Foi a coisa mais simples que vi pelas bandas de lá e talvez por isso, talvez não, com certeza foi o que mais me tocou o afeto. Compartilhei este momento, hoje, com a turma do mestrado. O nome do arquivo estava China e alguns pensaram que eu levaria algo completamente diferente, super-ultra-mega sei lá o que e comecei minha fala dizendo: é apenas um varal, o meu varal de Santo Amaro que encontrei lá. Constantemente vemos na China varais espalhados no alto das casas, na porta da rua. é uma cena linda. Numa cidade enorme, com edifícios tão contemporâneos, tem os sobrados e seus varais. Ali me indicava vida, vendo aquilo dava pra sentir no cheiro de comida de vó, chá, pão quente e manteiga. Nem sei se eles comem isso.
Acho que com todo mundo é assim, comigo é muito forte, não consigo me desgarrar de tudo que me formou, me fez. O varal de meu avô foi meu trabalho de conclusão de curso da Escola de Belas Artes. Eu não tinha moldura para colocar umas colagens que eu fiz e não queria colocá-las naqueles quadrados tradicionais, feios... meu velho morreu nas vésperas da exposição de formatura. No dia do seu sepultamento, quando me despedi de sua casa, lugar que vivi grande parte de minha vida e que a partir de então eu não mais entraria, me deparei com um varal feito de arame duro, torcido, velho e imediatamente peguei para pendurar meus trabalhos que se transformou numa instalação com foto, desenhos, all-star pendurado, luva de figurino, chapéu, papel de bombom, tudo que fazia parte daquele momento que eu vivia e que a faculdade tinha, de certa forma, transformado meu olhar em arte. Pegadas na parede....
Na aula, agora de mestrado, apresentei o video feito em Pequim como imagem correspondente ao momento da minha pesquisa e li um texto, que transcrevo aqui um trecho:
A figura não isolada do entorno.
Repetição de hábitos e a dança flutuante a mercê dos ventos. O fundo enraizado
sustenta as folhas, diversidade com possibilidade de queda que também pode ser
mudança, renovação. Necessárias mudanças para o fluxo do processo. Há corpos
nas roupas penduradas que bailam nas ruas. Corpos invisíveis que se fazem ver
porque há vida-história em tudo ali. Carreguei para o outro lado do mundo todas
as minhas vivências e trouxe de lá bagagem pesada das experiências novas.
Organização de idéias... ou seria desorganização das idéias¿ Fagulhas de
porvires desconhecidos, mas pressentidos. Novamente necessárias mudanças,
angústias, desespero. E aquela tranqüilidade registrada em vídeo não se fará
presente¿ Rua pacata, árvores que são apenas o que são e isso não é pouco. Ser
o que é, não representação do que se pretende ser. Vestígios de afazeres
cotidianos, utilidades.
Agora estou silenciando para não
vazar desnecessidades. E no final há uma placa de cuidado ao atravessar.
*Flutuação na Teoria Geral de Sistemas significa CRISE
hhahahahhahahaha... tô gargalhando! Beijos, Caco
ResponderExcluirO quê seria o mundo sem o olhar do artista?
ResponderExcluirbjs