terça-feira, 18 de outubro de 2011

Absurdo em concurso da UNEB

Mais uma vez, quanto mais eu rezo mais assombração me aparece. Dessa vez é a UNEB que abre vaga para concurso para professor, a pessoa se inscreve informando a necessidade de providências para que a prova pudesse ser realizada de acordo com as condições que sua deficiência visual exigem e a Universidade diz nem saber que havia deficiente inscrito. Isso há três dias antes do dia do concurso. Vejam o absurdo no texto escrito por Iracema e que devemos difundir com a intenção de chamar a responsabilidade a quem deve ter e nos questionarmos o que é isso de acessibilidade mesmo que tanto se fala e pouco se faz.
Segue o texto:
Sou Iracema Vilaronga, Mestre em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), especializada em Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva pela UNEB, graduada em Pedagogia também pela UNEB, faço parte da Comissão de Elaboração das Políticas de Inclusão e Acessibilidade da UNEB. Idealizei o Núcleo de Educação Especial (NEDE) da UNEB em 1999 e atualmente, sou membro do referido Núcleo. Sou professora concursada da Rede Municipal de Educação da Prefeitura Municipal de Salvador a 11 anos e Consultora na área de Educação Inclusiva e Acessibilidade. A seguir, relato os caminhos percorridos da minha fatídica participação no concurso docente da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
 Venho expressar a minha tristeza e indignação pelo desconhecimento ou falta de comunicação dentro da própria UNEB. Na última quarta-feira, dia 28 de setembro, por desencargo de consciência resolvi ligar para a PGDP -- comissão do concurso docente -- para saber sobre os providenciamentos das condições de acessibilidade para realização da prova, no dia 02 de outubro. Qual não foi a minha surpresa, quando a senhora Ângela Goes ainda não sabia nem que havia um candidato com deficiência visual inscrito. Foi a partir dessa ligação que deram início aos primeiros prov id enciamentos: ligar para setores e instituições fora da UNEB, para saber como proceder diante da situação de ter um candidato com deficiência visual inscrito no concurso. O mais indignante é que no ato da inscrição, comuniquei da minha deficiência visual e solicitei de forma descritiva exatamente o que precisaria para realização da prova. Senti uma tristeza ainda maior, quando fiquei sabendo que foi uma instituição fora da UNEB que indicou o contato com o NEDE, instituído desde 2003, resultado de minhas lutas em em pró da inclusão e acessibilidade da pessoa com deficiência na UNEB. Eu, candidata, fui a última a ser contactada para saber de minhas necessidades.
É lamentável, que depois de tantas conversas de Patrícia Magris, coordenadora do NEDE, com o senhor Daniel e o senhor Marcelo, algumas delas, inclusive com a minha presença, ainda haja tanto desconhecimento, indiferença e desrespeito diante de uma temática tão discutida e tão presente no ambiente acadêmico. O Professor Valentim, Reitor da UNEB, desde a época que era pró-reitor de extensão foi tão sensível e aberto às causas de inclusão e acessibilidade dentro da UNEB. Venho trazendo essa discussão desde que passei no vestibular em 1999, ano em que idealizei o NEDE, e ainda hoje tenho que passar por situações como esta. Não quero aqui prejudicar ninguém, mas gostaria que episódios como este não fossem repetidos dentro da UNEB.
Segue abaixo, um pedido de registro e oficialização das providências tomadas pela senhora Ângela Goes, no intuito de me proteger de possíveis  problemas, uma vez que foram abertos alguns precedentes não constantes do edital 037. Espero poder contar com o  usual apoio e esclarecimentos.
Conforme o edital 037 do concurso docente para professor assistente, os candidatos com deficiência devem indicar no formulário de inscrição as condições necessárias de acessibilidade para realização da prova escrita, o que foi por mim realizado. A fim de me certificar se tais condições seriam providenciadas, entrei em contato com a comissão do referido concurso. Na ocasião, fui informada pela senhora Ângela Goes que devo utilizar meu próprio equipamento para realização da prova escrita, que devo comparecer ao local da prova, munida de meu netbook, com programa de síntese de voz e leitor de tela, devidamente instalados, e fui informada que serei acompanhada por uma pessoa designada pela referida comissão, que permanecerá em sala duran t e todo o período da prova e que ao término da prova, o arquivo deverá ser salvo, impresso, devidamente assinado por mim e entregue à banca.
No sentido de que as condições acima citadas sejam registradas,   venho requerer, junto a PGDP, documento autorizando a utilização de meu equipamento pessoal (netbook com programa de síntese de voz e leitor de tela – Jaws -- devidamente instalados), uma vez que a instituição não garantiu as condições de acessibilidade necessárias (equipamento descrito acima), para  a realização da prova escrita no próximo dia 02 de outubro de 2011.
Sem mais para o momento, agradeço antecipadamente a atenção dispensada e solicito que tal documento me seja entregue com brevidade, antes da realização da prova.
