sexta-feira, 10 de junho de 2011

Esta vida é uma viagem

Difícil falar alguma coisa quando o silêncio parece te calar. Lembro do snoop desenhado na camisa, com uma frase do Leminski: "Esta vida é uma viagem...
                         Pena eu estar só de passagem"
(5º confissão para Odete - Lucas Valentim)


O melhor é saber que deixamos o túnel para entrar em outro. Como as montanhas da Ilha da Madeira, entrávamos no centro da terra e deixávamos qualquer coisa lá, voltamos para entrar novamente num zig zag redondo que o mundo parece dançar.
E tudo volta como se fosse hoje o amor
(3º confissão para Odete - Edu O.)


Incrível como o gosto se modifica a depender da situação. Digo isso porque o chá de camomila já não tem o mesmo gosto depois de Tê-lo tomado no chão com um amigo.
(7º confissão para Odete - Lucas Valentim)

Fotos de Gabriel Guerra

Odete, traga meus mortos
12/06, as 20h, no Theatro XVIII, R$ 5,00

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O não-estar de Diane ou a Falta que ela faz.

Toda hora eu mudava o texto que escrevi para ela. Tirava detalhes desimportantes, colocava outro mais sem importância ainda, enfiava graça, tentava amenizar tristeza.... tudo porque ela está longe e tão perto, mas tão perto que chega a ficar aqui dentro. Sinto saudade do seu peso sobre meu corpo no abraço demorado de amor e do beijo, e do riso, e da atenção, e dos medos, e da insegurança, e do companheirismo eterno. Foi assim desde que nos conhecemos dançando. Depois virou parceira de vida, de grupo, de projetos...

Agora que Odete voltará, fico imaginando como ficará sem suas lágrimas. A maluca chorou todos os dias de apresentação no Vila Velha, e no Encontro e em todas as vezes que falávamos os olhos brilhavam. Sei que agora estarão brilhando lá longe, lá embaixo do continente. Escrevo esta carta como um sussurro, uma confissão ao pé do ouvido, gemido, melado.

O Corpo Perturbador também sentiu sua falta no não colocar as botas, não montar cenário de BIS, no não estar....

Desde que se foi não há muita coisa a dizer porque em tudo ela está. Participou ativamente da montagem de Pequetitas Coisas, viajou comigo a Londres, só não foi ao Piauí porque era coisa rápida. Fiquei de falar sobre a vida, fazer um diário, mas o que dizer dos detalhes constantes do cotidiano? Das pequenas dores, das sutis angústias, das gargalhadas e leves sorrisos? Esse tipo de coisa que não dá para escrever, repetir em palavras digitadas.

Quero que ela seja feliz aonde escolher ficar, mas peço que não demore muito para gastar um tempinho comigo e a gente dançar Arrocha comentando as belezuras do dia-a-dia.

foto de Drica Rocha

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Odete, traga meus mortos


Odete, traga meus mortos
dia 12/06, as 20h, Theatro XVIII (Pelourinho), R$ 5,00

Ritos de passagem
Partir,
Ausência e presença
O lugar do outro em nossas vidas
Nossos mortos (pessoas e situações passadas) marcando nossos corpos, nosso estado... Tudo reverberando em nós até mesmo quando a memória não é ativada.


O caso que levou ao espetáculo:

Num almoço em casa de uma família tradicional, na hora do café, depois de todo ritual da refeição francesa, a matriarca pede a empregada: “Odete traga meus mortos!”. Incrédulo, com expressão assustada, fui informado que este pedido tornou-se habitual daquela senhora que lê diariamente o jornal enquanto toma seu cafezinho. Sua preocupação é saber se algum conhecido faleceu e observar a forma como foi escrito o obituário, sempre discordando e dizendo que não quer o seu daquele jeito. Então começa a descrever como gostaria que divulgassem sua morte, a foto que deve ser colocada, a roupa e como as pessoas devem agir no seu funeral.

Um fato aparentemente triste torna-se o momento mais engraçado do dia da família que passa a lembrar de histórias da vida e de pessoas que passaram por ali. A morte perde a carga de sofrimento, cedendo espaço para lembranças de vidas cheias de experiências, como são todas as vidas. Para aquela senhora, o falecimento do outro possibilita a reflexão sobre sua própria existência.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Depois do mergulho

Da água que se derramou pela casa ao romper a bolsa até o estado de imersão em que me encontro, não consigo encontrar palavras para traduzir o que se passa. Vê-lo nascer, chegar, chorar, comer....
Vê-lo aqui! Meus olhos derramam água e lembro de quando na psicina do clube eu saía do mergulho ofegante, água pingando dos cabelos, olhos... da conquista de atravessar mergulhando de um lado a outro dentro d'água... penso na água que me gerou.

Não precisei
Nadar no últero
De minha mãe
Para chegar
A algum lugar
As águas foram me levando
E eu nasci

sábado, 4 de junho de 2011

Confissão para Odete #11 - a turma mais bonita da cidade

São Paulo me sorri mesmo quando está de cara fechada.

