Estou ainda e acho que vai demorar um pouco para me acostumar com a idéia do “sem excessos”. Muitos amigos me falam, no intuito de ajudar, que as coisas chegam para aprendermos, e foi assim que aconteceu para que eu aprendesse a ser comedido. Agradeço, finjo que concordo, mas acho uma baita de uma sacanagem da vida, de Deus, de sei lá o que, querer me controlar. Nunca me faço/fiz de coitadinho, até mesmo porque não sou, mas essa história de aprender com o sofrimento é de um ranço cristão desgraçado que nunca aceitei em mim.
Vamos do início.
Gostaria de entender quem fala isso para poder até mesmo eu me ajudar. Peguei uma Poliomielite quando tinha 1 ano de idade, fui uma criança que teve todo tipo de doença: sarampo, papeira, gripes constantes, asma, catapora etc etc etc, visitei muito hospital, fiz cirurgia de hérnia aos 5 anos, aos 8 estava longe dos meus operando no Sarah de Brasilia etc etc etc. O que mais eu devo aprender agora com esta diverticulite?
Pelo que me consta é o meu jeito alegre, exagerado, gargalhada farta, fanfarrão, bem humorado, engraçadinho o que junta pessoas ao meu redor, me faz ter muitos amigos. Por que então uma doença chega para me dizer que eu tenho que maneirar? Estou recebendo um castigo por ser assim? Não, não aceito isso como castigo e nem acho que vou aprender a ser comedido dessa forma. Não é isso que vai me controlar porque o exagero sou eu, a gargalhada é o que mais me traduz. Gargalhada aqui entendida como o auge do descontrole, o máximo da espontaneidade, o absurdo de achar graça de tudo, até mesmo das próprias desgraças.
Precisei desde pequeno a aprender a viver assim, a ser alegre, a ser forte, a vencer. Agora me vem uma rasteira dessa? Vá tomar no cu! No meu de preferência.
Quando choro porque não posso comer isso, não posso beber aquilo, não é por causa da comida ou bebida que choro, é pela mudança drástica de estilo de vida, é porque de agora em diante terei que ser moderado em todas as situações. Para qualquer outra pessoa pode parecer exagero meu, afinal não é tão grave assim. Conheço poucas pessoas que escolheram ou são do jeito que escolhi ser/sentir, sempre fui o último a ir para casa, sou daqueles que a saideira não acaba nunca, sou daqueles que chora por causa de um beija-flor e amo demasiadamente e sofro e rio e me acabo para no outro dia me reestabelecer.
Agora ta demorado, ta difícil levantar de manhã e pensar que se um dia Cléa vier de São Paulo eu não poderei chorar mais daquele jeito na sarjeta perto de casa, se eu for a Berlin com Tony nunca mais poderei amanhecer o dia no Roses e emendar com a cerveja na hora que acordar, nunca mais um Reveillon em Diogo dançando no chão com Mirella e B, saindo correndo de cadeirinha pro mar, nunca mais uma Parada com Ed em Buenos Aires, Lavagem aqui em casa com Priscila ou até mesmo simplesmente querer comer 2 acarajés e um abará de Ana como todo mundo mais quieto de Sto Amaro faz. Nunca mais véspera de lavagem amanhecendo em Itapema. Nunca mais carne de fumeiro de Makiba. Nunca mais dias seguidos em geraldo com Cate. Noites Pretas com Zunk.
Aí me pergunto. Nunca mais é até quando? Se é pra ser assim, tenho certeza que adiantarei bastante esse nunca mais, só espero que seja sem dor.
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