Venho mais uma vez expressar o sentimento de tristeza e decepção com a UNEB, instituição que luto por condições de acessibilidade desde 1999, ano em que idealizei o NEDE; instituição em que acredito, ou melhor, acreditava na utopia da democratização do acesso para todos; instituição que foi pioneira em “levantar a bandeira” da inclusão e acessibilidade; instituição que defendo, digo defendia como inclusiva; sim, a mesma instituição contribuiu para que eu, pessoa com deficiência visual, fosse reprovada no concurso docente, quando agiu com descaso e indiferença no providenciamento das condições necessárias de acessibilidade para realização da prova.
A situação de estresse a que fui submetida ao tomar conhecimento, a apenas três dias da realização da prova, que nenhuma providência havia sido tomada, e que a comissão “não sabia” da existência de um candidato com deficiência visual, embora informado no formulário de inscrição, me desestruturou e me deixou emocionalmente abalada. Saber disso me fez sentir em desvantagem em relação aos demais candidatos. Os três dias que antecederam a data da prova, que havia reservado pa ra retomar os pontos a serem estudados, foram preenchidos com preocupações e responsabilidades administrativas que deveriam ser exclusivas da comissão. Cabe destacar, que solicitei formalmente da referida comissão, documento registro dos precedentes a mim abertos, a fim de evitar problemas futuros.  Precedentes estes, que me foram informados verbalmente por telefone pela senhora Ângela Goes. Tal documento me foi negado, não se sabe exatamente por que motivo.
O simples fato de passar por um processo seletivo em si, já deixa uma pessoa tensa, nervosa. Imagine saber que foram abertos precedentes como forma de compensação, para reparar uma falha grave da comissão. Imagine ir fazer uma prova sabendo da situação delicada e desconfortável perante a banca e os demais candidatos. Imagine passar pela cabeça que a sua capacidade e competência podem ser colocadas em xeque no momento da prova...
Será que as circunstâncias indignas em que fiz a prova não influenciaram em meu desempenho? Será que realizar a prova numa situação delicada e desconfortável perante a banca, que, aliás, acho nem sabia do ocorrido, e dos demais candidatos à vaga, não causariam dúvidas relativas aos precedentes a mim concedido? Será que as circunstâncias não influenciaram a decisão da banca no resultado? Eis a pergunta que não quer calar: e se eu não tivesse entrado em contato três dias an tes da realização da prova? Talvez tivesse sido melhor. Chegaria no dia e horário marcado da prova e a comissão seria pega de surpresa. Assim, estaria comprovado o desrespeito, o descaso e a indiferença com que fui tratada e seria motivo suficiente para anulação da prova. Aí estaria coberta pela lei. Vale lembrar que fui a única candidata com deficiência visual e indiquei no formulário de inscrição, conforme exigido no edital, sobre a deficiência visual e descrevi exatamente o que deveria ser providenciado como condição sine qua non, para que fizesse a prova em igualdade de direitos.
Fico ainda mais indignada e decepcionada, ao relatar o fato a algumas pessoas da comissão do concurso e do grupo gestor, que agem com naturalidade diante do ocorrido e afirmam não haver razões para tais questionamentos. Cabe esclarecer que não estou pedindo favor ou exigindo privilégios da comissão. Condições de acessibilidade é um direito legalmente constituído. Sei que ser aprovado ou reprovado é normal em qualquer concurso. Concurso posso e irei fazer outros. Não estou pedin do que o resultado seja revertido, apenas peço que providências sejam tomadas, a fim de que a situação não venha a se repetir, pois não é a primeira vez que ocorre na UNEB, conforme relatos em anexo.
Dessa forma, ressalvo ainda, em nome da “legitimidade” da referida instituição no trato com a pessoa com deficiência, e no fio da credibilidade da sociedade para com a mesma, a irrenunciável revisão dos procedimentos adotados neste concurso, na perspectiva da inclusão e acessibilidade.
Encerro aqui com mais alguns questionamentos: para quem está sendo de fato implementado o NEDE e as políticas de inclusão e acessibilidade, se em questões entre aspas tão pequenas, não são tomadas as medidas cabíveis? Como eu, idealizadora do NEDE, poderei defender e propagar a UNEB como instituição pioneira nos ideais e políticas de inclusão e acessibilidade, se eu própria fui vítima do descaso e falta de estrutura? Até quando as “conquistas” relativas à pessoa com defic iê ncia na UNEB serão antecedidas de sofrimentos e prejuízos? Segue em anexo, formulário de inscrição preenchido, com as ressalvas e descrição das condições a serem providenciadas, o boleto devidamente quitado e o comprovante de inscrição, bem como relatos de outros episódios da mesma natureza ocorridos também na UNEB.
Mais uma vez agradeço a atenção usualmente prestada, e espero sinceramente que atitudes e medidas drásticas sejam tomadas o mais breve possível.
Iracema Vilaronga

Um comentário:

  1. E ISSO TUDO ACONTECEU COM ELA QUE É... " Mestre em Educação e Contemporaneidade pela UNEB, especializada em Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva pela UNEB, graduada em Pedagogia também pela UNEB, membro da Comissão de Elaboração das Políticas de Inclusão e Acessibilidade da UNEB, idealizadora e membro do Núcleo de Educação Especial (NEDE) da UNEB."
    IMAGINE SE NÃO FOSSE!!!

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