segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Um sem Deus

Quando vejo um sofrimento desmedido, incontrolável, impossível de ser transformado, questiono esse Deus que é capaz de gerar tanta dor em alguns e outros não. Nenhuma religião me convence, ninguém me esclarece o que é isso. Até compreendo que pode ser mais fácil jogar responsabilidade em algo que não se conhece, não se vê, não te resonde, pode amenizar as coisas, mas... Os discursos acabam se contadizendo e eu cada vez menos acredito nisso.

Uma família que perde os três filhos de uma só vez, num acidente de carro... para quem é o castigo? quem é este Hitler que merece tamanho sofrimento? Quem é esse político corrupto que mata tanta gente e só lhe resta a punição? Quem é este assassino, estuprador, malfeitor que não merece sorrir nunca mais na vida?

O pior que não o sofrimento chegou para quem nunca fez nenhum mal dessa magnitude. E eu continuo a me perguntar: quem merece tamanha dor?

E ai virão os religiosos tentando me convencer, tem uns até que jogam culpa numa vida passada que a gente nem lembra mais e aí todo mundo paga o pato, até quem foi bonzinho, ou então os miseráveis vêm tudo junto, se junta uma quadrilha de antigamente para pagar todos de mãozinhas dadas. Até esses questionamentos serão alvo da crítica desse Deus que não pode ser questionado, duvidado... Vou até me calar para não sofrer mais um pouquinho daqui a pouco.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Aquele senhor - um conto e entrevista com Nina Wiziack

Calça social desbotada e camisa de botão manchada. Cabelo quase nenhum na testa, grudado na nuca. De suor ou creme? Todo arrumado, com elegância e bengala. Isso me emocionou, pensando na preparação para sair ao trabalho, na arrumação. Escolher entre as poucas roupas, uma que lhe desse um ar de respeito, de trabalhador, que lhe caísse bem e que fizesse as pessoas até pensarem em lhe ajudar.


Aquele senhor me lembrava meu avô. Se fosse ele a passar por entre os carros de vidros fechados, pedindo um trocado para sua fome? Naquela idade, aquele senhor não tem o que comer, não tem aposentadoria, não tem um boné para proteger sua cabeça do sol. Eu dentro do táxi com ar-condicionado, chorava e me envergonhava. De que? Sou culpado por etsar ali dentro? Sou o responsável por aquele senhor está ali fora? Queria colocá-lo dentro e levá-lo para casa. Que casa? Para que, meu filho? Para que, meu Deus?


Essa imagem não me saiu da cabeça. Aquele senhor recostado na parede da lanchonete, descansando à espera do sinal vermelho de um sinal verde que nunca o virá passar.


Cheguei em casa e no corredor do prédio o cheiro de comida gostosa me deu náusea.

Publiquei este conto junto com a entrevista de Nina porque compartilhamos da mesma inquietação, da mesma perturbação. Hoje me deu vontade de falar sobre isso.

Buscando ser futuro

Tentei seguir um caminho que levasse à escrita quando virei de costas para a tela e encontrei a leitura. Caminho de direções opostas.
Escrita é passado buscando ser futuro. Leitura é futuro em prateleiras esperando ser presente.
Tenho uma coleção de futuro sobre a cabeça e todo aquele desconhecido me amedronta.
Há que se ter cuidado com futuros.
Tudo que escrevo é só passado.


E Ferreira Gullar me humilha nesta tela luminosa.

domingo, 9 de outubro de 2011

Um Rebú perturbador - entrevista com Carolina Pismel

Ontem, vivemos em Salvador uma noite muito especial com a Cia. Teatro Independente do Rio de Janeiro que levou ao palco do SESC Palourinho a peça Rebu. Maravilhoso trabalho de atores, texto impecável e direção preciosa, figurino, trilha, cenário e luz também belíssimos.

Eu tenho o prazer e honra de conhecer o pessoal da peça e manter uma relação demuito carinho, mesmo que à distância. Jô Bilac (autor) e Diego Becker (ator) já estiveram aqui no blog na seção de entrevistas. Hoje publico o video com Carolina Pismel, que estava fantástica no papel de Vladine. Esta é uma forma de homenagear esses grandes artistas.

Ontem senti a emoção que eu sentia quando comecei a me encantar com o teatro, quando eu comecei a descobrir sua magia. Depois esta emoção foi ficando rara, escassa, por falta de identificação com o que tenho visto por aqui. Mas ontem os meninos conseguiram me tirar da realidade e viver a intensidade que o teatro deve ter.



Rebú - Cia. Teatro Independente
Direção: Vinicius Arneiro
Texto: Jô Bilac
Elenco: Carolina Pismel, Diego Becker, Júlia Marini e Paulo Verlings

Judite na Semana da Criança

Meu espetáculo solo, Judite quer chorar, mas não consegue!, volta em cartaz esta semana, de 11 a 16 de Outubro (terça a domingo), na Caixa Cultural.

