este blog e transformar este espaço num lugar onde as trocas via internet favorecerão a construção da coreografia/projeto e ajudarão durante todo o processo criativo.


Quero perceber no meu corpo/dança como será esta contaminação, da mesma forma como acontece nas relações de corpo/desejo entre as pessoas que vivem essa realidade/virtualidade.


A palestra de Lia Crespo pode ser encontrada também no site http://debpedroso.wordpress.com/ de minha amiga, Debora Pedroso que já tem contribuido com a minha pesquisa.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Entrevista com Simone Bichara




Simone Bichara é uma amiga muito especial, vem do Acre e semeia delicadeza, amor e generosidade pela Terra, pelo Homem, pelos seus amigos. Com uma história de vida rica que mistura-se com as histórias de seu lugar, é um papo dos mais agradáveis e gostoso de se ganhar o tempo. Ela ainda pinta maravilhosas Mandalas e tem exposições em diversas partes do país.


Floresta

Alvorada


Alma


Acesse também http://www.cartadaterrabrasil.org/prt/index.html

A espera

Não há coisa mais insuportável do que a espera. Perdemos tempo, energia, passam-se oportunidades enquanto estamos a esperar. Esperar o táxi que não chega no horário, esperar o amor que não veio quando imaginávamos, quem sabe depois do tempo da delicadeza, esperar a funcionária do banco abrir a porta para deficiente, esperar a fila do banco, esperar a máquina dizer que não consta nenhum depósito na sua conta.


Aí você conta até dez e repete a operação. Não, não consta nada mesmo. Aliás, consta as inúmeras correspondências que o banco envia te informando que o saldo está negativo, mais precisamente R$ 40,47 negativos. Acho importante declarar os valores aqui porque se trata de Edital do Governo, então tem que estar tudo bem esclarecido.


Em fevereiro fui informado que as diligências do projeto foram aceitas e estava tudo ok para a assinatura do TAC (Termo de Acordo e Compromisso). Nessa época tive que abrir a conta do projeto para enviar a FUNCEB que enviaria ao Fundo de Cultura. Pois bem, meu povo, resumo da ópera. Só assinei o TAC em Junho com a promessa de depósito início de Julho, já estamos em meados do mês e nada feito. A conta só aumenta o tom do vermelho e essa dívida terei que pagar do meu próprio bolso, porque o Estado não se responsabiliza pelas taxas bancárias.


A FUNCEB me informou que o dinheiro já está disponível para o depósito, só não sei por que o Fundo de Cultura não deposita. Quem faz projeto sabe que o orçamento é regrado, temos que fazer mágica para que o dinheiro seja suficiente para o trabalho, com as taxas altíssimas do banco e sem o depósito no tempo certo, algo do projeto terá que ser sacrificado. Sabe o que eles dizem? Que terei que tirar de alguma rubrica pessoal, ou seja, do meu salário mesmo, porque se eu tirar de um outro ítem tem que justificar e eles não aceitam esse tipo de pagamento.


Ficamos radiantes com as vitórias dos nossos projetos, acho que tem muita coisa positiva no campo da Dança, mas esse lance do repasse do dinheiro dos Editais nos deixa nervosos, tensos, preocupados. Ninguém toma uma providencia para agilizar o baba. Enquanto isso, o projeto já começou, porque assinamos o TAC e temos que iniciar imediatamente, independente se dinheiro saiu ou não. Já estou tendo reuniões com o pessoal do cenário, música, figurino, produção. Já estamos fechando com o espaço para ensaio, enfim... o projeto anda dentro dos TERMOS, conforme o ACORDO, mas o COMPROMISSO do pagamento não chega.

sábado, 10 de julho de 2010

A guerra me perturba



O jogo da final da Copa do Mundo parecia uma guerra. Jogo feio, muito violento. Eu havia postado este clipe ontem e faço questão de homenagear os jogadores da Holanda e Espanha com este clipe. Guerra, violência... Nada muito diferente do que a História nos conta sobre esses povos, né?


Aqui o vídeo do Grupo Department Of Eagles - No One Does It Like You


Fui presenteado com este vídeo por Bruxa Lacerda. Vim colocar imediatamente aqui.

Os Participantes

O projeto O Corpo Perturbador foi vencedor do Edital Yanka Rudzka 2009 - Montagem de Espetáculos de Dança, da Fundação Cultural do Estado da Bahia.


A coreografia, concebida por Edu O. será dividia em três partes de no máximo 10 minutos, interrelacionadas, tendo a Direção Artística da coreógrafa, dançarina e professora Fafá Daltro e a consultoria, à distância, do coreógrafo e pesquisador Wagner Schwartz dando orientações teóricas à pesquisa. Contaremos também com colaborações espotâneas dos amigos frequentadores do blog. Alguns já começaram a colaborar com palavras e vídeos, a exemplo de Clênio Magalhães que enviou um vídeo ótimo que será publicado em breve e através dos comentários poderão dar sugestões e opinar sobre o projeto.


Durante os meses reservados a criação de cada cena, um dançarino com deficiência, estagiário, selecionado em audição, fará parte da pesquisa estimulando diálogos e provocando o intérprete a encontrar outras fontes de referências corporais que possam enriquecer seu repertório de movimentos. Num encontro de corpos semelhantes.


