domingo, 19 de setembro de 2010

O defunto e o amor - entrevistas O Corpo Perturbador

Conheci Wili e Adriana quando estive em Itacaré para trabalhar no Projeto do Ar. Foram dez dias muito ricos e a convivência com este pessoal foi uma das melhores coisas que aconteceram nesse projeto. Os dois são casados e tem um filhinho. Para Wili um corpo que o perturba é de defunto, já para Adriana é o corpo de seu amado. Um tem uma visão negativa sobre a perturbação, a outra tem é positiva e ambos afirmam não se perturbarem com nada na vida.

Para ilustrar, poeticamente, estas opiniões trouxe dois poetas: Mario Quintana e Florbela Espanca.



Reflexão para o dia de finados

(Mario Quintana)

Morrer, enfim, é realizar o sonho
que todas as crianças têm...
O motivo? Só elas sabem muito bem:
Fugir... fugir de casa!




Volúpia
(Florbela Espanca)

No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frêmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade...
A nuvem que arrastou o vento norte...
- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...

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