Saí de Santo Amaro há muito tempo. Costumo brincar que minha cidade é uma Metrópole e tudo pode acontecer ali. Aquele chão, realmente, é especial e tem um humor peculiar nas falas de todo mundo que é de lá, figuras incríveis, História e histórias... Por falta de oportunidade de crescimento, os filhos da terra precisam se afastar e mesmo sendo louco por minha Santinho, percebi que quando saimos de um lugar algo em nós deixa de pertencer a aquilo ali e também não pertecemos mais a nenhum outro. Nunca me senti parte de Salvador, por exemplo. Sou um hóspede, um visitante eterno. Não me adapto a muitas coisas dessa capital, não vejo graça em tantas outras, nossa relação sempre foi muito confusa.

Agora em São Paulo aconteceu uma paixão a primeira vista. Foi uma paixão que me trouxe a esta terra e depois o sentimento cresceu tanto que fiquei apaixonado pelo lugar. Eu gosto tanto de São Paulo que aqui eu não tenho necessidade de sair desembestado como turista, não sinto vontade de ficar pelas ruas da cidade aproveitando o tempo da viagem. Como quando eu estou em casa, eu gosto é de aproveitar o tempo dos encontros. Me faz bem somente estar aqui, encontrar os amigos e ganhar as horas falando besteira, rindo, papeando seriedades, recebendo mais gente que chega pro Cafofo... os dias passam como lugar que acolhe, protege e está feliz em você estar ali, nele, com ele.

Nas duas casas que tenho em Sampa (de Cléa e Ed) é como se eu estivesse lá na casinha da Nova Santo Amaro, tocando violão, comendo pipoca com a turma mais bonita da cidade.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Uma história de circo

“Vá dormir que o sono ocupa o estômago!”

De tanto ouvir sua mãe falar, o menino que não tinha o que comer nem com quem brincar, decidiu viver na cama, em cima do colchão carcomido, lençol puído de tempo gasto. Por sorte não tinha problema gastro, apesar da barriga vazia. Sua mãe ocupada nos afazeres diários, sem muita paciência para esta vida que se colocou a sua frente, não prestava atenção naquele menino deitado, quieto, desamparado.
Seu filho não viu as meninas de Zefa crescerem, nem podia saber se gostava de menina ou menino. Não sabia o que eram essas coisas, nem se havia outras coisas senão o sono sem sonho que alimentava seus dias. Vez em quando, de ano em ano, quando o menino fazia aniversário, sua mãe se empenhava em comprar alguma coisa e lhe preparava um café especial com manteiga no pão, leite e o biscoito que toda hora passa na televisão. De novela ela se ocupava. Da vida dos outros também. O menino então se vestia com qualquer roupa diferente das que dormia e sentava na porta da rua sem amigos, sem pipa, sem carrinho. Nem um bolinho para cantar parabéns. Nem um beijo desejando saúde, felicidades, essas coisas. O menino voltava para o quarto ao entardecer e se estendia sem pensar em nada, apenas em dormir para viver.
Foi numa época de calor infernal que uma barulheira na rua fez mudar seu destino. O menino chegou à janela sem vontade e viu a trupe que animava aquela tarde. Palhaço, locutor, caminhão, trapezista, chipanzé, adestrador, bailarinas e até um anão. As pernas deitadas do menino, sem força, saíram atrás do circo como se dançassem sem ritmo, acompanhando o leão. Viu, surpreso, o levantar das lonas, a arrumação do picadeiro, as jaulas, o cansaço, a tristeza dos animais. Havia uma identificação com algo que não conseguia explicar. Encontrou um colchão ao lado dos cavalos esmirrados e voltou a fazer o de sempre. A turma do circo, sem se dar conta da novidade, seguia sua rotinha de ensaios e do que chamavam de cuidados. Como naquela jaula nunca havia nada, nem ninguém, não davam comida ao menino e talvez por isso, o público começou a visitar aquela atração escondida nos fundos da lona, quieta, deitada, magra. Virou a sensação daquela temporada. Sua mãe, vendo o acontecido, aplaudia e dizia em voz alta: “Eu sempre soube que daria para alguma coisa!”

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A peruca de Renata Sorrah

Ela saiu numa sexta a tarde para fazer algumas compras: esmalte e batom bem vermelhos, uma camisola verde-água e uma peruca loira. Andou ruas e ruas e ruas de uma cidade vazia, oca de tudo, sem encontrar a tal peruca.

Entrou num salão que exibia na vitrine um manequim loiríssimo de cabelo chanel e franja a la Renata Sorrah ou seria Regina Duarte? Enfim... experimentou a peruca, pechinchou o preço e guardou numa rede a jóia dourada.

- Ficou muito bem na senhora! Elogiou a vendedora.
- Não, minha filha, não é para mim. É para meu filho, ele é a Marilyn Monroe.
Foto dos preparativos da gravação de videodança