Publicarei aqui a impressão de Lorena Aragão, uma amiga, psicóloga que fez uma análise interessantíssima sobre a obra e me trouxe pontos novos para olhar. Durante todo o processo de trabalho eu não criei uma história, não fiz uma roteizização como em Judite e também como em Odete, trabalhamos exercícioscorporais e juntamos as peças que acabaram formando um quebra-cabeça e contextualizando-se por si só. Daí a importância (para mim) de ouvir as inúmeras leituras, porque é um espetáculo com "várias camadas" como disse Liria e inúmeras viagens. Escutei com muita atenção tudo que foi falado e me admirei como o trabalho cresceu com os olhares que chegaram ali naquela sexta-feira. Na quinta David Iannitelli já tinha dado mais uma grande contribuição.
Como não tenho registros escritos das falas de quem nos visitou, resolvi publicar o texto qde Lorena Aragão que me enviou um email com suas impressões sobre o que assistiu e encaminhou com cópia para Cléa que foi a amiga, junto com Fafá, que me ajudou a escrever o projeto. Ela por sua vez, lá de longe, em São Paulo, escreveu suas impressões a partir da escrita de Lorena. Fiquei encantado com o que li e pedi permissão para publicar aqui.
"Amado, era pra eu ter escrito logo depois porque, confesso, algumas impressões ja foram perdidas, mas vou tentar aqui retomar alguma coisa.
Minha mente subjetiva de psicóloga viajou nas sensações. E não foram poucas. As pernas de animal, me remeteram ao minotauro de Monteiro Lobato... imaginei o labirinto, me senti numa fábula... fiquei torcendo pro minotauro nao alcançar a presa.rsrs. Na verdade eu vi a peça toda como uma referência aos relacionamentos amorosos. Porque eu via o tempo todo os conflitos relacionais. Aquela coisa erótica, aliás é puro erotismo a peça...a luta eu achei super erótica. A respiraçao cansada de depois do sexo, depois da luta, foi fantástico. A guerra do amor! rsrs. O que me parecia eram duas pessoas que de tao iguais, tão complementos de si, em algum momento se estranharam. Parecia ser uma relaçao perfeita, que de tão perfeita, os dois procuravam problemas. Um começou a querer desafiar o outro, enfrentar. Aquela parte das pernas, eu via muito isso. Tipo, a gente ta junto, mas vai ser do meu jeito. Parecia um dialogo: "Eu quero que seja assim" e o outro: "Eu quero que seja assado". Na hora que vc fica se debatendo nas cordas sozinho e que Meia vai pro outro lado, eu senti um abandono, uma cólera terrivel em ser deixada. Aquela hora deu uma fisgada no meu coraçao. Uma dor de abandono. E o final, cada um vai procurar sua luz. Se iluminar à sua maneira, mesmo que de longe, ainda continuem se vendo."
Lorena Aragão (http://querendofalar.blogspot.com/)
Lorena, eu e Cléa num desses encontros inesquecíveis
Pelo relato de Lorena., imagino que o Corpo tenha tomado forma de acordo com o seu momento na ocasião da concepção do espetáculo. Mesmo que assim não fosse, inevitavelmente você iria fundo nas questões emocionais, porque você é todo emoção. Dedo na ferida. Sempre. Mergulho no poço escuro e fundo de nós mesmos. Revelar o que negamos, o que desconhecemos. Mexer, perturbar, tirar do eixo, desestabilizar. Você é provocador por natureza. Já nasceu assim. Vai morrer assim!
Me vi inteira no espetáculo. Vi minha vida retratada de maneira metafórica. Eu e a minha luta diária, não com o outro, mas comigo mesma. Emoção e razão disputando seu lugar dentro de mim. Eu e eu disputando espaço. Caminhando no desconhecido labirinto das emoções vagas e difusas. Mas também vi o "me reconhecer no outro" e me pertubar com isso. "Porque o inferno são os outros." E quando a gente se vê no outro de uma maneira que não nos agrada, e é obrigado a perceber que o outro também somos nós... isso perturba, enfraquece, desestabiliza. É como estar diante de uma esfinge, que te diz: -Decifra-me E te devoro! E ninguém quer ser devorado... então ficamos perambulando por estradas escuras onde não se sabe quem somos e nem pra onde vamos.
Tive vontade de chorar lendo o que Lorena escrevera. Nesse meu "momento" meio louco, já pertubada por emoções (des)conhecidas, foi desconcertante (assim como rever um grande amor rsrsrs...) "assistir" ao Corpo. Aumentou o meu desejo de ver essa criança nascer... eu, que de algum modo, ajudei a concebê-la. Mas a vontade de chorar também é de orgulho de ser tua... que torna o mundo mais bonito com sua poesia erótica e visceral. Você que torna tudo mais... quando se mostra ao mundo assim escancarado, verdadeiro, pura essência. És essencial pra mim.
Ah... o teu olhar melhora o meu."
Cléa Ferreira (http://epifaniasealumbramentos.blogspot.com/)
Lendo e lembrando de Maca: "Eu só sei é chover". Chovendo por aqui...
ResponderExcluirMeu amor. Minha saudade.
É uma honra a sua presença em nossas vidas. O Corpo é fabuloso, fabuloso! E nessa foto aí, é mutho amor e muitha saudade!
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