O projeto contará, em todas as suas etapas, com a participação de uma monitora, Diane Portella, que auxiliará o dançarino Edu O. e o estagiário nos exercícios da pesquisa, dando suporte necessário a sua elaboração.


A trilha sonora será criada pelo compositor Cássio Nobre, especialmente para o espetáculo. O cenário será criado pelo pessoal da Miniusina de Criação.


O projeto para aproveitamento da luminosidade do ambiente escolhido para as apresentações ficará a cargo de Milianie Matos e o figurino será uma criação de Nei Lima.


A produção ficou com a Ampla Comunicação Total, as fotos com Alessandra Nohvais e o design com a AF Design Comunicação.


Como parte do trabalho desenvolvido serão realizados, no ambiente de ensaio, fóruns de discussão, intitulados Papo Perturbador, com profissionais especializados – sexólogos, fisioterapeutas, psicólogos e público convidado – que terão como objetivo precípuo a elucidação das questões abordadas no trabalho, principalmente àquelas relativas ao “devoteísmo”, fenômeno ainda muito pouco estudado no cenário nacional.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Entrevista Baby do Brasil



Baby do Brasil é uma das mais importantes cantoras brasileiras, fazendo história tanto em carreira solo e junto ao grupo Novos Baianos. Para mim é uma referência de criatividade, musicalidade, irreverência. Cantora de inúmeros sucessos como Menino do Rio, Brasileirinho, Sem Pecado e Sem Juízo, Cósmica, Telúrica, entre outros....


Baby me concedeu esta breve entrevista após um show inesquecível que fez com Elza Soares e Ademilde Fonseca, em São Paulo. Muito simpática, aberta e delicada, falou sobre o que a perturba e o que é um corpo perturbador de forma bastante consciente e bela.


A poesia de Baby do Brasil abre a sequência de entrevistas que tenho feito com inúmeras pessoas de diversas áreas, profissões, lugares e corpos. Acho que esta ação do projeto O Corpo Perturbador será um sucesso e poderá contribuir para ampliar a discussão sobre a pesquisa desenvolvida nesse trabalho.


As entrevistas serão disponibilizadas nas sextas, segundas e quartas-feiras.


Estamos recebendo depoimentos de quem se interessar em contribuir com o trabalho. Basta fazer um video, em câmera digital mesmo e enviar para o email eduimpro@gmail.com

Ed Andrade, Edu O. e Baby do Brasil

quinta-feira, 8 de julho de 2010

As curvas das Gabrielas e dos Vadinhos


Revistas de moda e beleza – sentado sobre estas revistas um corpo invisível vê-se em postais da cidade. Imagina-se! Pensa na sinuosidade e pensando em curvas sabe-se sedutor. A curva dos quadris, das cinturas e seios de tantas Gabrielas que passam por ele e das bundas de outros tantos Vadinhos.

Sua sinuosidade é outra, é para outros desejos. As curvas de sua coluna em S atraem outra platéia e incita um outro olhar. Sabe-se sedutor.

O devotee deseja suas pernas, suas costas, seus pés pequenos, suas próteses. O devotee devota.

No lugar da brejeirice das ancas fartas, uns invisíveis se acomodam em jornais e deitam e sonham com a vida de revista.



É com euforia que começamos os trabalhos para a criação do meu próximo solo, intitulado O Corpo Perturbador, com estréia prevista para Novembro de 2010.
 
Este projeto traz uma abordagem diferenciada sobre o corpo que é considerado incapaz, não-belo, perturbador: o corpo com deficiência, fora dos padrões do pensamento hegemônico. Numa sociedade imensamente erotizada, acredita-se ser pertinente instigar uma outra reflexão sobre o assunto, abordando, a partir dos devotees , a sexualidade neste corpo, assim como as relações de poder intrínsecas nas relações afetivas, sociais, políticas, culturais e religiosas que envolvem as pessoas com deficiência.




Devotee é uma categoria de pessoas que têm fetiche pela deficiência. O que lhes atrai é a deformidade, é a especificidade de cada deficiência. Neste trabalho pretende-se, ainda, questionar e problematizar o desejo num mundo onde a existência de um padrão é cada vez mais valorizada, mas que ainda existem pessoas que andam na contra-mão.


Entendemos o corpo como estrutura e significados que surgem a partir das imagens construídas por/com ele. O corpo aqui reduzido e representado pela coluna e sua escoliose, pelos inúmeros ajustes que o corpo faz para se equilibrar, fazendo-se, então, um paralelo e uma analogia entre os ajustes sociais e os ajustes físicos. A partir da sinuosidade das linhas deseja-se criar imagens significativas. As linhas sinuosas revelam sensualidade e provocam desejos. Minha coluna tem uma linha muito forte que não é a ereta.


Não é uma experiência para estreitar o entendimento, mas para ampliar a percepção sobre o humano, sobre as possibilidades do corpo, dos estados do corpo enquanto ser biológico, cultural, co-autor e responsável pelas coisas do mundo, chamando a atenção de que as convicções que esses corpos não possuem os padrões apropriados para dançar sustentam o apartheid que interdita a possibilidade de que a sua dança seja encarada como a outra dança, aquela que produz conhecimentos.


*As fotos deste post são de Alessandra Nohvais, trabalhadas por Anderson Falcão da AF Design