segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O Adeus - microconto de Luli Facciolla

E lá estava ela, largada ao sofá, rosto lavado em lágrimas, peito dilacerado em dor.

Havia pensado em tudo: lingerie vermelha sob um vestido curto que permitia mostrar as pernas, comida pronta e levemente picante, vinho seco e gelado na medida e a meia luz dando o toque final àquele encontro romântico de despedida. Seria a última vez.

Ele entrara com um chute de arrebentar a porta. Sem palavras tomara do vinho aos goles ainda no gargalo, cuspira na comida e jogara, puxando a toalha, tudo ao chão.

A empurra pelas costas fazendo com que debruce sobre a mesa, arranca-lhe a calcinha com brutalidade. Come-lhe o cu e sai ainda ajeitando o membro, agora flácido, nas calças.

Havia pensado em tudo, mas não tinha braços e, portanto, não haveria de ter um último gesto, o gesto de adeus.
 
Luli é uma amiga que ganhei de presente do Monólogos na Madrugada. Temos tanta coisa em comum que as vezes escrevemos, no mesmo dia, coisas semelhantes em nossos blogs. Se já era uma delícia ter a companhia de Luli nas minhas madrugadas virtuais, foi melhor ainda conhecê-la pessoalmente, primeiro nas minhas apresentações depois numa farrinha boa que fizemos. Ela me prestigia desde Tempête e conheceu Odete e Judite. E me escreve coisas lindas. E agora está aqui me presenteando com este microconto surpreendente.
 
Visitem seu blog que tem coisas lindas: http://aindaconto.blogspot.com/

2 comentários:

  1. Adeus nem sempre carece de gestos,
    às vezes basta o silêncio.
    E o silêncio e a solidão final é o
    que mais me agradou
    nesse texto.

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  2. Mais uma vez, obrigada!

    E obrigada à Herculano!

    Beijos

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