Revistas de moda e beleza – sentado sobre estas revistas um corpo invisível vê-se em postais da cidade. Imagina-se! Pensa na sinuosidade e pensando em curvas sabe-se sedutor. A curva dos quadris, das cinturas e seios de tantas Gabrielas que passam por ele e das bundas de outros tantos Vadinhos.
Sua sinuosidade é outra, é para outros desejos. As curvas de sua coluna em S atraem outra platéia e incita um outro olhar. Sabe-se sedutor.
O devotee deseja suas pernas, suas costas, seus pés pequenos, suas próteses. O devotee devota.
No lugar da brejeirice das ancas fartas, uns invisíveis se acomodam em jornais e deitam e sonham com a vida de revista.
É com euforia que começamos os trabalhos para a criação do meu próximo solo, intitulado O Corpo Perturbador, com estréia prevista para Novembro de 2010.
Este projeto traz uma abordagem diferenciada sobre o corpo que é considerado incapaz, não-belo, perturbador: o corpo com deficiência, fora dos padrões do pensamento hegemônico. Numa sociedade imensamente erotizada, acredita-se ser pertinente instigar uma outra reflexão sobre o assunto, abordando, a partir dos devotees , a sexualidade neste corpo, assim como as relações de poder intrínsecas nas relações afetivas, sociais, políticas, culturais e religiosas que envolvem as pessoas com deficiência.
Devotee é uma categoria de pessoas que têm fetiche pela deficiência. O que lhes atrai é a deformidade, é a especificidade de cada deficiência. Neste trabalho pretende-se, ainda, questionar e problematizar o desejo num mundo onde a existência de um padrão é cada vez mais valorizada, mas que ainda existem pessoas que andam na contra-mão.
Entendemos o corpo como estrutura e significados que surgem a partir das imagens construídas por/com ele. O corpo aqui reduzido e representado pela coluna e sua escoliose, pelos inúmeros ajustes que o corpo faz para se equilibrar, fazendo-se, então, um paralelo e uma analogia entre os ajustes sociais e os ajustes físicos. A partir da sinuosidade das linhas deseja-se criar imagens significativas. As linhas sinuosas revelam sensualidade e provocam desejos. Minha coluna tem uma linha muito forte que não é a ereta.
Não é uma experiência para estreitar o entendimento, mas para ampliar a percepção sobre o humano, sobre as possibilidades do corpo, dos estados do corpo enquanto ser biológico, cultural, co-autor e responsável pelas coisas do mundo, chamando a atenção de que as convicções que esses corpos não possuem os padrões apropriados para dançar sustentam o apartheid que interdita a possibilidade de que a sua dança seja encarada como a outra dança, aquela que produz conhecimentos.
*As fotos deste post são de Alessandra Nohvais, trabalhadas por Anderson Falcão da AF Design
contribuindo
ResponderExcluirfiz este vídeo
que traduz a perturbação do meu corpo
diante da insônia
mas enquanto não durmo
danço
canto
ouço música
namoro
masturbo
leio
saio
me perco
me acho
aprendo
...
para mim isso é muito positivo!
evoé!
http://www.youtube.com/watch?v=afshZO6z1JY