quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Casa de Massagem III - Marcus Gusmão (MICROCONTO DEVOTEE)

O que mais gostei dessa brincadeira do concurso de Microcontos Devotees foram as trocas e colaborações dos amigos que embarcaram comigo nisso. Hoje publico o microconto escrito por Marcus Gusmão, um e-amigo que meu outro blog, Monólogos na Madrugada, me deu. Adoro visitar seu Licuri, a forma de sua escrita, o conteúdo, a sensibilidade. Fico muito grato e honrado com mais este presente.

Por email, ele me explicou sua inspiração:

"Edu,
Fiz um microconto sequência dos dois de Herculano. Um terceiro ponto de vista do mesmo conto, exatamente do mesmo tamanho dos outros dois. Veja com ele se ele aprova, veja se você aprova. Caso aprovem, podem publicar". Marcus Gusmão

Encaminhei a Herculano Neto, autor dos microcontos Casa de Massagem I e II e tive esta resposta:

"Edu,
Muito bacana esses diálogos entre microcontos.
Percebi que parte do público desconhecia do que se tratava, mas recebeu super bem os textos. E no que depender de mim está mais do que aprovado, e que venham outros.
Hneto"

Segue então o conto:

Casa de Massagem III
Marcus Gusmão (terceiro ponto de vista sobre o conto de Herculano Neto)

Enxuguei as mãos, joguei o avental na pia e fui para o depósito. Cheguei a tempo ao meu posto de observação, uma fresta na junção das madeiras da janela do quarto dos fundos. As garotas sabiam quando eu estava ali, mas desta vez não teve a piscadela de sempre. Ela se concentrou em tirar a roupa do cara. Muitas vezes fazia isso com aqueles que achavam estar o serviço incluído no preço. Neste caso era necessidade.

Moro em Alagoinhas e para mulher e filhos justifico Salvador todo fim de semana com uma pós-graduação. De fato, faço o curso, já é o terceiro. Mas à noite trabalho quase de graça numa casa de massagem, como barman.

De repente só havia o corpo dela de costas para mim, agachada de quatro, com os cotovelos apoiados no colchão. Aquela posição era a melhor, dava pra ver todos os movimentos. Mas desta vez não havia outras pernas nem outras mãos. Do cara eu só via a cabeça apoiada sobre o travesseiro. E os olhos. Toda a energia daquele corpo se concentrava nos olhos e na pélvis totalmente envolvida, calçada por outro travesseiro. Parecia um gato comendo um passarinho.

Estava acostumado a olhar. Muitas vezes era só um olhar um pouco febril. Mas desta vez senti a febre mais alta, da nuca para a cabeça. Respirava no ritmo daqueles dois, ritmo intenso, cadenciado, seguido também por minha mão direita. Lá pelas tantas ela virou o pescoço e finalmente me saudou. Notei um sorriso diferente no seu rosto. Gozamos os três quase ao mesmo tempo.

Um comentário:

  1. Edu, saiu uma coisa esquisita inspirada por essa sua loucura...rs

    Veja se tem a ver. Se não tiver, simplesmente delete. Abraços.

    "Lá fora a chuva caía de forma intermitente. No silêncio do meu quarto eu contemplava mais uma vez aquele corpo nu. Via no rosto a expressão de uma vida inteira roubada pela pólio. Naquelas pernas definhadas pelo esquecimento a inércia convidava ao toque macio das mãos. Os braços estendidos pareciam sussurrar “entra no meu mundo, carrega-me para sempre”. Mas, do lado de cá do espelho, a cadeira de rodas era real demais e eu jamais consumei aquele amor-(im)próprio."

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