terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Avani, índia Fulni-ô - Entrevista
Entrevistei Avani também no Encontro da Diversidade Cultural, promovido pelo MINC em Setembro deste ano. Lá tivemos contato com pessoas de várias culturas, diversas experiências e estilos de vida. Quando vi o grupo dos indígenas, fiquei louco para entrevistá-los. Sempre tive uma relação forte com a cultura indígena e sua forma de viver, mais tarde, um pouco mais consciente, me perturbei com a dizimação que sofreram, com o desrespeito ao seu território, a suas vidas.
Como n'O Corpo Perturbador estamos falando muito sobre Corpo/Território, deixei para a semana de estréia a entrevista com Avani, que fala também sofre o preconceito sofrido pelos não-aldeados, dentro da própria comunidade e de como o branco ainda os perturbam.
Encontrei uma reportagem que fala justamente sobre este assunto e onde Avani é um dos personagens da matéria:
ÍNDIOS: cidades ainda não reconhecem direitos indígenas e falta acesso a serviços e ao trabalho
Rodrigo Salles
Mesmo com órgãos governamentais e leis que os protegem, os indígenas têm enormes dificuldades para viver no meio urbano. A entrada no mercado de trabalho e o acesso a serviços públicos essenciais oferecem diversos obstáculos a essas pessoas. "Indígenas são tratados como seres inexistentes nas cidades paulistas", revela Marcos Aguiar, coordenador há 12 anos do projeto "Índios da Cidade", da ONG Opção Brasil.
De acordo com a entidade, existem cerca de 90 mil indígenas, das mais variadas etnias, vivendo em áreas urbanas no Estado de São Paulo, 4 mil somente na macrorregião de Campinas. A maior concentração está na região metropolitana da Capital, com cerca de 60 mil.
Outro dado relevante e pouco conhecido são as 37 aldeias indígenas localizadas dentro de São Paulo. É o maior contingente de indígenas do país, perdendo apenas para o Amazonas.
"O preconceito contra o índio é maior do que com os negros. Muitos têm que esconder sua origem para conseguir emprego, porque os índios tem prerrogativas diferentes dos demais trabalhadores, e os patrões fazem cara feia", conta João Dias Gama, pertencente à etnia Caimbé, representada por 120 famílias nas cidades paulistas.
Avani Florentino, do povo Fulni-ô, critica a mentalidade vigente que dita que lugar de índio é na aldeia. "Somos tratados como incapazes de dirigir nossos próprios destinos, ter autonomia. Nas aldeias ainda são proibidas bebidas alcoólicas. Queremos preservar nossa cultura, mas também precisamos de cidadania plena", declara.
A pedagoga e pesquisadora Chirley Maria de Souza Almeida Santos, da etnia Pankará, afirma que o ensino oficial, além de não reconhecer a diversidade cultural indígena, não tem nem mesmo dados de quantas crianças dessas etnias estudam na rede pública. "Não existe sequer um levantamento da demanda educacional desses estudantes. Não se ensina a diferença entre as centenas de povos indígenas que vivem no país."
Aguiar explica que a falta de políticas públicas para os indígenas que vivem em centros urbanos vem desde erros de conceituação. "Usam-se ainda termos como desaldeiados ou urbanos para os índios que moram em cidade. Isso infere que eles não estão no seu lugar, que não podem pertencer à sociedade dos homens brancos", conclui.
Fonte: http://jornalcidade.uol.com.br/rioclaro/intervalo/intervalo/64124-iNDIOS:-cidades-ainda-nao-reconhecem-direitos-indigenas-e-falta-acesso-a-servicos-e-ao-trabalho
Aqui, resolvi copiar um pouco da história dos Índios Fulni-ô
Os índios da tribo Fulni-ô vivem no município de Águas Belas, em Pernambuco numa aldeia de 11.500 hectares, localizada a 500 metros da sede da cidade. Sua população é de aproximadamente 3.600 índios.
Eram conhecidos, antigamente, como Carijó ou Carnijó e não se conhece o tempo da sua existência.
A origem do nome Fulni-ô é muito antiga. Significa "povo da beira do rio" e está relacionada com o rio Fulni-ô que corre ao longo da aldeia de Águas Belas.
Os índios têm convívio diário com os não-índios, são todos bilíngües, se vestem como os brancos, mas não perderam sua identidade. São os únicos indígenas do Nordeste brasileiro que mantêm viva a sua língua nativa a Yaathe (ou Yathê).
Além da aldeia a comunidade possui na reserva um outro local de moradia, onde habitam durante três meses por ano por ocasião dos rituais do Ouricuri.
O Ouricuri é um retiro religioso secreto, realizado anualmente nos meses de setembro, outubro e novembro. O que ocorre no Ouricuri é um mistério. Nem mesmo as crianças revelam o que se passa no evento. Sabe-se que durante esse período os homens dormem em local reservado, o Juazeiro Sagrado, ao qual as mulheres não podem ter acesso. As rivalidades são esquecidas. As relações sexuais e a ingestão de bebidas alcóolicas são rigorosamente proibidas.
Até os anos trinta, as casas dos Fulni-ô eram construídas, exclusivamente, com a palha do ouricuri (planta da família das palmeiras). Hoje, a aldeia é composta por habitações individuais de taipa ou alvenaria, semelhantes às das populações pobres do Nordeste brasileiro.
Os índios vivem do artesanato da palha do ouricuri, comercializado nas feiras livres da região, da agricultura de subsistência e de alguma criação de bovinos e suínos. Ainda praticam a caça e a pesca, mas essas atividades estão quase em extinção, devido aos desmatamentos e à poluição dos rios da região.
Suas manifestações culturais incluem a dança e a música. As danças dos Fulni-ô são inspiradas em vários animais e aves, sendo o toré a mais tradicional. Existem também a cafurna, uma dança cultural resultante da influência de outros grupos e uma conhecida como coco de roda, dançada com estilo próprio e que tem origem na cultura dos negros. As músicas das danças são cantadas em português e yaathe.
Usam como instrumentos musicais, o maracá, o toré e a flauta. Tocam também instrumentos dos brancos como clarinete, pistom, trombone, violão, guitarra. Possuem até conjuntos e bandas formadas.
Os Fulni-ô utilizam para curar doenças muitas plantas que sobreviveram ao desmatamento. Possuem um Centro Fitoterápico de Reprodução de Mudas e Essências Medicinais, mantido com o apoio da Fundação Nacional da Saúde e da Unesco, onde são cultivadas várias plantas que servem como remédios populares distribuídos na aldeia.
Fonte: GASPAR, Lúcia. Índios Fulni-ô. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: http://www.fundaj.gov.br/ . Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.
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Prova viva de que o exterminío de um povo vai além das matanças, dando lugar ao exterminio moral, social, psiquico, econômico, histórico e por aí vai...
ResponderExcluirPura verdade!!!
ResponderExcluirNós povos indígenas (híbridos, tríbridos, multíbridos) somos e seremos sempre corpos perturbadores em relação aos povos usurpadores e invasores...esses continuarão a arrumar diversas formas de nos eliminar dos espaços e deslegitimar as nossas presenças mesmo que transfiguradas como são os casos de muitxs indígenas desvivendo em contextos periféricos (ou centrais) urbanos ou longe de suas respectivas terras ancestrais.
ResponderExcluirMarleide Quixelô
Marleide Quixelô