Todo mundo tem um Dudu no quarto dos fundos. Se não tem, conhece alguém que tenha. Dudu é aquele membro que a família considera especial, mas é TÃO especial que vive escondido naquele quarto úmido e escuro no quintal das casas. Tão especial que quem não é da família nem sabe que existe. Talvez pela escuridão do lugar as crianças sentem medo de Dudu. Quando éramos pequenos, nós também tínhamos uma pessoa assim. Íamos visitar uns tios, compadres de nossos pais. Passávamos uma semana na casa e aquele quintal enorme virava tudo que queríamos. Havia um quartinho sempre fechado, porta velha, fechadura grande que se abria para o banho de balde demorado da Dudu daquela casa. Era uma menina que vivia lá. Dudu pode ser homem ou mulher, tanto faz. Minha memória não me deixa saber direito porque nunca mais voltamos àquela casa. Assim como o quintal enorme que na verdade deve continuar pequeno com a mangueira no meio, Dudu deveria ser muito mais velha do que nós, mas cuidada como pessoa nova. Enquanto brincávamos na mangueira, minha atenção ficava voltada o tempo todo para o banho, o arrumar o cabelo, a camisola de algodão com rendinhas nas mangas e os dentes projetados na dentuça da Dudu. Quando ela comia deixava cair as coisas pelo canto da boca e até hoje fico com nojo ao lembrar daquela baba com comida que também grudava nos dentes da frente. Enfiavam uma toalha grande na gola do vestido para não sujar a roupa sempre limpa. Dudu vivia asseada, no capricho. Mas... Dudu vivia? Ficava o tempo todo trancada naquele lugar e o único horizonte que via eram essas crianças brincando de subir e descer naquela árvore. Sempre me coloco no lugar de algum Dudu quando penso no pequeno daqui de casa. Quando ele crescer e eu não mais estiver aqui, como será que ele lembrará de mim? Sentado na cadeira de rodas pedindo água? Dançando Odete, Judite ou O Corpo? Brincando de roda com ele? Conheci outros(as) Dudus pela vida a fora e, o fim de todos, nós já sabemos. Eu poderia ter sido um Dudu na minha casa, mas alguma coisa mudou essa história.
Você nunca seria um Dudu. Você nasceu iluminado!
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