De 11/10 a 14/10 as apresentações ocorrerão às 15h, no sábado e domingo (15 e 16/10) apresentaremos às 17h. A entrada é 1kg de alimento não perecível.

Dias 11, 12 e 13 de Outubro, acontecerão oficinas onde trabalharemos corporalmente e também com elementos plásticos o final da história da lagartinha Judite. Com o auxílio do livro-infantil, cada criança criará um final para Judite... As oficinas serão realizadas para um grupo de 30 crianças, as senhas serão distribuidas no local.

O que aconteceu depois que ela subiu aquela escada? Sentiremos no corpo, escreveremos e faremos uma imagem do que cada um acredita que se passou com a lagarta mais famosa que conhecemos.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Vida de modelo

Hoje passei a manhã inteira fazendo fotos na Escola de Belas Artes a pedido de uma turma de lá para trabalho de uma disciplina. Eles escolheram fazer imagens de meu corpo com as pernas de Baco que utilizo no espetáculo O Corpo Perturbador. Foi maravilhoso fazer uma performance pensando em como isso seria traduzido pelos olhares dos fotógrafos. Uma delícia! Depois irei publicar o texto da galera e algumas imagens para compartilhar com os visitantes-amigos daqui do blog. Adoro quando um projeto meu vai tomando outras dimensões e tendo desdobramentos que fogem ao meu controle. É sempre bom nos vermos pelos olhos dos outros. Foi maravilhoso também retornar à minha escola, onde me formei em 2001 e ver que deixamos marcas aonde passamos. Encontrei amigos antigos e foi tanto carinho. Dia muito especial.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Simplesmente ser já é muita coisa

Tomei conhecimento, tardiamente, deste episódio que se passou com uma criança com deficiência no Shopping Barra, sobrinha de Padre Alfredo, amigo querido. Me causou uma tristeza profunda saber que uma menina de 9 anos já sente o que eu só vim começar a sentir depois de grande, ao morar em Salvador. Sempre falo que nunca tive contato com o discurso da Inclusão, Acessibilidade, em Santo Amaro eu participava de tudo e nunca, ninguém me falou que eu estava sendo incluído, porque eu simplesmente era e ser já é muita coisa, já abre muitas portas na vida. Freqüentei todos os lugares, todas as festas, bares, casas, escola tradicional, parques, brinquedos....

Quando cresci e me deparei com este mundo (e me parece estar piorando a cada dia) com segmentações, com discriminação forjada por motivos de segurança, com preguiça de conhecer o outro, sacanagem por achar que o outro atrapalha, vim adoecendo e me entristecendo, com receio de sair e ser rejeitado pelo taxista, motorista do ônibus, os bares sem banheiros que eu possa usar, ruas quebradas, serviços péssimos... tudo isso é violento, é agressivo demais. Receio que Iana sinta o que sinto, mas ela é danada, já pensa em ser advogada, já se mobilizou, mobilizou outras pessoas, se articulou toda e agora é tema de um texto maravilhoso, escrito por Sillas Freitas de Jesus, que concorre a um prêmio no 7º Causos do ECA (Estatudo da Criança e Adolescente).

Aqui o início do texto para vocês entenderem o que se passou e depois acessem pelo link para concluir a leitura e votar.

Neste parquinho todo mundo pode brincar!
Sillas Freitas de Jesus
Iana nasceu com uma deficiência física diagnosticada como artrogripose congênita nos membros inferiores, que a impedia de caminhar. Hoje, ela tem nove anos e, após uma cirurgia, caminha com o uso de próteses em ambas as pernas. É para-atleta e pratica natação no Instituto Baiano de Reabilitação.
Num domingo ensolarado, em janeiro de 2011, convidou seu tio e uma colega para um passeio no Shopping Barra, em um bairro nobre de Salvador (BA). No 1º piso do shopping, Iana e sua amiga viram e desejaram brincar no escorregador inflável, onde algumas crianças subiam e desciam felizes. Iana foi impedida de se divertir no atraente brinquedo sob a alegação de que só se pode entrar ali sem calçados. Ora, as próteses de Iana são suas pernas e não ofereciam qualquer risco ao equipamento ou aos demais usuários. Mas o jovem que cobrava os ingressos foi inflexível: “Só pode entrar sem sapatos! Ordens são ordens”.

Para minimizar a frustração da criança, foram à brinquedoteca “Pirlimpimpim”, no mesmo shopping. Lá, também houve negativa, desta vez da própria gerente, que afirmou que os equipamentos não são acessíveis a pessoas com deficiência. A discriminação ali era ainda maior, porque a brinquedoteca tem diversos jogos e brinquedos, alguns deles para usar sentado, como é o caso dos jogos de computador. Indignada, Iana perguntou: “Oxente, meu tio, não tem nenhum lugar nesta cidade onde uma criança com deficiência possa brincar?”.

http://www.pro-menino.org.br/votacao/neste-parquinho-todo-mundo-pode-brincar.php

Vale a pena conhecer as outras histórias que estão no site.